© Marcelo Camargo/Agência Brasil
João Teixeira de Farias, conhecido como João de Deus, negou nesta semana em depoimento à Polícia Civil ter abusado sexualmente de mulheres durante seus atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital espiritual que ele fundou em Abadiânia (GO).
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O médium foi questionado pela polícia sobre três supostas vítimas. Disse que o relato de uma delas não é verdadeiro e que nem sequer se recorda das outras duas.
Veja a versão dada por ele à polícia sobre atendimentos, denúncias de abuso sexual e ocultação de patrimônio.
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CASA DOM INÁCIO
João de Deus afirma que a maioria dos atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola ocorrem em ambientes coletivos. Disse que os frequentadores são dispostos numa sala. Ele fica em uma segunda, a Sala do Equilíbrio, que comporta cerca de 200 pessoas sentadas.
INDIVIDUALIZADO
João de Deus diz que os atendimentos individualizados ocorrem em uma sala, mas são exceção. Alega que a porta é transparente e que nunca a trancou, mas que alguns pacientes já o fizeram.
Há também duas janelas e, segundo o médium, uma sempre fica aberta. Por isso, diz ele, é possível ver de fora o que ocorre do lado de dentro. Ele diz que atendimentos individualizados são feitos a critério dos pacientes.
VIOLAÇÕES
O médium negou ter molestado pacientes. Ele foi questionado sobre os casos de três supostas vítimas. Um deles, considerado o principal pela polícia, é o de uma mulher que sustenta ter sido levada para atendimento individualizado e massageada na região sob o ventre. Ela teria notado que o médium estava com o pênis de fora.
João de Deus disse se lembrar do atendimento, em 24 de outubro, e negou o abuso. Contou que a suposta vítima é administradora de um centro espírita que ele ajudou e que ela pretende "assumir". Afirmou que a mulher tem nível superior, "sabe o que está alegando" e cobrou exame que prove o ocorrido.
Os investigadores relataram denúncias de outras duas mulheres, de casos mais antigos, mas o médium disse não se lembrar delas.
Menores de 18 anos
João de Deus negou que haja em seu centro de cirurgias espirituais abuso sexual de crianças e adolescentes.
Dalva Teixeira, filha dele, hoje com 49 anos, disse ter sido vítima do pai quando tinha entre 10 e 14 anos. Ele nega –a defesa cita vídeo de 2017 em que ela voltou atrás.
AMEAÇAS
A Promotoria e a polícia receberam centenas de relatos de abusos sexuais. João de Deus atribuiu a grande quantidade de denúncias nas últimas semanas a um suposto esquema para destruí-lo.
Ele diz ter recebido telefonema em sua casa, sem recordar a data, e que um homem o teria ameaçado: "Eu tenho 50 pessoas para acabar com você. Se você colocar 100, eu coloco 200. Se você aumentar isso, eu coloco mil. Eu vou acabar com você!", teria dito o interlocutor.
O médium afirmou que o telefonema foi feito para o celular de um frequentador da casa espiritual, do qual não se recorda o nome. Também disse, sem dar detalhes, que uma mulher do Rio lhe disse ter recebido proposta de TV para acabar com ele.
CONTA BANCÁRIA
O Ministério Público diz que a movimentação de R$ 35 milhões em contas atribuídas ao médium, após o escândalo vir à tona, levantaram suspeitas de ocultação de patrimônio e plano de fuga.
A defesa de João de Deus nega qualquer resgate ou movimentação. Ele disse que "apenas pagou alguns funcionários com cheques nominais". "Não tem esse negócio de milhões", declarou.
TRATAMENTOS
Os pacientes que procuram a Casa Dom Inácio de Loyola recebem atendimento espiritual, mas, segundo João de Deus disse em seu depoimento, eles são orientados a não interromper os tratamentos convencionais, com médicos. São prescritos "medicamentos" fabricados no próprio centro espírita.
"Os frequentadores não sofrem coação para adquirir os remédios e também existe auxílio a frequentadores sem condições financeiras", afirmou. O médium sustenta que quem faz as cirurgias é Deus. Alega que já usou a técnica de incisão, mas não mais. Nunca ninguém morreu, segundo ele, em decorrência dos atendimentos. Com informações da Folhapress.