© Reprodução / Facebook / LUCIANO HANG
O empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas de departamento Havan, afirmou nesta quarta-feira (26) que Caetano Veloso e Gilberto Gil "já estavam do lado errado e continuam até hoje" e que "Poderiam ter feito a abertura política, mas jamais a anistia dos que afrontaram a democracia e queriam implantar o comunismo".
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Os comentários foram feitos em publicações nas contas do empresário no Twitter e no Facebook nas quais compartilhou a reportagem da Folha de S.Paulo "Há 50 anos, prisão de Gil e Caetano elevava terror pós-AI-5 e matava a tropicália".
"Nada acontece por acaso. Poderiam ter feito a abertura política mas jamais a anistia dos que afrontaram a democracia e queriam implantar o comunismo. Foi o maior erro do governo militar e estamos pagando esta conta até hoje", escreveu o empresário.
Em publicação anterior no Twitter, ele incluiu o link da reportagem e comentou: "Na época já estavam do lado errado e continuam até os dias de hoje".
A Lei da Anistia, promulgada em 1979, livrou de efeitos as condenações a pessoas que praticaram crimes políticos no regime militar (1964-1985), incluindo atos de grupos revolucionários e torturas de militares.Caetano e Gil não foram processados pela acusação de desrespeito a símbolos nacionais - portanto, não tiveram condenação, e se beneficiaram da Anistia indiretamente.
"O empresário faz uma série de confusões. Primeiro, sobre o real sentido da Anistia, de pedir perdão às pessoas atingidas por atos institucionais, garantir a volta dos exilados e permitir a atuação da oposição no retorno à democracia", diz Emilio Peluso Neder Meyer, 38, professor de direito constitucional da UFMG e coordenador do centro de estudos da entidade sobre justiça de transição.
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Segundo ele, "é fake news dizer que o maior erro do governo militar foi anistiar quem atentou contra a democracia. Que democracia? Era um regime ditatorial. As pessoas exerceram direito de resistência".
Para o professor, Hang confunde divergências; Caetano e Gil tinham uma demanda por liberdade artística, ele diz, não por comunismo.
"É uma pessoa que não conhece o autoritarismo e cuja afirmação esdrúxula difunde inverdades como forma de fazer política. Embora não tenha cargo no governo, é influente e sua postura sinaliza uma tendência perigosa."
Hang, que foi filiado ao MDB até 2017, foi um dos principais cabos eleitorais do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Ele foi citado em reportagem sobre empresários que bancaram campanha contra o PT pelo WhatsApp.
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Ele participou de diversos eventos ao lado do então candidato e gravou vídeos de apoio - numa das peças, afirmou que "A Havan neste mês vai crescer 45%. Sabe por quê? Porque eu falo a verdade. Quanto mais eu malho o PT, a esquerda, mais eu vendo, entendeu?".
O empresário chegou a ser processado por Fernando Haddad, candidato do PT, sob acusação de ter coagido seus funcionários a votar em Bolsonaro, mas a ação foi arquivada pelo TSE.
Uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em Santa Catarina, ainda pendente de julgamento, pede a cobrança de multas e indenizações de até R$ 100 milhões da Havan e de seu dono sob a acusação de coagirem funcionários a votar em Bolsonaro.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Havan, de propriedade de Hang, mas não teve resposta.
A reportagem tentava esclarecer se ao criticar a Lei da Anistia o empresário quis dizer que ela beneficiou Caetano e Gil, e se na visão dele os artistas "afrontaram a democracia e queriam implantar o comunismo".
O texto da Folha de S.Paulo compartilhado por Hang lembra os 50 anos da detenção da dupla, em 27 de dezembro de 1968, em São Paulo, sob a acusação - que depois não se confirmou - de que teriam desrespeitado a bandeira do Brasil e o hino nacional durante um show.
A prisão aconteceu 14 dias após a decretação do AI-5, o mais duro ato institucional do regime, que revogou direitos e garantias e marcou o recrudescimento do regime que assumira o poder em 1964.
A reportagem rememora que Caetano e Gil foram presos sem mandado judicial, acusação, análise de provas ou direito de defesa.
Os artistas só foram informados sobre o motivo da detenção após mais de um mês recolhidos em um quartel da Polícia do Exército, com os cabelos raspados e testemunhando torturas contra outros presos.
Mesmo depois de inocentados, eles seguiram presos por um mês até serem soltos - em prisão domiciliar, proibidos de trabalhar e obrigados a se apresentar todos os dias na Polícia Federal.
A rotina de monitoramentos e repressão só foi interrompida em julho de 1969, com o exílio dos dois em Londres, onde viveram durante dois anos e meio até retornarem ao país. Com informações da Folhapress.