© Philippe Wojazer / Reuters
O presidente da França, Emmanuel Macron, reagiu publicamente pela primeira vez nesta terça-feira (27) à mobilização dos chamados "coletes amarelos", que vem levando centenas de milhares de pessoas às ruas e estradas do país nos últimos dez dias.
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Em discurso de quase uma hora, ele disse que é preciso ouvir os "protestos que lançam um alarme social" sem renunciar a outras responsabilidades, já que existe também um "alarme ambiental". Macron se referia ao estopim do movimento, ao qual aderiram mais de 280 mil pessoas no último dia 17 e outras 105 mil no sábado passado (24): a alta dos preços de combustíveis.
Previsto para entrar em vigor em janeiro de 2019, o reajuste será impulsionado pelo aumento de uma taxa destinada a financiar a transição do parque energético francês para fontes pouco ou não poluentes.
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O presidente anunciou na terça que a alíquota será revista a cada três meses, em função da variação do preço do barril de petróleo. Ou seja, se esse tiver subido, a taxa cairá na mesma proporção, de maneira a aliviar o bolso do consumidor.
Ocorre que a pauta dos coletes amarelos -o nome alude ao acessório que todo motorista deve levar no carro na França e vestir em caso de acidente- já se ampliou sensivelmente.
Eles pedem, entre outras coisas, melhorias nos serviços públicos e uma revisão dos planos governamentais de reforma da previdência, além de reclamar do impacto do custo de vida sobre as finanças de trabalhadores rurais e baseados nas periferias das grandes cidades.
"Vocês falam em fim do mundo [por causa da mudança climática] enquanto nós não conseguimos nem chegar ao fim do mês", disse Macron, emulando uma queixa recorrente dos coletes amarelos.
Visto por uma parcela crescente de franceses como o "presidente dos ricos", ele buscou desmontar essa imagem, afirmando estar atento "ao ressentimento e ao rancor" da população e usando termos como "ecologia popular" (que conciliaria a dita transição energética à luta contra a desigualdade social).
Também falou sobre a necessidade de o país fixar um novo contrato social, que leve em conta a legibilidade da ação governamental, sua materialização em iniciativas "tangíveis, concretas e simples".
Para isso, ele estabeleceu um prazo de três meses para o que chamou de concertação (rodadas de conversas e negociações) entre atores da sociedade civil, coletes amarelos incluídos, e as várias instâncias da administração francesa (municipal, regional e federal).
A questão é saber quem falará (e com que legitimidade) em nome dos coletes amarelos nos encontros com governantes. O movimento nomeou nesta segunda-feira (26) oito porta-vozes, mas até aqui não emergiram líderes claros nem uma agenda unívoca, coesa.
Como na paralisação dos caminhoneiros no Brasil, em maio deste ano, a mobilização se apoia em discurso e postura antiestablishment político e antimídia (com direito a agressões físicas a jornalistas).
Não há envolvimento explícito de sindicatos na organização, e as redes sociais desempenham papel-chave na difusão de informações e na convocação para atos e bloqueios de pedágios e centrais de distribuição de combustíveis -os quais, apesar de afetarem os negócios nos setores de alimentos e transportes, não produziram até aqui as cenas de desabastecimento vistas no Brasil em maio.
No protesto parisiense mais recente, no dia 24, alguns grupos destruíram vitrines de lojas e cafés na avenida Champs-Elysées, além de improvisar barricadas e fogueiras com paralelepípedos e mobiliário tirado dos estabelecimentos. A polícia reagiu com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água.
Em seu discurso, Macron disse não confundir os vândalos com "os cidadãos que querem dar um recado [ao participar de manifestações]".
Mirando as reivindicações dessa maioria, o governo anunciara anteriormente a suspensão do plano de instalar pedágios urbanos (a ideia era desestimular o uso de automóveis) e uma dotação de 500 milhões de euros (R$ 2,2 bilhões) para um programa de incentivo à compra de carros menos poluentes (sobretudo elétricos) por motoristas de baixa renda. O plano de transição energética apresentado pelo presidente na terça inclui também o fechamento de 14 reatores nucleares na França até 2035 e o de todas as centrais térmicas a carvão até 2022.
Além disso, o orçamento anual da União para pesquisa e desenvolvimento de energia renovável (não fóssil) passará dos atuais 5 bilhões de euros (R$ 22 bilhões) para cerca de 8 bilhões de euros (R$ 35 bilhões). Com informações da Folhapress.