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A cidade de Buenos Aires, incapaz de organizar uma simples partida de futebol com ou sem torcedores visitantes, vai se tornar nesta sexta-feira (30) e sábado (1º) o centro da política mundial com a presença de vinte dos mais poderosos líderes do planeta durante a Cúpula do G20, com uma preocupação latente por segurança.
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Depois das vergonhosas imagens do fim de semana, que levaram ao adiamento da final da Copa Libertadores da América entre Boca Juniors e River Plate, ficou claro que a capital argentina está prestes a viver dias muito difíceis.
Se as forças de segurança não puderam prover proteção a um ônibus que transportava jogadores de futebol, apedrejado por algumas dezenas de "barras bravas" (torcedores fanáticos), como vão proteger a Donald Trump, Vladimir Putin, Xi Jinping, Theresa May, Emmanuel Macron, Angela Merkel, Giuseppe Conte, entre muitos outros líderes? A dúvida ganha muito mais força depois da infeliz frase da ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, antes da "superfinal" da Libertadores, quando disse com propriedade: "vamos sediar um G20, não podemos dominar um River e Boca?". A resposta, após os fatos consumados, é um clamoroso "não".
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Os governantes debaterão temas espinhosos políticos e comerciais durante os dias que transformarão a "Rainha do Rio da Prata" em uma cidade sitiada, rodeada de imponentes medidas de segurança e uma desconfiança crescente baseada em um "papelão" futebolístico mundial.
Além da segurança, Buenos Aires será testemunha de uma nova cúpula entre Trump e Putin, em que estará novamente em discussão o caso do "Russiagate", as sanções ocidentais a Moscou, o tratado nuclear abandonado por Washington e as cada vez mais problemáticas relações entre Moscou e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Trump, que ficará apenas por algumas horas na Argentina, também enfrentará outro "front", o comercial, em especial com a China, país com o qual está envolvido em uma "guerra de tarifas" que ameaça as relações comerciais no mundo inteiro.
Trump se reunirá com o mandatário chinês, Xi Jinping, em busca de aliviar uma crise que ameaça sair dos trilhos com tarifas mútuas que superam os US$ 200 bilhões. O resultado da cúpula dependerá muito desta reunião.
Se os líderes mundiais estão resignados em escutar uma nova defesa do protecionismo por parte de um Trump, que polemizou com todos os seus colegas, inclusive seus aliados históricos na Europa, ainda haverá tempo para assinar o novo "Tratado de Livre Comércio da América do Norte com México e Canadá".
Os líderes europeus, com Merkel, May e Macron na liderança, chegam com uma nova defesa do multilateralismo, assim com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em contraste com a estratégia de um aliado necessário mas cada vez mais incômodo como Trump.
Para a América Latina, a cúpula reservará um papel secundário em um G20 mais preocupado com o futuro do comércio mundial do que com sorte de uma região cada vez mais longe dos centros de tomada de decisão mundiais.
A Argentina estará representada por um Mauricio Macri muito debilitado no "front" interno, com uma dura crise econômica e social e colocado em xeque por uma inflação que fechará este ano em torno dos 45%, a um ano do pleito em que tentará a reeleição. A cúpula servirá para tentar afirmar sua imagem ante a um eleitorado que começa a dar-lhe e as costas.
Ao seu lado, estarão presidentes em fim de mandato, como Enrique Peña Nieto, do México, e Michel Temer, do Brasil, ainda que o primeiro espere terminar seu mandato com a assinatura do Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos e Canadá, depois de uma dura e extensa negociação. Peña, que dará lugar a Andrés Lopez Obrador no dia 1º de dezembro, tentará emplacar na agenda da cúpula a questão migratória com os Estados Unidos e a grave situação pela qual passam a caravanas de imigrantes centro-americanos que percorrem o país.
Pelo lado de Temer, seu escasso poder regional deixará o país sem uma presença de peso na cúpula, que tem olhares voltados para o novo governo de Jair Bolsonaro, decididamente aliado aos Estados Unidos e a Israel.
A reunião ainda será palco para uma possível cúpula entre os líderes de Turquia e Arábia Saudita, Recep Tayyip Erdogan e Mohammad Bin Salman, após o brutal assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, no consulado de Riad em Istambul.
A ex-chanceler argentina, Susana Malcorra, em um artigo no jornal "La Nación", disse que a reunião "implica a possibilidade de tentar avanços sobre questões preocupantes , como o comércio internacional, ou, no mínimo, tentar aliviar tensões".
"Foram definidos o futuro do trabalho, a infraestrutura para o desenvolvimento e um futuro alimentar sustentável como os eixos de discussão, com a transversalidades da perspectiva de gênero.
Ao conseguir-se acordos mínimos em tais pontos, pode-se abrir perspectivas de avanço com alto impacto." destacou. (ANSA)