© Reuters / Nacho Doce
Tiago Henrique da Silva, o jornalista brasileiro detido com outros dois colegas pelo Exército venezuelano na última segunda-feira (12), afirma que o grupo foi confundido com espiões pelos militares, que disseram suspeitar que eles estavam colhendo informações na fronteira como parte de um complô para invadir o país.
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Tiago, 31, foi abordado por um militar quando entrevistava imigrantes na zona neutra na fronteira entre os dois países. Ele estava acompanhado de uma técnica de som brasileira e um diretor espanhol, que gravavam um documentário.
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Segundo seu relato, os três foram interrogados, tiveram suas câmeras e celulares revistados e foram obrigados a passar a noite em condições precárias em uma base militar da cidade de Santa Elena, no lado venezuelano. Foram liberados no dia seguinte, após 18 horas.
"Eles falaram que desconfiavam de que havia um complô entre Espanha, Colômbia e Brasil para uma intervenção militar na Venezuela. Disseram que havia um drone colombiano sobrevoando aquela base militar, que tinham atirado nele", conta o brasileiro.
De acordo com Tiago, um dos cartões de memória da técnica de som que o acompanhava trazia trechos de um documentário institucional que ela havia feito no passado para uma empresa de petróleo colombiana, e isso foi motivo de desconfiança. "Ela também havia visitado a Espanha, e o diretor do filme, que estava com a gente, é espanhol. Os militares associaram esses fatos e perguntaram se havia esse complô", conta.
Até a carteira de trabalho do brasileiro, em que havia um registro antigo dele como operador de telemarketing, foi motivo de questionamento. "Confundiram e ficaram perguntando se eu era engenheiro de telecomunicações", diz. " Foram bem incisivos. A situação só não ficou pior por causa da minha credencial de jornalista."
Natural de São Paulo, mas morador do interior de Pernambuco, Tiago é freelancer e apurava sua reportagem para a Late, revista especializada em América Latina. A publicação divulgou uma nota informando a detenção dos jornalistas e sua libertação posterior.
Tiago diz que, mesmo sem ter resistido e tendo colaborado, o grupo foi maltratado. "Nos colocaram nos colchões mais velhos que tinham, com cheiro de urina. O soldado que nos vigiava parecia instruído para não nos deixar dormir. Toda vez que alguém pegava no sono, ele batia na parede com um pedaço de pau, ligava o rádio ou falava alto", lembra. "A comida que nos serviram estava estragada", completa.
Também tiveram que mostrar imagens, gravações e mensagens de WhatsApp em seus celulares para mais de um chefe da base e foram obrigados a apagar duas fotos da câmera -imagens do interior de um posto de gasolina da PDVSA (companhia de petróleo venezuelana), explica.
Eles puderam manter seus telefones, mas não conseguiram se comunicar com ninguém de fora porque não havia sinal no interior da base.
"O pior era a sensação de que poderiam fazer algo de ruim contra nós. Falavam que a gente iria embora a todo momento, mas isso nunca acontecia", conta.
No mesmo dia de sua detenção, Tiago afirma que foi abordado por soldados brasileiros em Pacaraima, RR, quando tentou fotografar o Exército revistando moradores. "Mesmo mostrando minha credencial de imprensa, não me deixaram trabalhar e se recusaram a me responder o motivo da abordagem." Com informações da Folhapress.