© Alan Santos/PR
Cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) foi adiada após exames apontarem uma inflamação na membrana que recobre a parede abdominal.
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Após Bolsonaro passar por série de exames pré-operatórios nesta sexta-feira (23)no hospital Hospital Albert Einstein, em São Paulo, médicos que acompanham seu caso consideraram que ele não está apto para nova cirurgia.
A bolsa de colostomia, que coleta suas fezes e gases, é decorrência do atentado a faca que ele sofreu em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro.
O procedimento ocorreria após a diplomação de Bolsonaro como presidente pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), depois do dia 10 de dezembro. No entanto, segundo boletim médico, a cirurgia só será realizada depois de sua posse, em janeiro.
"Encontra-se bem clinicamente e mantém ótima evolução, porém os exames de imagem ainda mostram inflamação do peritônio e processo de aderência entre as alças intestinais. A equipe decidiu em reunião multiprofissional postergar a realização da reconstrução do trânsito intestinal. O paciente será reavaliado em janeiro para definição do momento ideal da cirurgia", informa o boletim.
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O peritônio é uma membrana transparente que recobre toda a parede abdominal, incluindo o intestino grosso, órgão afetado pela facada que o presidente eleito sofreu.
A cirurgia pela qual passará Bolsonaro consiste em abrir o abdome, retirar a bolsa que coleta suas fezes e religar as alças do intestino grosso. É considerada uma intervenção menos arriscada que os procedimentos anteriores aos quais o presidente eleito já foi submetido.
Segundo informações da TV Record, único veículo que teve livre acesso ao interior do hospital, Bolsonaro fez um exame de sangue, para medir a capacidade do seu corpo de cicatrizar, e uma ressonância magnética. A assessoria do hospital não quis especificar quais exames foram feitos.
Bolsonaro foi assistido pelos médicos Antonio Luiz Macedo, cirurgião, e Leandro Echenique, cardiologista. Ambos acompanham o presidente eleito desde setembro, quando ficou internado no hospital por 22 dias.
Desde que obteve alta, no dia 29 de setembro, Bolsonaro carrega a bolsa colada ao abdome, o que fica aparente quando ele usa roupas mais claras. O político tinha a intenção de ser empossado sem o objeto no corpo e chegou a tirar as medidas para um terno, vislumbrando a retirada da bolsa antes da posse.
ESPECIALISTAS
O quadro de saúde do presidente eleito descrito em boletim médico é normal em pacientes que passaram por situações semelhantes, de acordo com médicos ouvidos pela reportagem.
"Adiar esse tipo de cirurgia nunca vai ser visto como imprudente", diz o cirurgião do aparelho digestivo Diego Adão Fanti Silva. "A recuperação seria mais lenta se ela fosse feita agora." De acordo com ele, o termo inflamação é usado genericamente para descrever o processo de resposta do sistema imunológico a traumas como os que acometeram o presidente eleito –a facada em si e as duas cirurgias que ele fez depois do ferimento.
A inflamação pode durar mais tempo se houver agravantes como perda de sangue e idade avançada, como no caso de Bolsonaro (63 anos), afirma Silva, que trabalha na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "Sempre que possível, não se opera uma pessoa na fase inflamada, que pode durar de dois a seis meses."
As aderências das alças do intestino (partes que ficam coladas) também são esperadas, na avaliação do cirurgião.
O médico Bruno Zilberstein, cirurgião do aparelho digestivo e professor da USP, também diz que o caso não é grave. "Isso é habitual. Postergar a operação foi uma conduta muito boa. Uma operação precipitada poderia provocar peritonite, uma infecção da cavidade abdominal de alta mortalidade."
Zilberstein avalia que Bolsonaro deveria ser operado apenas em fevereiro ou março. "Não há pressa, ele não corre risco. Ficar com a bolsa não vai atrapalhar a posse ou suas atividades na Presidência. Mesmo nos casos em que é impossível retirar a bolsa de colostomia, o paciente leva uma vida normal", diz. Com informações da Folhapress