© REUTERS / Henry Romero (Foto de arquivo) 
ALEX SABINO E BRUNO RODRIGUES - Na primeira vez que pisou em La Bombonera como jogador do River Plate, em 1985, Oscar Ruggeri encontrou uma faixa pendurada na arquibancada. "Ruggeri tem câncer."
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O zagueiro, que no ano seguinte seria duas vezes campeão mundial, uma pelo próprio clube e outra pela seleção argentina, havia feito algo que hoje seria impensável: saiu do Boca Juniors para ir ao River Plate. Se tivesse feito o caminho inverso, a reação não seria muito diferente.
A mensagem era dura, mas não foi o pior que lhe aconteceria por causa da mudança. "Foi um dos superclássicos mais marcantes que participei. Ganhamos por 1 a 0 e no final, meus companheiros me levantaram nos ombros em frente à arquibancada. Aquilo foi inesquecível", se lembra o zagueiro, hoje comentarista da Fox Sports da Argentina.
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Neste sábado (24), às 18h (de Brasília), as duas equipes fazem a partida de volta da final da Libertadores no Monumental de Nuñez. Na ida, houve empate em 2 a 2.
Naquele 1985, era previsível que sairia do Boca Juniors, onde havia sido campeão nacional em 1981. Não esperava-se que fosse para o River Plate. "Falam de mim, mas eu não fui o único", completa.
Brigados com a diretoria, ele e Ricardo Gareca, atual técnico da seleção peruana, trocaram La Bombonera pelo Monumental de Nuñez. Em troca, o Boca Juniors recebeu Chino Tapia e Olarticoechea.
É uma negociação tão improvável nos dias atuais que não acontece há 11 anos. O último jogador negociado de forma direta entre os dois rivais foi o atacante Sebastián Rambert, que trocou o Boca pelo River em 1997.
"É algo impossível de acontecer atualmente", ele admitiu em entrevista ao diário Olé, de Buenos Aires. Uma faixa dizendo que ele estava com câncer não foi o pior que aconteceu a Ruggeri após a transferência, embora tenha sido a melhor decisão que poderia ter tomado naquele momento, pensando no futebol. Em 1986, ganhou Argentino, Libertadores e Mundial. Quando foi para Mar del Plata comemorar a vitória da equipe em Tóquio sobre o Steua Bucareste (ROM), recebeu telefonema de que sua casa havia sido incendiada.
Com a certeza de que a culpa havia sido de torcedores do Boca, foi atrás de José Barrita, conhecido como Abuelo (avô, em espanhol), lendário líder de La 12, a maior organizada da Argentina, para tomar satisfações.
"Ele me disse para não me preocupar porque a pessoa envolvida no incêndio já havia morrido", relembra.Ruggeri se tornou reticente em comentar o assunto, mas para a revista El Gráfico, disse que deixou o Boca porque não recebia salários. A crise era tão grande que os jogadores tiveram de pintar os números nas costas dos uniformes.No caminho inverso, há jogadores que foram mais felizes em La Bombonera do que em Nuñez.
O caso mais célebre é o de Gabriel Batistuta, um dos maiores artilheiros da história do futebol argentino. O técnico do River na época era Daniel Passarella, que chancelou a liberação do atacante para o arquirrival. Um caso menos famoso, porém mais marcante, foi o do uruguaio Cedrés. Ele se sagrou campeão da Libertadores de 1996 com o River, mas brigou com o treinador Ramón Díaz e foi para o Boca Juniors. No primeiro clássico entre as equipes depois disso, o atacante marcou de pênalti e foi comemorar o gol na cara do desafeto.
Todos têm sido procurados para comentar a final da Libertadores, apelidada pela imprensa argentina de "a final do mundo."
"Fui torcedor do Boca Juniors quando criança, mas depois que você se torna profissional, isso passa. Sou grato ao Boca pela oportunidade. O River foi o time que me deu tudo o que sonhava como jogador", finaliza Ruggeri. Com informações da Folhapress.