Homem invade missa, deixa quatro mortos e se mata em Campinas

As vítimas ainda não foram identificadas, a polícia investiga a motivação do crime

© REUTERS/Amanda Perobelli

Justiça São Paulo 11/12/18 POR Folhapress

 

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Quatro homens foram mortos e outras quatro pessoas foram feridas por um atirador na Catedral Metropolitana de Campinas (SP) no início da tarde desta terça-feira (11). O criminoso, identificado como Euler Fernando Grandolpho, 49, entrou na igreja, sentou-se entre os fiéis e passou a disparar contra os presentes logo após o final da missa.

Segundo a Polícia Militar, o atirador se matou após o ataque -ele portava uma pistola 9 mm e mais um revólver calibre 38-as duas armas estavam com as suas numerações raspadas. A motivação do ataque ainda é desconhecida.

De acordo com o delegado José Henrique Ventura, de Campinas, o atirador não tinha passagens pela polícia. Nos dois únicos boletins de ocorrência registrados com seu nome ele aparece como vítima.

Os tiros foram disparados após a missa das 12h15, que é realizada no mesmo horário todos os dias. A PM diz ter registrado um chamado pelo 190 às 13h25. Uma câmera do circuito interno da catedral mostra ação do atirador. No vídeo, obtido pela Folha de S.Paulo, ele de repente se levanta e passa a disparar contra um grupo de pessoas sentadas logo atrás dele.

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O atirador em seguida caminha para a frente da igreja e começa a disparar contra os policiais que entraram na catedral para rendê-lo. Euler ainda teve tempo de trocar o pente da pistola até ser atingido no tórax. Caído, mas ainda consciente, disparou contra a própria cabeça. Ele ainda tinha 28 balas em pentes na mochila.

"Entrei na igreja, a missa já havia terminado. Alguns minutos depois o atirador entrou e se posicionou na frente de um casal e atirou", conta o aposentado Pedro Rodrigues, 66. "Eu saí correndo, não houve gritaria apenas correria. E ele continuou atirando. Eu tenho muita sorte de estar vivo."

A assistente-administrativo Luciana de Oliveira, 36, disse ter ouvido um grande número de disparos, quando passava perto do templo. "Ouvimos muitos tiros e as pessoas gritando, chorando. Vimos o homem baleado no peito saindo de maca. Foi horrível".

O entorno da igreja, região comercial, estava cheio no momento do crime, devido à proximidade do Natal. Por isso, o policiamento na área também era reforçado, o que agilizou a chegada dos policiais ao local.

Moradora de rua, Artemis José de Oliveira, 40, conta que viu os feridos saindo da igreja. "Ouvi os tiros e vi um senhor com sangue no ombro saindo e uma senhora também baleada que caiu na porta. A polícia saiu atirando na porta pra dentro da igreja. Teve troca de tiro", afirma. "Pensei nos fiéis da igreja que sempre nos ajudam. Foi horrível".

+'Ele não disse nada antes de atirar. As pessoas começaram a correr'

"A intenção era atirar. Ele já atirou 'fatalizando' as pessoas. Não tinha nenhum motivo específico que não fosse a loucura dele", disse o secretário municipal de Segurança de Campinas, Luiz Augusto Baggio.

A Catedral de Nossa Senhora da Conceição fica na principal área comercial da cidade. Por meio de nota, a arquidiocese de Campinas informou que a catedral está fechada para o atendimento às vítimas e para as investigações da polícia. "Contamos com as orações de todos neste momento de profunda dor", segundo trecho do comunicado.

O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), decretou luto oficial de três dias, a contar a partir desta terça-feira (11).

VÍTIMAS

Atingidos pelo atirador, José Eudes Gonzaga Ferreira, 68, Eupidio Alves Coutinho, 67, Sidnei Vitor Monteiro, 39, e Cristofer Gonçalves dos Santos, 38, não resistiram aos ferimentos e morreram no local. Outras quatro pessoas foram baleadas e socorridas pelos bombeiros e pelos médicos do Samu.

Silvio Antônio Monteiro, 47, deixou a mãe Jandira Prado Monteiro, 62, dona de casa, no ponto de ônibus e ela seguiu para o centro de Campinas onde se encontraria com o filho Sidnei para irem ao dentista juntos. Ambos combinaram de se encontrar na catedral. Mãe e filho moravam em Hortolândia.

+'Sem intervenção policial, eram mais dez, vinte mortos' diz delegado

"Eu não consigo acreditar no que aconteceu. Hoje é meu aniversário e olhem o presente que ganhei", disse. A mãe precisou operar a mão e clavícula. Passa bem mas não sabe que o filho morreu. "Dissemos a ela que ele está bem cuidado. Eles eram muito próximos, não sei como vai ser".

Sidnei era eletricista na Unicamp, casado e tinha uma enteada. Era o caçula de três filhos de dona Jandira e seu Milton Candido Monteiro, 71, que também trabalha na Unicamp.

O irmão soube da tragédia quando recebeu ligações do hospital no celular, mas como estava trabalhando não conseguiu atender. Mais tarde foi contatado de novo e levado para o hospital

"Era o caçula querido. E uma mulher que só sai para ir à Igreja e ao dentista acontecer uma coisa dessas? Meu Deus", diz ele, casado há 50 anos.

+‘Ninguém pôde fazer nada; foram mais de 20 tiros’, conta padre

Silvio estava no trabalho quando, por volta das 14h30, recebeu ligações do hospital contando que a mãe e o irmão foram vitimados. "Aí veio o aperto", afirma. "Ela [mãe] fala dez vezes por hora no nome dele [Sidnei]. A gente diz que está bem, não sabemos como contar. A família está destruída."

A empregada doméstica Edna Rodrigues, 58, soube do atentado quando viu a notícia na TV, no trabalho. "Fiquei apavorada. Minha irmã não sai da igreja", disse ela, sobre a irmã, Lourdes, 78. Recebeu ligações da família dizendo que a irmã estaria morta e correu para o IML do cemitério dos Amarais. "Eu vim para cá, outro foi para outro cemitério, outro foi para o hospital. Ficamos desesperados", conta.

No IML, soube que a irmã estava no hospital, em bom estado de saúde, que havia sido atingida de raspão e não precisaria ser operada.

"Graças a deus, que alívio. Mas não vou sair daqui. Quero ver a cara dele [atirador]. O que ele fez não se faz."

Os bombeiros informaram que alguns dos sobreviventes passaram por cirurgia para a retirada dos projéteis que atingiram partes vitais. O estado de saúde deles não foi divulgado.

ESTATUTO DO DESARMAMENTO

A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) provocou uma nova discussão sobre ampliar o acesso a armas para autodefesa. Durante a campanha, ele prometeu revogar o estatuto caso fosse eleito. Para fazer isso, porém, é necessária aprovação do Congresso.

Aprovado em dezembro de 2003, o Estatuto do Desarmamento limitou a posse de armas no país e tirou milhares de armamentos das ruas. Até o início de 2014, quase 650 mil armas de fogo foram entregues voluntariamente pela população.

+Ataque em igreja ocorre em meio a debate da liberação de armas no país

Atualmente, 55% dos brasileiros acham que as armas devem ser proibidas por representarem ameaça à vida dos outros, e 41% avaliam que possuir uma arma legalizada deve ser direito do cidadão que queira se defender. Os dados são de pesquisa Datafolha de outubro deste ano.

Em novembro de 2013, 68% achavam que as armas deveriam ser proibidas, e só 30% queriam armas liberadas. De um lado deste debate está a hipótese da letalidade, em que o aumento de armas leva ao avanço dos conflitos com mortes, além da redução dos custos dos criminosos para obterem armas -porque preços no mercado paralelo caem ou porque fica mais fácil se apropriar de armas legais.

No extremo oposto, está a hipótese do uso defensivo de armas, segundo a qual a proliferação de armamentos diminuiria a incidência de crimes ao mudar o cálculo de risco de criminosos. Eles seriam desencorajados do enfrentamento diante da maior probabilidade de encontrarem resistência inesperada por parte da vítima. Lei federal de 2003, o Estatuto do Desarmamento regula o acesso a armas e restringiu o porte e a posse em todo o país. Ainda assim, em média seis armas são vendidas por hora no mercado civil nacional. Neste ano, até 22 de agosto, haviam sido vendidas 34.731 armas no país.

Com informações da Folhapress.

 

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