© Nacho Doce / Reuters
Famílias sobreviventes do incêndio e desabamento do prédio Wilton Paes de Almeida, no largo do Paissandu, centro de SP, que deixou nove mortos em maio, relatam a dificuldade de reconquistar coisas simples como ter um trabalho, um prato de comida e uma casa para voltar.
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Apesar da falta de infraestrutura que enfrentavam no "prédio de vidro", como era conhecido o edifício, alguns dos ex-moradores dizem sentir falta do companheirismo entre os que lá viviam. "Sinto falta do convívio. Éramos uma grande família. Agora estão todos longe", afirma a dona de casa Francisca Santos Silva, 41.
A desempregada Ana Paula Arcanjo dos Santos, 46, ainda chora ao lembrar da noite da tragédia. Ela morava na ocupação com o marido, cinco filhos e quatro netos havia sete anos. Todos saíram com a roupa do corpo. Ela perdeu o emprego de doméstica e ficou no largo com a família por três meses. "Fomos ficando até conseguir o auxílio-moradia", diz. Com parte do benefício, Ana Paula e o marido pagam R$ 500 no aluguel de uma pequena casa na Brasilândia (zona norte). Ainda vivem de bico. "Este Natal vai ser bem triste. Mas o importante é que estamos todos juntos e com saúde. Espero que em 2019 a gente consiga se reerguer", afirmou.
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A vendedora desempregada Jéssica Mattos, 21, também espera por dias melhores. Ela, a mãe, Noemi Gomes Mattos, 57, e a irmã Ingrid, 13, moraram no "prédio de vidro" por oito anos. Há oito meses não sabem o que é ter um endereço fixo.
"A gente já se mudou várias vezes. Fomos para uma pensão, um quarto e cozinha e agora estamos em outro quarto na Liberdade. Mesmo com o auxílio-moradia, não conseguimos um lugar bom. Não conseguimos emprego e vivemos praticamente de doações", diz. Apesar das dificuldades, Jéssica, Noemi e Ingrid esperaram poder celebrar o Natal. "Onde vamos passar o Natal? Juntas, as três, como sempre estivemos. Já no Ano Novo espero que a gente consiga trabalho e moradia digna."
Ao passar em frente ao terreno onde ficava o edifício Wilson Paes de Almeida, no largo do Paissandu, a dona de casa Francisca Santos da Silva, 41, disse que o sentimento é de vazio e de saudade. "Parece que não, mas tínhamos amigos ali. Ali era nossa casa. Agora é só entulho. É claro que sinto saudades", afirma.
Francisca, o marido e os cinco filhos, com idades entre 2 e 15 anos, moravam havia dois anos no terceiro andar do prédio. Ela conta que estavam todos em casa na noite do incêndio, mas conseguiram escapar logo no início das chamas. "Não tínhamos para onde ir, então ficamos na praça por três meses. Fomos uma das últimas famílias a sair. Sou grata a Deus porque estamos vivos. Mas perdemos tudo", diz.
Antes do desabamento, Francisca fazia faxina e o marido trabalhava como ajudante de pedreiro. Hoje vivem de bico. Ela lava, passa e cuida de crianças. Ele trabalha como carroceiro. Não conseguem mais emprego fixo. Com os R$ 400 do auxílio-moradia da prefeitura, pagam por um quarto e cozinha em uma pensão na Sé (região central). A operadora de telemarketing Ingrid Rodrigues de Oliveira Lima, 28, ainda não sabe avaliar se a vida que leva hoje é melhor do no prédio de vidro, onde morou por um ano e meio com dois sobrinhos que cuidava.
"A vida lá era muito ruim. Era tudo de madeira, improvisado. Mas aqui é ruim também. É um sacrifício conseguir pagar o aluguel todo mês", afirma a jovem. Hoje ela mora sozinha em um quarto e cozinha no Itaim Paulista (zona leste). Paga parte do aluguel de R$ 600, fora as despesas com água e luz, com os R$ 400 do auxílio-moradia.
Logo após o desabamento do prédio, ela e os dois meninos foram levados para o abrigo oferecido pela Prefeitura de São Paulo no Complexo Prates, na região central. "Mas lá não era lugar para ficar com crianças, e os avós paternos decidiram levá-las para criar", afirma. Como se não bastasse ter perdido sua moradia, Ingrid também foi demitida do emprego. "Não ganhava bem, mas tinha um salário melhor do que eu tenho hoje. Está sendo difícil reconstruir a minha vida", diz Ingrid, que pretende passar o Natal com as irmãs, que também moravam no prédio e hoje vivem em casas alugadas na periferia da capital. "Estaremos juntas, com certeza."
A Secretaria Municipal de Habitação, da gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), disse que atualmente 291 famílias que comprovaram morar na ocupação do Wilton Paes de Almeida recebem auxílio-moradia de R$ 400.
A secretaria disse que os primeiros 12 meses do auxílio-moradia serão pagos pelo governo do estado. Após esse prazo, o benefício continuará sendo pago com verba do município até que as 291 famílias recebam a moradia definitiva. Porém, será respeitada a fila de moradia existente na cidade, com 28 mil famílias recebendo o auxílio-aluguel e aguardado imóvel. Com informações da Folhapress.