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DANIEL AVELAR, SWANSEA, REINO UNIDO - A captura de três navios militares ucranianos pela Rússia durante o fim de semana elevou a tensão entre Moscou e potências ocidentais, gerando a convocação de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
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No domingo (25), guardas de fronteira da Rússia abriram fogo contra dois navios de guerra pequenos e um rebocador ucranianos e os capturaram quando tentavam cruzar o estreito de Kerch. Seus 23 tripulantes, incluindo ao menos três militares feridos no incidente, foram detidos.
A Otan, aliança militar ocidental, acusou a Rússia de violar a soberania ucraniana e exigiu que as autoridades do país liberem as embarcações. Até agora, as autoridades russas não deram sinais de que irão ceder.
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Entenda o que aconteceu:
Rússia acusa Ucrânia de "provocação"
As Forças Armadas da Rússia acusaram a Ucrânia de realizar "provocação", desrespeitando as regras de convivência e "executando manobras perigosas". As embarcações haviam partido de Odessa, no Mar Negro, e viajavam para Mariupol, no mar de Azov -a passagem pelo estreito de Kerch é a única forma de transitar pelo mar entre as duas cidades ucranianas.
Um acordo entre a Rússia e a Ucrânia garante a liberdade de circulação de embarcações dos dois países pelo estreito de Kerch, desde que haja aviso prévio. O governo da Ucrânia disse ter comunicado os russos sobre a passagem dos navios, mas Moscou afirma não ter recebido nenhum alerta.
Em resposta, Ucrânia declara lei marcial
Nesta segunda-feira (26), o Parlamento da Ucrânia aprovou uma moção declarando lei marcial por 30 dias a partir de quarta (28) nas províncias que fazem fronteira com a Rússia.
A lei permite que autoridades restrinjam manifestações e controlem os veículos de comunicação nesses territórios. Parlamentares da oposição temem que o presidente Petro Poroshenko use o incidente para suspender as eleições presidenciais marcadas para 31 de março.
Incidente ocorreu próximo à Crimeia, um território disputado
O incidente aconteceu em águas territoriais da Crimeia, península ucraniana anexada pela Rússia em 2014. A anexação não foi reconhecida pela comunidade internacional, que aplicou sanções contra Moscou.
À época, a Rússia decidiu invadir a Crimeia e estimular milícias separatistas no leste ucraniano após uma crise política levar à deposição o então presidente Viktor Yanukovych, um aliado de Moscou, e à instalação de um governo simpático à União Europeia e a Otan. O conflito entre militares ucranianos e os separatistas pró-russos deixou mais de 10 mil mortos.
Exercícios militares recentes alimentaram clima de tensão
Embora o conflito no leste da Ucrânia tenha entrado em um impasse nos últimos anos, exercícios militares recentes reacenderam o clima de tensão entre a Rússia e o Ocidente.
Em setembro, as Forças Armadas da Rússia realizaram, em parceria com a China, seu maior jogo de guerra desde o desmantelamento da União Soviética, em 1991. Por outro lado, os Exércitos dos 29 países que integram a Otan executaram em outubro um grande treinamento na Noruega, próximo à fronteira com a Rússia.
Com o aumento da tensão entre Moscou e o Ocidente, o desafio para as grandes potências é evitar que, em meio a intensas demonstrações de força militar dos dois lados, incidentes pontuais como o deste fim de semana eventualmente escalem para um confronto aberto. Com informações da Folhapress.