© Eduardo Castaldo/HBO
FRANCESCA ANGIOLILLO - Esqueçam-se as reservas que se poderia fazer ao primeiro episódio da adaptação de "A Amiga Genial" dirigida por Saverio Costanzo para a HBO. Nos sete outros capítulos que compõem a temporada, a série só aprimorou o que havia de bom na estreia.
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Se no começo do segundo capítulo ainda se podia lamentar a falta que fariam as pequenas intérpretes de Lila e Lenu, Ludovica Nasti e Elisa del Genio, rapidamente ganham titularidade suas versões adolescentes, Gaia Girace e Margherita Mazzucco.
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A série consegue repetir a proeza do primeiro romance da tetralogia de Elena Ferrante, que fazia a linguagem evoluir conforme cresciam suas protagonistas.
Aqui também é possível não só aceitar mas de fato acreditar que aquelas meninas se tornaram estas moças, com as mesmas atrizes representando-as tão bem como garotas de 13 ou de 16 anos.
A direção ressalta as qualidades das atrizes novatas, fazendo com que certos gestos e atitudes que pontuam sua atuação contida se mantenham na troca das crianças pelas jovens.
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Também o bairro evolui, em suas complexas relações que sintetizam o panorama do período. Vemos se desenrolarem as tensões de uma Itália que tenta se recuperar no pós-Guerra, a tomada de consciência da nova geração e a sensação de imobilismo, apesar dos esforços empreendidos.
A adaptação televisiva - poderia-se dizer cinematográfica - honra o essencial do livro sem que qualquer das necessárias modificações represente para o leitor feito espectador uma decepção. O trabalho visual é sutil, porém determinante, na composição dramatúrgica.
A paleta em tons de ocre e verde do bairro, que se repetia no figurino das personagens, ganha a função de se opor aos tons que entram em cena quando vemos surgir Nápoles.
A cidade, quase uma miragem para os habitantes do bairro, introduz novas cores; mesmo as das roupas se tornam outras quando as personagens começam suas incursões em territórios desconhecidos.
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Outros matizes se desdobram no importante sexto capítulo, ponto de inflexão para a trama. Pela janela entra a luz de um verão à beira-mar e, com ela, outras novidades na vida de Lenu e Lila.
Discretas mudanças no vestuário colaboram para fazer crescerem as meninas - os vestidos se alongam e se acinturam, o colo aparece, o penteado muda aqui e ali.Se o leitor não retorna ao livro - embora para muitos possa ser grande a tentação de fazê-lo - é possível que levante a sobrancelha e se pergunte: "Mas Nino dá mesmo essa explicação? Não lembro! E Lila diria essa frase contemporizadora? Lenu fez assim tão claramente esse resumo de tal ou qual situação?".
As interrogações aqui postas são vagas e, voluntariamente, foram ignoradas por esta resenhista. A falta de desejo por conferir quão literal é o que se diz na tela é a prova de que a série conquistou seu direito a ser reconhecida como obra autônoma.
Mesmo para os que leram os quatro romances de Ferrante, é como ver a história se desenrolar pela primeira vez; uma espécie de mágica.
Talvez se possa ponderar que, na leitura, a tensão é mais aguda do que na TV, o que é especialmente notável no fim do último episódio.
É natural que assim seja - o leitor dosa sua atenção e dirige seu foco para o principal do narrado, enquanto o espectador tem sua concentração dividida com as imagens que necessariamente compõem o pano de fundo na tela.
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Ainda assim, a série produz a mesma expectativa melancólica que provocava o fim de cada livro - e a vontade de atrasar o final por saber que haverá que esperar um ano inteiro para ver como continua a história.
A AMIGA GENIAL
QUANDO reprises ter (18) às 18h10, qua (19) às 15h05, qui (20) às 22h e sáb (22) às 11h50
ONDE temporada completa disponível no HBOGo
AVALIAÇÃO Ótimo