Igreja Ortodoxa da Ucrânia se separa de Moscou

Trata-se do maior cisma cristão desde a reforma protestante do século 16

© HUSEYIN ALDEMIR / Reuters

Mundo Marco 05/01/19 POR Folhapress com IGOR GIELOW

A nova Igreja Ortodoxa da Ucrânia foi reconhecida neste sábado (5) pelo líder espiritual desse ramo do cristianismo, o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu. É o maior cisma cristão desde a reforma protestante do século 16 e um importante capítulo na disputa entre russos e ucranianos.

PUB

Bartolomeu irá finalizar o processo editando no domingo (6) o "tomos", um documento assinado neste sábado que confirma a criação da nova igreja, fundada oficialmente no dia 15 de dezembro passado. Na cerimônia em Istambul, cidade turca antes conhecida como Constantinopla, foi ungido líder da denominação o agora metropolitano Epifânio.

O reconhecimento é uma derrota para Vladimir Putin, o presidente russo que vinha comparando o movimento de autonomia com o grande cisma que dividiu o cristianismo entre católicos romanos e ortodoxos, em 1054. Putin falou até em "derramamento de sangue" como consequência do evento.

Religião à parte, a questão é política. A Ucrânia tinha três denominações ortodoxas, a principal dela subordinada ao Patriarcado de Moscou, que é fortemente alinhado ao Kremlin. Seu líder, Cirilo, chama Putin de "milagre de Deus", e ao longo de seus quase 20 anos no poder o presidente usou a religião para galvanizar apoio ao seu projeto nacionalista.

+ Tiroteio em boliche de Los Angeles deixa três mortos e quatro feridos

+ 'Coletes amarelos' fazem primeira mobilização do ano

Desde que um golpe derrubou o governo pró-Moscou em Kiev, em 2014, a Rússia passou a intervir militarmente no vizinho. Anexou a península de maioria étnica russa da Crimeia, um território que foi seu até 1954, e fomenta um conflito ora congelado no leste do país, que já deixou 10 mil mortos.

Em novembro, o Kremlin apreendeu navios de guerra ucraniano e está julgando seus marinheiros, levando a Ucrânia a decretar lei marcial.

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, acelerou então medidas contra a igreja sob Moscou, sugerindo a retomada de imóveis, e patrocinou a criação da nova entidade. Epifânio, de apenas 39 anos, é visto como um protegido do líder e antes era de uma denominação não reconhecida chamada Patriarcado de Kiev. Uma das igrejas agora unificadas, ela havia sido fundada em 1995 com viés fortemente pró-Ocidente.

Não por acaso, Poroshenko estava presente na cerimônia deste sábado, na catedral de São Jorge. "Eu quero agradecer os milhões de ucranianos que responderam ao meu apelo para rezar para que a igreja fosse estabelecida", afirmou ele, que buscará a reeleição em março e está em posição extremamente fragilizada em seu país.

Há cerca de 300 milhões de ortodoxos no mundo, que não obedecem a uma autoridade administrativa central. Em assuntos religiosos, contudo, a palavra final é o patriarca da igreja originária da denominação, a da antiga Constantinopla. São a segunda maior comunhão unida cristã do mundo, atrás dos católicos (1,3 bilhão de fiéis). Protestantes são cerca de 920 milhões, mas fragmentados.

Moscou controla metade desse rebanho ortodoxo, na Rússia, Ucrânia e outros países. Com o cisma, cerca de um quinto dos fiéis passarão para a jurisdição de Kiev.

Não será um processo simples, até porque o Patriarcado de Moscou não reconhece o movimento -Kiev estava sob seu guarda-chuva desde 1686. "O ´tomos´ é só um papel, o resultado de incansáveis ambições políticas e pessoais. Ele não tem poder", afirmou à reportagem por mensagem eletrônica Vladimir Legoida, o chefe de comunicação do Patriarcado de Moscou.

Não está claro como Moscou poderá contestar a decisão do patriarca Bartolomeu, embora petições já tenham sido feitas nos últimos meses. Na prática, o que poderá acontecer é a tomada de bens do ramo moscovita da igreja na Ucrânia e talvez perseguição de seus integrantes, o temor já citado por Putin.

Para Poroshenko, a igreja sob Moscou ajudava a fomentar revolta contra o governo de Kiev, em especial nas regiões de maioria separatista, o que Cirilo nega.

O cisma remete às antigas rivalidades dos dois países, que têm raízes culturais compartilhadas. Ele dá tom de guerra cultural e espiritual ao estágio atual da disputa, depois do fim da União Soviética em 1991.

Desde então, governos pró e contra Moscou se alternaram, e a prioridade do Kremlin é bloquear a ambição daqueles que pregam a inserção da Ucrânia em organismos ocidentais como a União Europeia ou a Otan (aliança militar liderada pelos EUA), não menos porque o grande território do vizinho serve de tampão entre suas forças e a dos adversários. Com informações da Folhapress.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Luto Há 19 Horas

Morre o cantor Agnaldo Rayol, aos 86 anos

esporte Peru Há 22 Horas

Tragédia no Peru: relâmpago mata jogador e fere quatro durante jogo

mundo Loteria Há 22 Horas

Homem fica milionário depois de se esquecer do almoço em casa: "Surpreso"

fama Televisão Há 20 Horas

'Pensava que ia me aposentar lá', diz Cléber Machado sobre demissão da Globo

politica Tensão Há 22 Horas

Marçal manda Bolsonaro 'cuidar da vida' e diz que o 'pau vai quebrar' se críticas continuarem

lifestyle Alívio Há 22 Horas

Três chás que evitam gases e melhoram a digestão

fama Luto Há 22 Horas

Morre o lendário produtor musical Quincy Jones, aos 91 anos

fama Saúde Há 21 Horas

James van der Beek, de 'Dawson's Creek', afirma estar com câncer colorretal

tech WhatsApp Há 22 Horas

WhatsApp recebe novidade que vai mudar forma como usa o aplicativo

mundo Catástrofe Há 21 Horas

Sobe para 10 o número de mortos após erupção de vulcão na Indonésia