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Nas últimas semanas, milhões de estudantes brasileiros prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) buscando a sonhada vaga em uma universidade pública ou até mesmo uma bolsa de estudo nas particulares. Na Itália, tanto a escola quanto os meios de ingressar no Ensino Superior são bem diferentes do sistema brasileiro. Para começar, o ciclo escolar italiano dura um ano a mais do que aqui, além de oferecer a possibulidade de uma especialização no Ensino Médio. Enquanto os brasileiros terminam a escola com 17 anos, os italianos só saem aos 19.
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Chamado de "Scuola Superiore", o Ensino Médio tem duração de cinco anos e inicia geralmente quando o aluno completa 14 anos de idade. Esse ciclo corresponderia, no Brasil, ao período do 9º ano do Ensino Fundamental II ao 3º ano do EM. Antes do Ensino Médio, os estudantes cursam a "Scuola Media", que tem duração de três anos. Nesse período, os estudantes realizam atividades de orientação e recebem delegações de professores de Ensino Médio, os quais apresentam as escolas, os cursos e que tipo de ensino é praticado em cada instituição.
Entre as opções de escolas para o Ensino Médio, estão os liceos, sendo o científico e o clássico considerados os mais tradicionais. Há também o musical, o artístico e o linguístico. Outra alternativa são os institutos técnicos que, diferentemente dos liceos, onde o ensino é basicamente teórico, os alunos têm o estudo aplicado a profissões práticas.
Em entrevista à ANSA, o jovem Jacopo Varallo, de 23 anos, que estuda Direito na Universidade de Milão, afirmou que essas possibilidades "permitem fazer algo que você goste" antes de escolher a graduação. O tipo de liceo, porém, não interfere na escolha do curso universitário, nem exclui o estudo de matérias básicas do sistema de ensino italiano, como literatura, latim e matemática.
Angela Angoretto, coordenadora do Departamento de Italiano do Colégio Dante Alighieri, de São Paulo, é um exemplo desse tipo de ensino. Ela cursou o liceo científico, que tem foco nas ciências exatas, como física e química, mas optou por estudar Letras na faculdade. Segundo ela, que hoje vive no Brasil, as escolhas do Ensino Médio não te proíbem de mudar de ideia e seguir outros caminhos. "Não é uma escolha autoritária", comentou.
Ao terminar o "Superiore", os italianos realizam nacionalmente o exame de "maturità", que conclui o ciclo de estudos do Ensino Médio e é indispensável para ingressar na universidade. Então, dependendo da faculdade escolhida, os italianos devem fazer vestibular ou não.
O que acontece é que a maioria dos cursos das universidades têm "accesso libero" (acesso livre), ou seja, basta se matricular e começar os estudos. Assim foi com Varallo e com tantos outros italianos.
Mas o vestibular não deixa de existir também na Itália. Os cursos com "numero chiuso" (número fechado, na tradução livre), que geralmente são os da área de saúde, como odontologia, medicina e medicina veterinária, devido à procura elevada, realizam exames de admissão que funcionam do mesmo jeito que os vestibulares brasileiros, cobrando aquilo que foi estudado ao longo da carreira estudantil dos alunos.
Com a lei brasileira nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que ampliou o Ensino Fundamental para nove anos de duração, o sistema no país passou a contar 12 anos no ciclo, assim, o ingresso de brasileiros nas universidades italianas se tornou mais viável. Antigamente, era obrigatório que fosse feito um ano de faculdade no Brasil, a fim de completar os 12 anos de estudo, para que então pudesse ser feito o pedido de estudar em uma universidade italiana. "O governo italiano hoje em dia libera o acesso de brasileiros às universidades", confirmou Angoretto.
Diferentemente do Brasil, as universidades públicas na Itália são pagas, e os valores geralmente variam dependendo da renda familiar, que é analisada pelos órgãos responsáveis. Os estrangeiros costumam pagar uma taxa anual fixa em torno de 500 euros. O Ministério das Relações Exteriores italiano (Ministerio degli Affari Esteri e della Cooperazione Internazionale), através de programas de fomento da cultura italiana no mundo, oferece diversas bolsas para estudantes estrangeiros, em diferentes níveis da graduação, que chegam a custear a passagem, estadia e manutenção do aluno no país. Nos sites das próprias universidades, também há editais de ofertas e bolsas para estudantes de fora do país.
"A maior diferença entre os sistemas de ensino do Brasil e da Itália é a cultura, o estudo da história através da arte e das pinturas, a formação do aluno como um todo", disse Angoretto. Segundo ela, o ensino brasileiro é muito pautado nas provas que levam os alunos à faculdade do que verdadeiramente na formação desse estudante. "Aqui o foco é o vestibular", afirmou. Com informações da Ansa.