Achei que fosse morrer, diz 15ª mulher a acusar João de Deus por abuso

Gaúcha foi assediada após ser levada pelo médium a uma sala do "hospital espiritual" em Abadiânia, em Goiás

© Cesar Itiberê/Fotos Publicas

Brasil Abadiânia 09/12/18 POR Notícias Ao Minuto

Após dez mulheres terem denunciado o médium João de Deus por abuso sexual no programa 'Conversa com Bial' desta testa terça-feira (7), novos casos semelhantes começaram a surgir. Neste domingo (9), o jornal 'O Globo' conversou com a 15ª mulher a acusar o líder religioso de assédio.

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A gaúcha, de 36 anos, diz que sofreu o abuso em 2013 ou 2014, após ser levada por João de Deus para uma sala do "hospital espiritual" em Abadiânia, em Goiás, onde o médium faz seus atendimentos. No local, ele fez um gesto como se tivesse incorporado uma entidade e passou a mão pelo corpo da vítima. Ela disse que pensava que ia morrer: "Foi muito sujo, muito traumático".

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Leia a seguir o relato da gaúcha na íntegra, divulgado pelo jornal 'O Globo':

"Fui pela primeira vez a Abadiânia em 2008 para fazer um tratamento espiritual, porque estava passando por problemas de saúde. Fui indicada por minha chefe, que havia dito que lá era uma casa idônea.  Eu me apaixonei pelo lugar, era fantástico, lindo.  Fui algumas vezes para lá, fiz amizades, mas não frequento mais devido ao que aconteceu.

Acredito que tenha sido em 2013 ou 2014, não posso precisar, porque não me lembro bem. Uma das amigas que eu fiz lá me disse que eu precisava entrar nessa sala com ele, que ela sempre entrava e a limpeza era diferente. Eu não sabia que tipo de limpeza era essa. Ele nunca me convidava para ir para a sala, porque via que eu tinha essa desconfiança. Mas um dia eu passei por ele e ele me disse: "pode ir!"

Era uma sala fechada, com uma porta de vidro, e nessa porta havia uma cortina de modo que quem estava na rua não conseguia enxergar o lado de dentro. Ficamos na sala, eu sentei no sofá e ele na poltrona, ele conversou comigo e depois abaixou a cabeça, fazendo um gesto como se estivesse incorporando uma entidade, mas eu não acredito que estivesse incorporado.

Ele me colocou deitada em um colchão no chão e foi me acariciando, toda hora eu abria os olhos. Então perguntei quem era a entidade que estava ali e ele me disse de maneira rude: é Joaquim. Depois, perguntei a outras pessoas quem era esse Joaquim e ninguém sabia, ele inventou esse nome. Ele passava a mão por todo meu corpo, inclusive nos meus seios e na minha genitália, passava muito a mão nas minhas pernas e dizia: "Você vai ver como vai melhorar. Eu preciso te curar."

Eu pensava que era parte do tratamento, mas quando ele me colocou no corredor, eu achei que fosse morrer, porque ele se esfregava em mim. Foi muito sujo, muito traumático. Ele me levou para esse corredor estreito, que dava num banheiro, e começou a me apalpar, se esfregar em mim. Me pressionou contra a parede, eu estava de costas para ele, e me dizia: "Está vendo que não está acontecendo nada comigo? Meu corpo não está reagindo contigo, isso faz parte de uma limpeza espiritual. Eu preciso limpar você".

Foi uma meia hora de pesadelo. Eu não conseguia reagir, porque tinha muito medo. Estou morrendo de medo de dar essa entrevista, porque sei que não estamos sozinhos nessa Terra e a espiritualidade é muito poderosa.  Quando eu estava de costas para ele, pressionada contra a parede, ele pegou minha mão, colocou nas partes íntimas dele e rebolava. Só de te falar isso me embrulha o estômago, eu fico com raiva.

Quando ele percebeu que eu estava cética diante do que estava acontecendo, e desconfiada, ele me expulsou da sala. Minha amiga perguntou como tinha sido e me disse: "não foi lindo?", eu disse que tinha sido horrível. Ele fez uma lavagem cerebral tão forte nessa amiga que ela acreditou que seria mulher dele. Às vezes a pessoa está tão frágil que acredita em qualquer coisa.  Uma outra amiga sofreu o mesmo tipo de assédio,  ela nunca mais foi lá, mudou totalmente de religião para superar o trauma e apagou tudo da mente.

Minha mãe, muito pura, também me perguntou como tinha sido a sessão de cura e eu nunca contei a ela. Eu voltei a Abadiânia uma vez depois disso, porque já tinha uma passagem comprada, mas não me consultei com ele e nem levei minha mãe, tinha medo que ela passasse pelo mesmo que passei.  Ela acredita muito na minha cura. Eu saí mais cedo do trabalho para assistir com ela a uma reprise do "Programa do Bial" e ela olhava e, sem saber que eu já tinha sido abusada, me dizia: "Acho que isso não vai dar em nada, isso já prescreveu".

Esses relatos vêm me causando revolta por tantas injustiças que aconteceram. É um monstro, que tem poder e o exerce sobre as outras pessoas de maneira tão suja. Tenho pesadelos horríveis com João de Deus, desde que fui abusada estou fazendo um tratamento com uma terapeuta. Acho que ele vai sempre negar que isso aconteceu, mas a justiça vai ser feita. Se não for a justiça dos homens, vai ser a justiça divina."

Leia também: 'Bolsonaro não tem um projeto para o País', afirma Luciano Huck

 

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