© Reprodução/EPTV
Um dia depois do ataque a tiros que terminou com cinco mortos, incluindo o autor dos disparos, e mais quatro feridos, a Catedral Metropolitana de Campinas (SP) reabriu as portas nesta quarta-feira (12) para homenagear as vítimas que foram assassinadas no templo.
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O horário da celebração é simbólico: a missa do meio-dia foi a mesma em que o atirador Euler Fernando Gradolpho, 49, atacou os fiéis e, na sequência, se matou nesta terça (11).
Gradolpho portava uma pistola 9 mm e mais um revólver calibre 38 -as duas armas estavam com as suas numerações raspadas. A motivação do ataque ainda é desconhecida.
De acordo com o delegado José Henrique Ventura, de Campinas, o atirador não tinha passagens pela polícia. Nos dois únicos boletins de ocorrência registrados com seu nome ele aparece como vítima.
A igreja ficou fechada por 24 horas -período usado para a limpeza e a realização de perícia no espaço. Marcada por muita emoção, a missa atraiu muitos fiéis.
O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), decretou luto oficial de três dias, a contar a partir desta terça.
CATEDRAL
A Catedral de Nossa Senhora da Conceição fica na principal área comercial da cidade e é muito querida pelos campineiros.
O templo, de estilo neoclássico, foi inaugurado em 8 de dezembro de 1883, após 76 anos de obras sucessivamente interrompidas por falta de recursos.
O projeto final da construção foi concluído por Ramos de Azevedo, que incluiu um sistema de iluminação a gás no templo, uma novidade à época. Em 1908, a matriz foi elevada ao status de catedral.
O prédio também ganhou um tesouro no ano de sua inauguração: um órgão de tração mecânica construído pelo francês Aristide Cavaillé-Coll.
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VÍTIMAS
Atingidos pelo atirador, José Eudes Gonzaga Ferreira, 68, Eupidio Alves Coutinho, 67, Sidnei Vitor Monteiro, 39, e Cristofer Gonçalves dos Santos, 38, não resistiram aos ferimentos e morreram no local. Outras quatro pessoas foram baleadas e socorridas pelos bombeiros e pelos médicos do Samu.
Silvio Antônio Monteiro, 47, deixou a mãe Jandira Prado Monteiro, 62, dona de casa, no ponto de ônibus e ela seguiu para o centro de Campinas onde se encontraria com o filho Sidnei para irem ao dentista juntos. Ambos combinaram de se encontrar na catedral. Mãe e filho moravam em Hortolândia.
"Eu não consigo acreditar no que aconteceu. Hoje é meu aniversário e olhem o presente que ganhei", disse. A mãe precisou operar a mão e a clavícula. Passa bem mas não sabe que o filho morreu. "Dissemos a ela que ele está bem cuidado. Eles eram muito próximos, não sei como vai ser".
Sidnei era eletricista na Unicamp, casado e tinha uma enteada. Era o caçula de três filhos de dona Jandira e seu Milton Candido Monteiro, 71, que também trabalha na Unicamp.
O irmão soube da tragédia quando recebeu ligações do hospital no celular, mas como estava trabalhando não conseguiu atender. Mais tarde foi contatado de novo e levado para o hospital.
"Era o caçula querido. E uma mulher que só sai para ir à Igreja e ao dentista acontecer uma coisa dessas? Meu Deus", diz ele, casado há 50 anos.
Silvio estava no trabalho quando, por volta das 14h30, recebeu ligações do hospital contando que a mãe e o irmão foram vitimados. "Aí veio o aperto", afirma. "Ela [mãe] fala dez vezes por hora no nome dele [Sidnei]. A gente diz que está bem, não sabemos como contar. A família está destruída."
José Eudes Gonzaga Ferreira, 68, estava na missa com a mulher, Maria de Fátima. Ela tomou um tiro na coxa e passa bem. Ele morreu na hora. "Eles são muito devotos, vivem na missa", conta o filho, Douglas Ferreira, 38.
A família foi ao IML do cemitério dos Amarais para reconhecer o corpo, mas deixou o local ao serem avisados pela polícia de que o procedimento não era necessário. O mesmo ocorreu com um filho e sobrinhos de Eupidio Coutinho, 67.
A empregada doméstica Edna Rodrigues, 58, soube do atentado quando viu a notícia na TV, no trabalho. "Fiquei apavorada. Minha irmã não sai da igreja", disse ela, sobre a irmã, Lourdes, 78. Recebeu ligações da família dizendo que a irmã estaria morta e correu para o IML do cemitério dos Amarais. "Eu vim para cá, outro foi para outro cemitério, outro foi para o hospital. Ficamos desesperados", conta.
No IML, soube que a irmã estava no hospital, em bom estado de saúde, que havia sido atingida de raspão e não precisaria ser operada. "Graças a deus, que alívio. Mas não vou sair daqui. Quero ver a cara dele [atirador]. O que ele fez não se faz."
Dois feridos continuam internados. Jandira Prado Monteiro deve ter alta nesta quarta. Heleno Severo Alves passou por cirurgia e não tem previsão de alta. Os outros dois feridos já foram liberados. Com informações da Folhapress.