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A quarta jornada de protestos dos "coletes amarelos", por toda a França, neste sábado (8), transcorreu em clima muito mais tranquilo do que a de uma semana atrás, que deixou um grande rastro de destruição (sobretudo em Paris) e mais de 260 feridos.
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Segundo balanço do Ministério do Interior divulgado no começo da noite (fim da tarde no Brasil), 125 mil pessoas compareceram às manifestações no país inteiro, um pouco menos do que as 136 mil do dia 1º -e bem abaixo do total registrado em 17 de novembro, primeiro dia dos atos, quando 282 mil pararam ruas e estradas.
A mobilização começou em contestação ao reajuste de uma taxa sobre os combustíveis, já anulado, mas se estendeu rapidamente para outras pautas, que giram em torno da recuperação do poder aquisitivo da classe média.
Na avenida Champs Elysées e em seus arredores, na capital, a batalha campal vista nos sábados anteriores -com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água pelo lado policial, e atos de vandalismo diversos na trincheira dos "coletes amarelos"- não se repetiu. Houve enfrentamentos pontuais, mas a situação não fugiu do controle.
O perímetro, um dos mais procurados por turistas em Paris, estava sitiado pela polícia. O comércio não abriu as portas (e protegeu suas vitrines com tapumes), e tampouco monumentos e museus das redondezas, como o Louvre, o Orsay e o Grand Palais.
Alguns grupos de "coletes amarelos", percebendo o cerco, dirigiram-se a bulevares ao norte dessa região, nos 8º e 9º distritos, onde carros foram incendiados e houve confrontos mais violentos com policiais, além de episódios de vandalismo contra lojas e mobiliário urbano.
No começo da noite, com a Champs Elysées evacuada, conflitos localizados eclodiam no entorno da praça da República, no 10º distrito.
O governo mobilizou 89 mil agentes para o dispositivo de segurança em escala nacional, 8.000 deles só na capital. A abordagem deles mudou em relação aos primeiros atos. O "laisser-faire" dos fins de semana anteriores deu lugar a intervenções rápidas e direcionadas para reprimir indivíduos e aglomerações considerados radicais.
O corpo a corpo se traduziu em um aumento do número de detenções (1.385, das quais 920 apenas em Paris, contra 682 no conjunto do país há uma semana) e de prisões (974 em escala nacional, 620 na capital, contra 630 na França toda em 1º/12).
Por outro lado, o governo contou 118 feridos, menos da metade da estimativa do terceiro dia de protestos (263).
"A situação está controlada, apesar de alguns focos de tensão ainda existirem", disse o titular do Interior. "Conseguimos conter a violência, mas ela permanece em um nível inaceitável."
O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, também se pronunciou brevemente.
"A hora do diálogo chegou. Ele já começou na Assembleia Nacional, em Matignon [residência oficial do premiê] e precisa continuar. Vamos recosturar a unidade do país pela conversa."
O fortíssimo esquema de segurança arquitetado para a capital a transformou no sábado numa cidade quase deserta. Além de museus e comércio, quase 40 estações de metrô foram fechadas, e 50 linhas de ônibus tiveram seu trajeto reduzido, alterado ou sua operação completamente suspensa.
No bairro de Saint-Germain-des-Prés, em que lojas e cafés vivem apinhados de turistas, a reportagem encontrou bulevares vazios e brasileiros sem saber muito para onde ir.
"Viemos de Londres para o aniversário de um amigo, mas o restaurante em que aconteceria a comemoração cancelou nossa reserva, porque não vai abrir hoje", disse o motoboy Julles Oliveira, 33, que visita a cidade pela primeira vez. "Também perdemos nosso ingresso para a Torre Eiffel, que está fechada."
Não longe dali, os barcos que oferecem cruzeiros pelo rio Sena, outro programa obrigatório para visitantes, navegavam muito abaixo de sua lotação.
Na outra margem do rio, grupos de três, quatro, às vezes cinco "coletes amarelos" tentavam se aproximar a pé da extremidade inferior da Champs Elysées, mas davam de cara com barras de contenção metálicas e acessos atravessados por viaturas policiais.
"Estou aqui pela terceira vez", afirmou a executiva Natalie, que não quis dar o sobrenome e chama o presidente Emmanuel Macron de déspota. "Queremos um referendo popular [sobre a transição energética do país, que a taxa contestada deveria financiar] e assembleias cidadãs regionais para discutir projetos de lei importantes."
Fora de Paris, os conflitos mais violentos entre manifestantes e policiais ocorreram em Nantes (oeste), Bordeaux (sul), Toulouse (idem) e Lyon (centro-leste).
Em Bruxelas, capital da Bélgica, também houve confrontos entre policiais e manifestantes vestindo coletes amarelos. Eles pedem a renúncia do premiê Charles Michel.
A polícia usou spray de pimenta contra um pequeno grupo que destruiu placas de trânsito e jogou garrafas e outros objetos enquanto tentavam furar uma barricada próximo ao Parlamento Europeu. A fronteira entre a Itália e a França na altura de Ventimiglia foi bloqueada pelos manifestantes, segundo a polícia local. A agência de notícias italiana Ansa citou informação do chefe da polícia de Imperia, Cesare Capocasa, de que o bloqueio estava causando uma fila de 6 km de carros entre os dois sentidos, na tarde deste sábado.
A polícia apreendeu objetos como martelos, tacos de baseball e bolas de bocha.
Na terça, Philippe anunciou a suspensão do aumento de impostos sobre os combustíveis por pelo menos seis meses.
"Estamos no local tentando manejar a situação de modo equilibrado", afirmou.
DE JOELHOSNa sexta-feira (7), um vídeo que mostra estudantes ajoelhados e algemados pela polícia viralizou e chocou franceses. Durante a gravação da cena, o autor da gravação afirma: "Vejam, isso sim é uma classe comportada". Nos protestos, pessoas de coletes amarelos protestaram simulando a posição à qual os estudantes foram submetidos no vídeo. Com informações da Folhapress.