© Reuters
Ex-assistente de Bernardo Bertolucci nos anos 1990, o diretor brasileiro André Ristum afirma que o cineasta italiano, morto nesta segunda-feira, deixou um roteiro que estava escrevendo.
PUB
"Estive em Roma, em abril, e não consegui encontrá-lo. Trocamos e-mails, mas eu acabei não sabendo do que se tratava esse novo roteiro", diz. "Adoraria saber o que o inquietaria nos dias de hoje."
+ Cineasta italiano Bernardo Bertolucci morre aos 77 anos
O cineasta italiano, que morreu aos 77 anos, era um dos últimos remanescentes da era de ouro da produção de seu país. Ele deixou filmes marcantes como "O Conformista", "Último Tango em Paris", "O Último Imperador" e "Os Sonhadores". Seu último longa, "Eu e Você", é de 2012.
Segundo Ristum, a investigação sobre a natureza da alma era o que mais marcava a obra do seu antigo mestre. "Os filmes dele são muito psicanalíticos. A gestação vinha de um incômodo com questões relacionadas aos seres humanos."
O brasileiro lembra de ter indagado ao italiano a respeito dos mais de 30 anos que ele tinha como paciente de psicanálise. "E não acaba nunca?", perguntou.
A resposta do colega europeu: "Há os que terminam, mas para quem gosta de explorar a alma, há casos que são eternos. O meu caso acho que é eterno".
Ristum, que está em cartaz com "A Voz do Silêncio", iniciou a carreira como terceiro assistente de direção de Bertolucci em "Beleza Roubada" (1996), que tem Liv Tyler no papel de uma moça em viagem existencial pela Itália.
"Fiquei colado nele. Foi uma experiência muito rica, muito humana", lembra sobre o período. "Bertolucci era muito conectado a todo mundo que estava em volta. Foi uma aula de cinema."
O pai dele, Jirges Ristum, já havia trabalhado como assistente do cineasta europeu nos anos 1970, em "La Luna", o que garantia ao filho alguma intimidade no set de "Beleza Roubada"
A relação perdurou até os últimos anos. André costumava mostrar seus longas ao antigo mestre na casa desse último, na Itália. Não conseguiu exibir "A Voz do Silêncio".
Agora, Ristum trabalha na produção da nova obra do italiano Marco Bellocchio, "Il Traditore", sobre o mafioso italiano Tomasso Buscetta, que passou pelo Brasil.Bellocchio é contemporâneo de Bertolucci. "Tenho a sorte de estar trabalhando com o último maestro do cinema italiano", diz Ristum. Com informações da Folhapress.