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Quatro membros do governo da primeira-ministra britânica, Theresa May, pediram demissão na manhã desta quinta-feira (15) por discordarem dos termos do acordo para o "brexit", a saída do Reino Unido da União Europeia, discutido na véspera em reunião de mais de cinco horas.
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As baixas lançam dúvidas sobre a viabilidade do documento e sobre a sustentabilidade do próprio governo May.
Em entrevista no fim da tarde, entretanto, a chefe de governo buscou exibir resiliência. Disse que a forma como conduziu as tratativas foi a correta, porque honrou o plebiscito de 2016 (em que a maioria escolheu se desligar da Europa) e pôs o interesse nacional em primeiro lugar.
"Liderança não envolve tomar as decisões fáceis, mas sim as certas", afirmou, visivelmente nervosa e cansada. "Acredito com cada fibra do meu corpo que esse é o melhor acordo. Vou até o fim."
Durante o dia, a imprensa britânica noticiou que May poderia ter seu status de chefe de fileira conservadora contestado por correligionários -basta que 48 deles redijam cartas colocando em questão seu comando para que um voto de desconfiança seja convocado no Parlamento.
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Para que seja removida do cargo, 158 dos 315 parlamentares de seu campo precisariam se opor a ela.
O principal nome a se afastar do gabinete na quinta foi Dominic Raab, justamente o secretário (como são chamados os ministros no Reino Unido) responsável pelo "brexit". Trata-se do segundo titular da pasta a renunciar em quatro meses. Jovem e ambicioso, é apontado como possível sucessor da agora ex-chefe.
Seu antecessor, David Davis, saiu em julho depois de a chefe anunciar a proposta dela para evitar o restabelecimento de uma "fronteira dura" (com controle rígido de mercadorias) entre as Irlandas, caso as partes não definissem sua relação comercial pós-"brexit" antes do fim de 2020: uma união aduaneira cobrindo o bloco europeu e todo o Reino Unido.
O "brexit" está agendado para 29 de março de 2019. O que vai até o fim do ano seguinte é o chamado período de transição para que os dois lados terminem de negociar.
O acordo fechado por negociadores britânicos e europeus prevê que, em julho de 2020, as partes decidam se a transição vai ser estendida (o texto não fixa prazo máximo) ou se, a partir de 2021, entra em vigor a união aduaneira.
A decisão sobre a extinção do dispositivo deve ser feita em conjunto, o que desagradou defensores do "brexit", que pleiteavam a hipótese de retirada unilateral.
Eles também se queixam das cláusulas que "prendem" o Reino Unido ao mercado comum europeu mesmo após o desligamento britânico, a saber, a necessidade de seguir normas e leis sobre ambiente, direitos trabalhistas e ajuda estatal que venham a ser aprovadas pelo bloco. Reside nessa ligação pós-"brexit" uma das principais razões de Raab e de colegas para renunciar.
"Nenhuma nação democrática concordou alguma vez na história em se submeter a um regime tão extensivo, imposto de fora para dentro sem qualquer controle democrático sobre leis a serem aplicadas e sem a possibilidade de decidir sair desse arranjo, escreveu o secretário, em sua carta de demissão.
Para ele, o fato de esse projeto de união aduaneira ser tomado como ponto de partida para a negociação sobre a relação comercial futura com a Europa "prejudica severamente o Reino Unido".
"Não consigo conjugar os termos desse acordo com as promessas que fizemos ao país em nosso manifesto nas últimas eleições [em junho de 2017]. No fundo, essa é uma questão de confiança pública [no governo]", finalizou.
A outra secretária a renunciar foi Esther McVey, do Trabalho e da Previdência. "Fomos do discurso de 'ausência de acordo é melhor do que um acordo ruim' para o 'qualquer acordo é melhor do que um não acordo'", escreveu em sua carta de demissão. "Não posso defender isso nem votar a favor desse acordo."
Houve ainda duas baixas entre subsecretários, das pastas do "brexit" e de assuntos ligados à Irlanda do Norte.
Também na quinta, Theresa May foi ao Parlamento defender seu plano e responder a perguntas dos legisladores.
Um de seus principais antagonistas, o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, classificou o documento apresentado de "fracasso enorme e prejudicial" e disse que o governo estava "em situação caótica".
"A escolha é clara. Podemos escolher sair [da UE] sem acordo, podemos arriscar simplesmente não sair ou podemos optar por nos unir e apoiar o melhor acordo que é possível negociar", sustentou May.
Ao longo de três horas, ela ouviu reiterados pedidos para a convocação de nova consulta popular sobre o "brexit" e rechaçou esse cenário.
"Os principais efeitos da saída da União Europeia esperados pelas pessoas estão contemplados no acordo: o fim da livre circulação de pessoas e da jurisdição do Tribunal Europeu de Justiça [sobre o Reino Unido] e o envio de menos dinheiro à UE", concluiu a conservadora.
Do lado europeu, os negociadores do "brexit" sinalizaram que não há margem de manobra para ajustes no texto acordado, "o melhor a que conseguimos chegar". Com informações da Folhapress.