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Um cientista chinês afirmou nesta segunda-feira (26) ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo. O pesquisador, He Jiankui, que é especialista em física e não tem experiência com experimentos humanos, disse ter alterado o DNA das meninas gêmeas Lulu e Nana, nascidas neste mês, contudo, o estudo não foi publicado ainda em nenhuma revista científica.
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A revelação foi feita pelo próprio pesquisador em Hong Kong à agência Associated Press, com exclusividade.
"A sociedade decidirá o que fazer a seguir", argumentou na entrevista.
O cientista, da cidade de Shenzhen, disse que alterou os embriões durante os tratamentos de fertilidade de sete casais, tendo resultado numa gravidez até agora.
Jiankui afirmou que o objetivo não é curar ou prevenir uma doença hereditária, mas tentar criar uma capacidade de resistência a uma possível infecção futura de HIV, o vírus da Aids.
O cientista adiantou que os pais envolvidos não quiseram ser identificados ou entrevistados e não disse onde moram ou onde o trabalho foi realizado. Alguns cientistas ficaram chocados com a afirmação e condenaram-na com veemência.
É "inconcebível... uma experiência em seres humanos que não é moralmente ou eticamente defensável", criticou um especialista em manipulação de genes da Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos), Kiran Musunuru, e editor de uma revista de genética.
"Isso é prematuro demais", declarou o diretor do Scripps Research Translational Institute (estado norte-americano da Califórnia), Eric Topol.
No entanto, um famoso geneticista, George Church, da Universidade de Harvard (EUA), defendeu a manipulação de genes para combater o vírus HIV, que apelidou de "uma grande e crescente ameaça à saúde pública". "Acho que isso é justificável", defendeu Church.
Alguns pesquisadores revisaram os materiais e disseram não ser possível afirmar que os genes foram editados.
Nos últimos anos, os cientistas descobriram uma maneira relativamente fácil de manipular genes. A ferramenta, chamada de CRISPR-cas9, torna possível alterar o DNA para fornecer um gene necessário ou desativar um que esteja causando problemas.
Só recentemente foi tentado em adultos para tratar doenças mortais, mas as mudanças estão confinadas a essa pessoa. A manipulação de espermatozoides, óvulos ou embriões é diferente, já que as alterações podem ser herdadas. A China proíbe a clonagem humana, mas não especificamente a manipulação de genes.
Jiankui estudou nas universidades de Rice e Stanford nos Estados Unidos antes de regressar à terra natal para abrir um laboratório na Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China, em Shenzhen, onde também tem duas empresas de genética.
Um cientista norte-americano garantiu ter trabalhado com Jiankui nesse projeto. Trata-se do professor de física e bioengenharia Michael Deem, que foi seu conselheiro na Universidade de Rice, em Houston. Deem também detém "uma pequena participação" nas duas empresas de Jiankui, disse.
O pesquisador chinês afirmou que praticava a manipulação genética de ratos, macacos e embriões humanos no laboratório há vários anos e solicitou patentes sobre a sua metodologia. He Jiankui acrescentou que optou por testar a manipulação genética de embriões para o HIV porque o vírus é um grande problema na China.
O cientista tentou desativar um gene chamado CCR5, que forma uma porta proteica que permite que o vírus entre numa célula. Todos os homens do projeto tinham HIV, enquanto que todas as mulheres não, mas a manipulação genética não visava evitar o pequeno risco de transmissão, explicou.
Os pais tiveram as suas infecções profundamente reprimidas por medicamentos padrão para o HIV e existem maneiras simples de evitar que infectem descendentes que não envolvem a alteração de genes.
Em vez disso, a intenção era oferecer aos casais afetados pelo vírus a hipóteses de terem um filho que pudesse ser protegido de um destino semelhante. He Jiankui recrutou casais através de um grupo de defesa de casos relacionados com o vírus da Aids, Baihualin, que tem a sua sede em Pequim.
O seu líder, conhecido pelo pseudônimo "Bai Hua", afirmou à AP que não é incomum na China que pessoas com HIV percam empregos ou que tenham problemas para obter assistência médica se as infecções forem divulgadas. Com informações da Lusa.