© REUTERS / Nacho Doce (Foto de arquivo) 
A ligação do presidente da Argentina, Mauricio Macri, com o Boca Juniors é profunda. Ele conta que quando foi sequestrado, em 1991, dizia aos criminosos que o mantiveram em cativeiro por 12 dias que quando saísse queria ser presidente. Não da Argentina, do Boca Juniors.
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Macri comandou o clube por 12 anos e está à frente do Executivo do país há quase 3. Neste sábado (24), acompanhará -mas não no estádio- o seu time enfrentar o maior rival, o River Plate, na decisão da Copa Libertadores que ganhou o apelido de "a final do mundo".
No Boca, o político foi o dirigente mais vitorioso da história do clube -com 17 títulos, sendo 11 deles internacionais. Adiante da Argentina, sua atuação é irregular. Aprovou reformas importantes, mas a economia segue se mostrando frágil, enquanto a alta inflação tem provocado a queda da popularidade do governo.
Na Argentina, futebol e política andam de mãos dadas. Chefes de torcida atuam como "punteros" (líderes políticos informais nos bairros mais humildes) e clubes estão associados ou pertencem a empresários que financiam campanhas ou a sindicalistas.
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A família Kirchner -dos ex-presidentes Cristina e Néstor- está ligada ao Racing. Já os Moyano, um clã de sindicalistas, tem influência no rival Independiente. Dois exemplos de relações comuns entre políticos e clubes.
Nesse contexto, o sucesso desta final de Libertadores, a primeira disputada entre os dois principais clubes argentinos às 18h (de Brasília), terá grande importância para Macri e pode ajudar a definir seu sucesso na tentativa de se reeleger nas eleições de 2019, que acontecem em outubro.
Do ponto de vista internacional, interessa ao presidente mostrar que a Argentina pode promover uma grande festa em uma partida de futebol sem violência.
Isso às vésperas da cúpula dos líderes do G20 -que ocorre em Buenos Aires entre 30 de novembro e 1º de dezembro. É por isso que a cidade tem sido colorida com cartazes que mostram crianças com camisetas de ambas as equipes abraçadas, entre outras campanhas.
Do ponto de vista interno, uma vitória de seu time de coração pode alavancar sua popularidade, que caiu de 58% para 35% devido à crise econômica que atinge o país, especialmente desde abril, com a mega-desvalorização do peso.
Para mostrar seu tom conciliador diante desta partida, Macri promoveu uma "final simbólica", durante a semana, na residência oficial de Olivos.
Dela participaram ex-jogadores e figuras famosas de ambas equipes: Basualdo, Roberto Ayala, o goleiro Fillol e outros. Não havia camisetas dos dois clubes. Os ídolos das equipes jogaram com as duas camisas oficiais da seleção argentina. Macri atuou em sua posição de sempre, no meio de campo.
O presidente não irá ao Monumental de Núñez, onde se decide o campeonato, porque, devido à pressão dos presidentes dos dois clubes, seguirá vigente a lei que impede, desde 2013, a entrada da torcida rival nos estádios. Macri, neste caso, é torcida rival.
Tampouco quer expor-se indo como mandatário, porque em caso de derrota do Boca, passaria por um mau momento, com as câmeras focadas em sua decepção de torcedor.
Pouco antes do primeiro jogo das finais, na Bombonera, casa do Boca, Macri pediu às equipes que aceitassem que os jogos tivessem a presença das duas torcidas, também tentando mostrar-se como líder conciliador.
A pressão dos clubes e dos responsáveis pela área de segurança foi forte e ele teve de voltar atrás. O primeiro jogo, com torcida única, terminou empatado em 2 a 2.
Quem vencer neste sábado leva o título. Com novo empate, a partida vai para a prorrogação e, em caso de manutenção da igualdade, para a disputa de pênaltis.
Durante a última semana, a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, anunciou as medidas para garantir que a festa da torcida vitoriosa não acabe em confusão. Serão colocadas placas metálicas e haverá policiamento extra nos arredores do estádio.
Pediu, ainda, que a comemoração seja feita no estádio do time vencedor. Assim, se o River Plante ganhar, os festejos seriam limitados ao Monumental e imediações. Se o ganhador for o Boca Juniors, será na Bombonera e no bairro da Boca. Nem assim, porém, há garantia de que os ruídos e confrontos serão evitados.
Na última quinta-feira (22), uma festa da torcida "xeneize" para apoiar os jogadores terminou em briga entre os próprios torcedores, devido ao fato de nem todos terem podido entrar na Bombonera.
O local onde tradicionalmente se festejam vitórias futebolísticas na Argentina, o tradicional Obelisco, na avenida 9 de Julio, permanecia vetado para este propósito.
O motivo alegado pelas autoridades é a preparação de Buenos Aires para o G20, que deve restringir várias áreas da capital argentina.
É difícil imaginar, porém, que a torcida vencedora respeite isso, uma vez que a foto do festejo ao lado do monumento é um clássico na história do futebol argentino.
As chuvas que castigaram Buenos Aires na data prevista para o primeiro jogo, no sábado (10), obrigando seu adiamento para o domingo (11) seguiram intensas na cidade nos últimos dias. Porém, a previsão para o dia da final (24) é de tempo bom, e seco.
Na sexta-feira (23), era esperada a chegada a Buenos Aires do presidente da Fifa, Gianni Infantino. Apesar de Macri não poder acompanhá-lo ao estádio, está previsto que ambos se encontrem.
O presidente argentino encabeça a campanha para que a Copa do Mundo de 2030 seja disputada na Argentina e no Uruguai (talvez incluindo também o Paraguai). Este deve ser um dos assuntos na pauta do encontro.
A Argentina já sediou uma edição de Mundial. Foi em 1978, e a seleção local ficou com o título, o primeiro de sua história -a segunda conquista veio em 1986. Com informações da Folhapress.