Denúncias contra João de Deus também chegam por PABX e via maridos

Para a promotora Gabriela Manssur, a divulgação dos casos encoraja outras mulheres a fazerem denúncias

© Arthur Veríssimo

Brasil MÉDIUM 11/12/18 POR Folhapress

As denúncias de abusos sexuais contra o médium João Teixeira de Faria, 76, conhecido como João de Deus, não param de chegar para promotoras do Ministério Público de São Paulo.

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"Estão vindo de todos os lados. Chegam pelas redes sociais pessoais [das promotoras] e oficiais do Ministério Público. Pelo WhatsApp, Telegram, Facebook, email pessoal e institucional e até por colegas, que conhecem vítimas, e nos avisam", afirma a promotora Silvia Chakian.

No sábado (8), 13 mulheres contaram ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, e ao jornal O Globo terem sido violentadas sexualmente pelo medium. Desde então, dezenas de mulheres já relataram à imprensa ou às autoridades terem sido vítimas de crime sexual cometido por João de Deus.

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Para a promotora Gabriela Manssur, a divulgação dos casos encoraja outras mulheres a fazerem denúncias. "É impressionante o efeito cascata. Desde sexta-feira, a cada hora vem um email, WhatsApp, ligação, um pedido de ajuda de todo o Brasil", diz.

Manssur afirma que até maridos têm procurado o Ministério Público para denunciar situações que afetaram suas companheiras.

"Pelos relatos que estamos recebendo, não há nenhum elo entre essas pessoas. São perfis diferentes. Você percebe que é uma narrativa com sentimento, verdade e sede de Justiça", conta.

A promotora Valéria Scarance, coordenadora do núcleo de gênero do MPE-SP, diz que amigos e parentes de vítimas entraram em contato para denunciar. "Tem gente que ligou até para a assessoria de imprensa do Ministério Público, ligaram para todo mundo", diz.

As promotoras participam da força-tarefa montada pelo Ministério Público de São Paulo para receber as denúncias. Promotorias de outros estados, como Goiás, Maranhão e Rio de Janeiro, também montaram equipes e canais de comunicação específicos para o caso.

Até a tarde desta terça-feira, o Ministério Público de Goiás realizou 206 atendimentos, a maioria por email, a mulheres que se apresentam como vítimas de João de Deus.

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"Elas se identificaram como sendo de Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. O MPE-MG informou que fez dois atendimentos hoje", afirmou a Promotoria de Goiás, por meio de nota.

Em São Paulo, os primeiros depoimentos começam nesta terça-feira (11) e vão se prolongar até janeiro –na próxima semana, a Promotoria entra em recesso. "Temos dez oitivas agendadas até esta sexta-feira (11), com cerca de três ou quatro mulheres por dia", diz Manssur.

A força-tarefa inclui três setores do MPE-SP: o Centro de Apoio Criminal, o Núcleo de Gênero e a Promotoria de enfrentamento à violência contra mulher.

Segundo as promotoras, o trabalho agora é transformar essas comunicações informais em depoimentos presenciais. A força-tarefa então encaminhará o material para a Promotoria de Goiás, que pode entrar com um processo contra o médium.

A defesa de João de Deus nega as acusações. O advogado do médium, Alberto Toron, diz que ele recebeu com "indignação" a notícia de que é acusado de crime sexual e está à disposição das autoridades para esclarecimentos. Ele critica a falta de identificação de parte das mulheres -que argumentam temer represálias.

Segundo a força-tarefa em São Paulo, apenas na manhã de segunda-feira chegaram 12 emails. "No total são 40 relatos, ainda que informalmente, de fatos graves", diz Manssur.

As promotoras afirmam que ainda não é possível afirmar o número exato de denúncias, porque é preciso que as mulheres compareçam ao Ministério Público e formalizem o depoimento.

"Existe um grupo de mulheres que foram vítimas de abusos [do médium], que já estava reunido, e me procurou. Neste grupo tem mais de 200. Só que elas ainda não querem se identificar, são relatos, então não dá para considerar isso como número de vítimas", afirma Manssur.

Segundo avaliação do Ministério Público de Goiás e das três promotoras, depoimentos das vítimas são provas suficientes para embasar uma condenação por crimes sexuais. Com informações da Folhapress.

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