Novo clipe da banda Teto Preto ataca religiosos e conservadores

O lançamento das oito faixas de "Pedra Preta" revela o amadurecimento do Teto Preto

© Divulgação

Cultura underground 21/11/18 POR Folhapress

Mergulhar numa semana árdua de gravações foi o jeito escolhido pela banda ativista Teto Preto para lidar com o resultado conservador das eleições presidenciais. "Queríamos incomodar, mostrar que estamos presentes. É um recado: a arte está viva, nossa arma é nosso corpo" declara Loïc Koutana, performer franco-congolês integrante do grupo que lança nesta quinta (22) o clipe de "Pedra Preta", faixa que batiza o disco lançado no selo Mambarec. 

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Com artistas transexuais, o vídeo é aberto em imagens do incêndio no Museu Nacional. A partir daí, a trupe encabeçada pela vocalista Carneosso ateia fogo nos valores tradicionais da família ao mostrar uma noiva em fuga de um casamento.  

Apoiada pelas madrinhas, ela ainda estica uma "cinta-pênis" de 15 metros, cujo ápice é uma castração em meio a uma suposta igreja neopentecostal. Voam tresloucadas animações penianas.

Na trama novelesca ainda há espaço para um aborto da mocinha, em referência ao episódio da Grávida de Taubaté, em que o país acreditou na história de falsos quadrigêmeos.

Toda essa epifania é para uma música que fala sobre "romper amarrações de amor". O local do casório é a Casa do Povo, espaço cultural no bairro paulistano do Bom Retiro. O vídeo é resultado de parceria com a produtora Planalto e foi gravado na semana seguinte à eleição do presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a declaração da banda sobre a composição de "Pedra Preta", feita por Carneosso e André Sztutman, trata-se de  um grito, um aborto verde-amarelo, um ritual de celebração do que vivemos e acreditamos".

Originário das festas undergrounds do coletivo Mamba Negra, em espaços abandonados da cidade, o Teto Preto começou de maneira improvisada com performances "jam session" em meados de 2015, quando contava com o músico L_cio na formação. Carneosso é o codinome da ruidosa vocalista Laura Diaz, atriz com passagem pelo Teatro Oficina, formada em audiovisual na USP, após ter sido presa durante a ocupação da reitoria da universidade em 2007. Além de Koutana, complementam a escalação o exímio instrumentista Zopelar (sintetizadores/bateria eletrônica), Savio de Queiroz (sintetizadores/bateria eletrônica) e William Bica (percussão/trombone).

Sem anestésicos, as letras da banda são tapas no conservadorismo, entrelaçadas por referências à contracultura e Boca do Lixo, transitando do cinema novo à vanguarda paulistana. As performances são um incentivo à desordem, atestado no hit do EP "Gasolina" (2016), que fez a banda sair dos galpões e chegar nos principais festivais, como Recbeat, Bananada, Dekmantel, DGTL e ainda uma transmissão histórica no programa inglês de "streaming" Boiler Room.

No palco, Laura Diaz canta com a púbis exposta, munida de figurinos sufocantes da estilista Fábia Bercsek que mostram o corpo de forma perturbadora. Em 2017, o grupo conquistou o prêmio de Melhor Direção Nacional do Music Video Festival com o clipe de "Gasolina", além de participações da faixa no filme "Corpo Elétrico" (2017), de Marcelo Caetano, na peça "Quando Quebra, Queima!", da Coletiva Ocupação e na música "Mãe Gentil", do novo disco da cantora Marina Lima, que virou uma espécie de madrinha da banda no mundinho mais tradicional da MPB.

O lançamento das oito faixas de "Pedra Preta" revela o amadurecimento do Teto Preto, que evoluiu para atual formação de banda mais afeita ao rock e noise, flertando pesado com industrial, dub, disco e new wave. Mas sem deixar de surpreender ao misturar elementos do techno ao jazz, apimentados por brasilidades, que é característica essencial.

A temática feminista de "Pedra Preta" é uma evolução do lançamento anterior, o clipe de outra faixa do disco, a "Bate Mais", sobre a impunidade dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e da artista não-binária Matheusa. Com informações da Folhapress.

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