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THALES DE MENEZES - O lançamento do álbum "OK OK OK", em agosto, foi recebido como um sinal de vitalidade de Gilberto Gil. Após oito anos sem um disco de inéditas e depois de passar maus bocados com problemas graves de saúde, o cantor e compositor veio com repertório forte.
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Agora, com a turnê do álbum começando a percorrer o país, sua performance no palco é ainda mais contundente na demonstração de grande energia de um artista de 76 anos em plena atividade.
Gil até enganou no início do show que apresentou na noite de quinta-feira (29), no Teatro Bradesco, em São Paulo. Fez as primeiras canções sentado, o que poderia preocupar os fãs, mas qualquer sinal de fraqueza desaparecia rapidamente a cada canção.
Com voz forte e sua exímia habilidade de tocar o violão, um dote que às vezes ele passa muito tempo escondendo do público, foi desfilando as canções de "OK OK OK" com sorriso aberto. Animado, praticamente contou um pouco da história de cada uma de suas músicas recém-gravadas.
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No show, ele fez uma opção diferente da distribuição das faixas no álbum, em que estilos e ritmos estão misturados numa alternância inquieta. Para o palco, escolheu uma divisão clara: primeiro as músicas mais lentas, com baladas e "quase sambas" suaves, para depois dispensar a cadeira, assumir as guitarras e fazer uma segunda parte dançante e empolgada.
Gil abriu com a música que dá título ao disco, que é o momento político escancarado do trabalho. A letra traz em versos primorosos uma espécie de declaração de Gil em resposta a pessoas que cobram dele (e de outros nomes de sua geração) um constante posicionamento sobre o que acontece no mundo.
A música deixa claro que Gil tem outras preocupações nestes tempos, e as canções apresentadas a seguir mostram que o cantor, já um bisavô, volta suas atenções para a família.
Ele presta homenagem a todos de sua prole. O neto mais novo ganha uma canção com seu nome, "Sereno", assim como a primeira bisneta, "Sol de Maria". A ligação com os rebentos está decretada também no palco, na formação da banda.
Nela estão três filhos: Nara, nos vocais de apoio, José, na bateria e na percussão, e Bem, que toca guitarra e é claramente o líder dos sete instrumentistas em cena. Bem Gil é também o produtor de "OK OK OK".Além da divisão entre baladas e músicas aceleradas, o roteiro do show traz algumas artimanhas e surpresas. Em um trecho com Gil sozinho no palco apenas com o violão, é um verdadeiro achado emendar a belíssima "Prece", delicada canção a respeito da fé que brilha no novo disco, com um hit antigo, "Se Eu Quiser Falar com Deus", num entrosamento temático encantador.
Muito humor é distribuído pelas canções que remetem a seu tratamento de problemas cardíacos e renais. Tem "Jacintho", sobre um homem centenário sofrendo com a velhice, e duas homenagens divertidas a médicos que cuidaram de Gil: "Kalil", para Roberto Kalil, e a mais engraçada de todas, "Quatro Pedacinhos", escrita para a médica que realizou uma biópsia cardíaca no artista.
A maior surpresa talvez seja o cover de "Pro Dia Nascer Feliz", de Cazuza e Frejat. Menos rock do que as conhecidas versões do Barão Vermelho e de Ney Matogrosso, mas ainda bem pesada.
Na parte final, Gil sabe satisfazer o público que lota o teatro. Mostra músicas agitadas da nova safra, como "Na Real" e "Ouço", e tira do baú dois sucessos para todo mundo cantar, "Extra" e Maracatu Atômico". É o bastante para a aprovação geral.
GILBERTO GILAvaliação: Ótimo
Com informações da Folhapress.