© Osman Orsal/Reuters
Em seus escritos públicos, a crítica de Jamal Khashoggi à Arábia Saudita e o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, foi controlada. Em conversa privada com o ativista Omar Abdulaziz, de Montreal, no Canadá, o colunista do Washington Post, morto no dia 2 de outubro, em Istambul, Turquia, não se conteve.
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Em mais de 400 mensagens do WhatsApp enviadas a um exilado saudita no ano anterior à sua morte no consulado saudita em Istambul, Khashoggi descreve Bin Salman - frequentemente chamado de MBS - como uma "besta", um "pacman". "Quem devoraria tudo em seu caminho, até mesmo seus partidários.
A CNN recebeu acesso exclusivo à correspondência entre Khashoggi e o ativista Omar Abdulaziz. As mensagens compartilhadas por Abdulaziz, que incluem gravações de voz, fotos e vídeos, pintam a imagem de um homem profundamente perturbado pelo que ele considerava a petulância do poderoso jovem príncipe de seu reino.
"Quanto mais vítimas ele come, mais ele quer", diz Khashoggi em uma mensagem enviada em maio, logo após um grupo de ativistas sauditas ter sido capturado. "Eu não ficarei surpreso se a opressão atingir até mesmo aqueles que estão torcendo por ele."
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Veja trchos da troca de mensagens entre Jamal e Omar:
JAMAL KHASHOGGI
As prisões são injustificadas e não o servem (a lógica diz), mas a tirania não tem lógica, mas ele ama a força, a opressão e precisa mostrá-las. Ele é como um animal "pac man" quanto mais vítimas ele come, mais ele quer. Não me surpreenderá que a opressão chegue até mesmo àqueles que o aplaudem, depois a outros e a outros e assim por diante. Deus sabe.
OMAR ABDULAZIZ
Surpreendente. Existe a possibilidade de que, quando ele se tornar um rei, ele os perdoasse? Em um gesto para mostrar perdão e misericórdia.
JAMAL KHASHOGGI
É isso que a lógica diz, mas não tenho mais fé para analisar a mente do homem.
Movimento juvenil por Jamal e Omar
A troca de textos revela uma progressão de conversa para ação - a dupla começou a planejar um movimento juvenil online que responsabilizaria o Estado saudita. "[Jamal] acreditava que a MBS é o problema, é o problema e ele disse que esse garoto deveria ser interrompido", disse Abdulaziz, em entrevista à CNN.
Mas em agosto, quando ele acreditava que suas conversas poderiam ter sido interceptadas pelas autoridades sauditas, uma sensação de mau presságio desce sobre Khashoggi. "Deus nos ajude", escreveu ele. Dois meses depois, ele estava morto.
Abdulaziz lançou nesse domingo (2) um processo contra uma empresa israelense que inventou o software que ele acredita ter sido usado para hackear seu telefone. "A invasão do meu celular desempenhou um papel importante no que aconteceu com o Jamal, lamento muito dizer", disse Abdelaziz à CNN. "A culpa está me matando."