© Martin Acosta/Reuters
Os episódios de violência ocorridos poucas horas antes do jogo de volta da final entre River Plate e Boca Juniors, no último sábado, em Buenos Aires, e os seguidos adiamentos do confronto foram o ápice de uma Copa Libertadores que, por diversos motivos, pode ser considerada a mais polêmica da história da competição.
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Essa edição do torneio continental, histórica também pelo fato de contar com uma decisão inédita entre dois dos maiores clubes do futebol sul-americano, está sendo marcada por confusões desde as oitavas de final. Nesta fase, o Santos acabou eliminado por causa da suposta escalação irregular do meio-campista Carlos Sánchez no confronto de ida do mata-mata com o Independiente, na Argentina, onde as duas equipes empataram por 0 a 0.
Após esta partida, o clube argentino protocolou uma reclamação junto à Conmebol, alegando que o então recém-contratado jogador uruguaio ainda tinha um jogo de suspensão a cumprir, referente a uma expulsão ocorrida em 2015, quando ele era atleta do River Plate. O Santos, porém, garantiu que o sistema eletrônico da entidade sul-americana classificava Sánchez como apto a entrar em campo no duelo de ida das oitavas.
E, em um fato no mínimo incomum, o tribunal disciplinar da Conmebol aplicou uma punição ao time brasileiro no mesmo dia do confronto que os dois times fizeram no Pacaembu, em 28 de agosto, e que também terminou empatado por 0 a 0. Ao considerar irregular a situação do uruguaio, a entidade puniu o Santos com o placar adverso de 3 a 0 e a equipe entrou em campo obrigada a conquistar uma goleada para avançar às quartas de final.
O fato deixou o clima tenso no Pacaembu e, aos 35 minutos do segundo tempo, alguns torcedores revoltados atiraram bombas, grades e cadeiras no campo e outros tentaram invadir o gramado. Com isso, o juiz, por questão de segurança, optou por encerrar ali a partida.
Ao mesmo tempo em que puniu o Santos, a Conmebol foi conivente com situações envolvendo jogadores do River Plate e do Boca Juniors. Integrante do primeiro destes clubes, o meia Bruno Zuculini atuou de forma irregular nos sete primeiros jogos desta Libertadores, pois precisaria ter cumprido duas partidas de suspensão por causa de uma expulsão em 2013, quando ainda defendia o Racing, em um confronto com o Lanús, pela Copa Sul-Americana.
Naquela época, Zuculini foi punido com uma suspensão de quatro jogos. Porém, graças a uma anistia concedida pela Conmebol para todos os jogadores em 2016, essa pena caiu para duas partidas. Entretanto, o atleta não jogou mais em competições sul-americanas, pois defendeu clubes europeus entre 2014 e 2018, ano em que foi contratado pelo River.
Ao justificar a não punição ao time argentino, a Conmebol alegou que não houve denúncia de irregularidade dentro do prazo estipulado pelo seu regulamento e, com isso, não poderia sancionar o clube com perda de pontos na Libertadores. A entidade se limitou a pedir que o atleta cumprisse as duas partidas restantes de suspensão no duelo de volta das oitavas de final e na partida de ida das quartas.
Já pelo lado do Boca, o atacante Ramón Ábila havia sido punido com uma suspensão de três jogos após ser expulso na final da Copa Sul-Americana de 2015, quando defendia o Huracán. Entretanto, ele só cumpriu uma destas partidas, na Libertadores de 2016, e a anistia dada pela Conmebol neste mesmo ano aos atletas fez com essa pena fosse reduzida a apenas um jogo de gancho.
Assim, Ábila precisaria ter cumprido essa punição já na estreia do Boca nesta edição do torneio continental, mas isso não ocorreu e, mais tarde, a Conmebol apresentou a mesma justificava de ausência de denúncia de irregularidade antes do prazo do regulamento da competição para não punir o clube argentino. E só ordenou que o atleta cumprisse essa suspensão no duelo de ida das quartas de final, contra o Cruzeiro.
CASO DEDÉ - O time mineiro, por sinal, foi prejudicado pela arbitragem justamente nesta partida realizada em La Bombonera. No segundo tempo do duelo, o zagueiro Dedé foi expulso de maneira injusta após acertar uma cabeçada não intencional no goleiro do Boca em uma disputa pela bola. E o cartão vermelho só foi aplicado após a utilização do recurso de vídeo por parte da arbitragem, em decisão que deixou perplexos até mesmo os jogadores do time argentino.
Naquela ocasião, a equipe da casa já vencia o jogo e, com um homem a mais, ampliou para 2 a 0 e levou ótima vantagem para o duelo de volta, no Mineirão. Ao aceitar analisar o episódio após protesto do Cruzeiro, a Conmebol anulou o cartão vermelho e liberou o defensor para atuar em Belo Horizonte, mas o estrago já estava feito. E Dedé voltou a ser expulso, em nova decisão polêmica.
CASO GALLARDO - Além de não ter sido punido pelas escalações de Zuculini, o River ainda viu a Conmebol deixar de punir o clube após o técnico Marcelo Gallardo trabalhar de maneira irregular no jogo de volta da semifinal contra o Grêmio, em Porto Alegre. Mesmo suspenso, ele usou um rádio para se comunicar com o auxiliar que trabalhava em seu lugar na beira do gramado e até deixou a tribuna onde estava na arena gremista e foi até o vestiário da equipe argentina no intervalo da partida.
Embora o River tenha sido inevitavelmente beneficiado pelas atitudes ilícitas do treinador, a Conmebol se recusou a invalidar a vitória por 2 a 1 obtida pelo time argentino dentro de campo, onde o gol de empate da equipe ainda foi marcado de forma irregular, em lance que poderia ter sido invalidado pelo VAR, mas não foi. A entidade se limitou a suspender o técnico por três jogos, além de multá-lo em US$ 50 mil (cerca de R$ 194 mil), e manteve a passagem do clube à decisão.
Agora, ao ter parte dos seus torcedores atacando o ônibus do Boca Juniors poucas horas antes da decisão no Monumental de Núñez, no último sábado, o River se vê indiretamente envolvido em mais uma grande polêmica. Desta vez foi vítima dos vândalos que são seguidores do clube, mas sabe que já está no lucro pelo simples fato de poder disputar esta histórica final contra o seu maior rival, pois escapou de punições que poderia ter sofrido no decorrer de sua campanha.