CNI diz respeitar decisão de Bolsonaro de acabar com pasta da Indústria

Robson Braga de Andrade, presidente da confederação, fez aceno positivo ao futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, depois de trocas de farpas públicas

© José Cruz/Agência Brasil 

Economia Mudança 08/11/18 POR Folhapress

Depois de trocas de farpas públicas, Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), fez um aceno em direção ao futuro superministro de Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes.

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O líder empresarial nega que mudou de posição e que diz que segue defendendo que o ministério da Indústria não seja incorporado a nova pasta, mas afirma agora que "respeita" a decisão do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

"Se ele disser que a estrutura de governo necessária para fazer o que pretende é juntar os ministérios da Indústria e da Fazenda, eu vou trabalhar junto com ele", afirmou à Folha de S.Paulo.

Questionado se Guedes seria a pessoa ideal para atender os interesses dos empresários, Andrade respondeu que a indústria quer um governo "liberal" e que o economista já declarou algumas vezes que deseja "soltar as amarras dos empreendedores".

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"Se o Paulo Guedes tiver um olhar mais firme, na direção da indústria, do que apenas fiscal e tributário, nós vamos gostar muito", completou o empresário. A seguir trechos da entrevista concedida na tarde desta quarta-feira (7) por telefone.

Quais são suas expectativas em relação ao novo governo?

É muito positiva. É um governo com apoio popular grande, uma bancada importante na Câmara dos Deputados e tem pessoas corretas e bem conceituadas tecnicamente. Mesmo sabendo da dificuldade do Brasil para voltar a crescer, porque nem tudo depende só do governo, a expectativa é de que ele vai ter um capital político importante para fazer as mudanças necessárias.

Como deve ser a relação do presidente eleito com o Congresso?

Tudo é um aprendizado. O partido do presidente fez uma bancada expressiva -mesmo de pessoas novatas- e o próprio Congresso quer ajudar o país a resolver os seus problemas.

O que tenho sentido do ministro Onyx [Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil] é que o governo vai ter um relacionamento com os partidos políticos no Congresso que não vai ser baseado numa troca-troca de cargos, e, sim, no que precisa ser feito na economia.O senhor já se manifestou contrário ao fim do ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Pode explicar melhor essa posição?

A indústria está sendo fortalecida pelos governos ao redor do mundo por sua importância na arrecadação, geração de empregos e etc. Nos Estados Unidos, o governo de Donald Trump fortaleceu o Departamento de Comércio, que é quem cuida dos assuntos industriais por lá.

O meu receio é colocar um departamento de indústria dentro da mesma estrutura que vai cuidar de arrecadação, política tributária e fiscal. Defendo essa posição de forma transparente, mas como já disse a pessoas do próximo governo, a partir do momento em que o presidente disser que "vai ser assim", vamos trabalhar da forma que o governo vai conduzir.

O senhor está mudando de posição?

Não. A nossa posição é trabalhar para que a indústria brasileira possa crescer, desenvolver e ajudar o Brasil a mudar de patamar. Todas as propostas que fizemos durante a campanha eleitoral e depois para o presidente Bolsonaro foram: estamos aqui para contribuir e ajudar.

Mas é claro que respeitamos a decisão do presidente da República. Se ele disser que juntar os ministérios da Indústria e da Fazenda é a estrutura de governo necessária para fazer o que pretende, eu vou trabalhar junto com ele. Apesar de continuar achando que fosse melhor se estivesse separado.Nesta terça-feira (6), a Firjan (Federações das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) soltou uma nota a favor da criação do superministério da Economia.

Existe uma divergência na indústria?

Teve até um mal-entendido nessa nota. Eles falam que menos de 10% dos países do mundo tem um ministério da Fazenda separado do Planejamento, o que é verdade. Mas, normalmente, nos maiores países, os departamentos de indústria e comércio estão separados.

Enfim, essa é a posição do Eduardo Eugênio (presidente da Firjan) e, claro, temos divergências também. Eu acredito que fortalecer a indústria é incentivar o desenvolvimento do Brasil. Não há país forte sem indústria forte.

O senhor considera que o futuro ministro Paulo Guedes, conhecido por sua visão liberal da economia, é uma pessoa adequada para defender as questões da indústria?

O ponto não é ter uma formação liberal. O que nós queremos é um governo liberal. Não queremos um governo centralizador, com uma participação elevada na economia, até porque a concentração de poder na mão do Estado gera questões éticas.

Portanto, um governo que incentive o desenvolvimento de empreendedores é o que nós queremos. E o Paulo Guedes tem colocado de maneira clara que quer tirar as amarras do desenvolvimento para que o país possa crescer.

Se o Paulo Guedes tiver um olhar mais firme na direção da indústria do que apenas fiscal e tributário, nós vamos gostar muito. Temos ouvido muitas declarações sobre reforma da previdência, mas não temos ainda -até porque está cedo- a definição sobre política industrial e de comércio exterior.

Guedes disse recentemente que "vai salvar a indústria apesar dos industriais" e que o setor está "entrincheirado". Qual foi a repercussão dessas declarações na indústria?

Não vou comentar declarações específicas. Imagino que o que ele quis dizer é que o governo vai procurar salvar a indústria. Agora para salvar a indústria tem muito a ser feito: reforma tributária, desburocratização, investimentos em ciência e tecnologia, modernização da infraestrutura.

É um conjunto de pontos que entendo que o ministro tem intenção de trabalhar. Nós, industriais, estaremos do lado dele para ajudar que essas medidas sejam implantadas. Isso não é algo que pode ser feito pelo governo sem ajuda do setor industrial e dos parlamentares.

Com a criação de um superministério da Economia, diminui o número de membros de alguns órgãos colegiados como a Camex (Câmara de Comércio Exterior). O senhor tem receio de um esvaziamento da Camex?

Nós sempre defendemos que a Camex deve estar subordina à Presidência da República dada a sua importância. Agora o secretário-geral da Camex pode ser qualquer um dos ministros: Economia, Relações Exteriores...

Temos que observar como vai ficar a estrutura e a governança da Camex. Se tivermos dentro do ministério da Economia departamento distintos de Fazenda, Planejamento e Indústria, vai ser preciso definir se apenas um desses departamentos terá assento na Camex. Acredito que pelo menos dois -Fazenda e Indústria- precisam ter assento na Camex.

A equipe econômica do presidente eleito vem apoiando maior abertura da economia, para incrementar a competitividade. Qual é a sua opinião?

Nós somos a favor da abertura da economia, porque aumentar o comércio internacional é salutar para o desenvolvimento e a sociedade. Agora acreditamos que a abertura comercial deve ser feita através de acordos com os demais países.

Nos últimos anos, o Brasil avançou nessa área, fechando diferentes tipos de acordo com México, Colômbia e até com os Estados Unidos. Sobre marcas e patentes, fizemos acordos com Japão, Alemanha e Espanha. Estamos negociando um acordo de livre comércio com a União Europeia.

O que somos contra é uma abertura unilateral, porque o país reduz as suas tarifas sem dar nada em troca. Por que fazer isso? Dizem que vai aumentar a competitividade da indústria. Na verdade, pode acabar com alguns segmentos.

Outra crítica do novo governo é em relação ao Sistema S. Existe uma sugestão de privatizar a área de ensino. A princípio, uma empresa privada pode ter melhor capacidade de gestão do que as federações empresariais?

Eu não falo pelo sistema S, porque represento apenas o Sesi e o Senai. Temos 100% de transparência das contas dessas instituições: número de escolas, vagas, alunos, profissionais, nível de remuneração, contratos, licitações, julgamentos do TCU. Enfim, tudo.

Às vezes existem dúvidas, porque temos um orçamento cruzado: 60% da receita total entra no departamento nacional e uma parcela volta para os Estados, em proporção maior para os estados com menos arrecadação do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Na Amazônia, por exemplo, temos dois navios que fazem capacitação de jovens. Além disso, 77% dos alunos do Senai tem gratuidade. Logo existe uma função social. O Senai é bem avaliado pela sociedade, pelos empresários e até pela ONU.

Mas existe uma taxa de administração que vai do Senai para as federações e confederações e o orçamento dessas entidades não é transparente...

Sim, tem 2% dos recursos do Senai que vai para a CNI e para as federações. No Sesi, é 4%. Esses recursos pagam toda a gestão que envolve o Sesi e o Senai: jurídico, comunicação, gestão financeira, auditorias.

Não sei se você sabe, mas os presidentes da federação e da CNI não têm remuneração. Agora, os executivos, é claro que recebem. Temos funcionários que fazem pesquisa, que negociam convênios.

Concordo com você que nessa parte falta transparência, mas posso abrir os orçamentos da confederação, das federações e mostrar onde os recursos são investidos. Estamos desenvolvendo um sistema para tornar esses dados públicos.

Nos últimos dias, Guedes disse que o Mercosul não será prioridade, houve o cancelamento pelo Egito de uma missão comercial brasileira, e os chineses também estão reclamando. Não é uma política externa ideológica com outro viés?

Com relação a questão dos árabes, é um mercado muito importante para nós: agroindústria, vestuário, etc. Houve um problema político por causa da transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém.

O presidente Bolsonaro deu uma declaração de que quem deve definir onde ficam as embaixadas é Israel - faz sentido. Mas essa é uma questão política que vai se acertar, não é isso que vai interferir nas relações comerciais entre o Brasil e os países árabes.

Sobre o Mercosul, é um mercado importantíssimo para nós. A Argentina representa 25% das exportações brasileiras de manufaturados. Às vezes o bloco atrapalha as negociações de comércio, mas, por outro lado, ajuda na hora de dividir as responsabilidades.

Já a China, embora importante para agroindústria e mineração, não é um mercado relevante para toda a indústria. Os chineses são muito agressivos no comércio internacional. Portanto, é importante rever, sim, essa relação. Com informações da Folhapress.

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