Joss Stone: 'MeToo deixou homens com medo, mas nada mudou na indústria'

Pessoas ficam 'superofendidas por qualquer coisa' e artistas deveriam ser mais positivos, diz inglesa

© REUTERS/L.E. Baskow

Fama canta em SP 04/12/18 POR Folhapress

RAFAEL GREGORIO - SÃO PAULO, SP - Que Joss Stone não gosta de rótulos, já se sabe.Desde o início da carreira, aos 13 anos, a cantora transita inquieta por gêneros, rasgando o invólucro de musa do novo soul com que foi vendida.

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Nos últimos anos, Stone cantou reggae, rock -notável a breve colaboração com a banda Stone Temple Pilots, em 2015- e pop, e diz, meio brincando, que cogita um dia gravar uma ópera.

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"É luta constante para falar línguas diferentes e não ficar presa", diz, avessa a conselhos de executivos de gravadoras para bajular seu público cativo: "Ignoro-os completamente; prefiro falar com músicos".

A estratégia parece funcionar: nascida Joscelyn Eve Stoker, a inglesa já vendeu 14 milhões de cópias dos sete álbuns em sua discografia, marca expressiva para uma artista do pós-internet.

Veterana aos 31 anos e prestes a fazer mais um show em São Paulo, nesta quarta (5), Stone -que já cantou aqui ao menos sete vezes- foge do lugar-comum em outros temas.

Sobre a igualdade de gênero na indústria musical, por exemplo, ela abraça um misto de ceticismo e naturalismo de assombrar feministas:

"Movimentos como o MeToo deixaram os homens com medo, mas tudo segue na mesma: há mulheres que recebem menos do que homens, e homens que recebem menos que mulheres. É a natureza."

A opinião contraria preceitos segundo os quais uma mulher branca e dentro do padrão dominante de beleza jamais deveria usar sua experiência pessoal como régua, mas a cantora dobra a aposta:

"A coisa que mais me irrita hoje é que as pessoas ficam superofendidas por qualquer coisa. Isso é muito chato e bloqueia conversas sobre problemas sérios."

Essa relativa recusa em aderir ao senso coletivo contrasta com o ativismo social, frequente na carreira de Stone desde 2004.

Naquele ano, ela participou do projeto Band Aid 20, no qual gravou uma canção com artistas como Paul McCartney em prol das vítimas da guerra civil no Sudão. Mais recentemente, dedicou-se a defender a limpeza dos oceanos e a eliminação de minas terrestres.

"Há diversos temas com os quais nos preocuparmos", diz. "Mas por que seria mais importante encontrar a cura da Aids do que achar água limpa na Índia? Não há uma balança. Você deve ir onde acha que pode ajudar", completa a artista, que falou à Folha semanas antes de trazer pela segunda vez ao país sua "The Total World Tour".

Na turnê, com repertório que une o disco mais recente, "Water for Your Soul" (2015), e hits como "You Had Me", Stone se propôs a percorrer o mundo.

Literalmente: desde 2014, ela já visitou mais de 150 destinos e espera chegar perto de 200 até o fim da viagem, em 2019 -há 193 países no mundo reconhecidos pela ONU. Em vários desses destinos, estabeleceu parcerias com músicos locais, algo que ainda não sabia se repetiria no Brasil.

A abrangência do projeto a fez ignorar alertas desencorajadores a respeito de destinos pouco usuais. "Fomos à Somália e foi incrível. Os locais mais temidos são os mais interessantes."

E os quase cinco anos de viagens pesam de alguma forma?"Às vezes sinto saudade de estar em casa tomando uma xícara de chá, mas não sofro de solidão; o único problema é o cansaço."

Firme na toada meio hippie, meio "deboísta", Stone não quer saber de mimimi dos colegas, mesmo diante da ascensão de setores conservadores e de discursos odiosos.

"Tudo o que um artista pode fazer é ser o mais positivo possível. Não há uma canção que possa acabar com a fome, mas a positividade pode encorajar outras pessoas."

Xô, baixo-astral: "Se todas as minhas canções só dizem 'Foda-se o mundo' e 'Os seres humanos são todos um bando de canalhas', o que vou conseguir?"

Mas você não se abala nem quando Donald Trump, o iracundo presidente dos EUA, diz que o aquecimento global é fake news, insiste o repórter?

"Trump não vai ser presidente para sempre; outro idiota virá depois dele. Muitos discordam de mim, mas não me importo, só quero que as pessoas não sejam sempre negativas. Levante-se, plante uma flor, pegue uma criança no colo." Com informações da Folhapress.

JOSS STONE

QUANDO Qua. (5), às 21h30

ONDE Tom Brasil - r. Bragança Paulista, 1.281, São Paulo

PREÇO Ingr.: R$ 170 a R$ 620, pelo site ingressorapido.com.br

CLASSIFICAÇÃO 16 anos (menores entre 6 e 14 anos acompanhados dos pais)

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