Renan tenta se alinhar a Bolsonaro para voltar a presidir Senado

Alagoano ameniza críticas à pauta liberal e diz apoiar até agenda de costumes do novo governo

© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil 

Política Articulação 09/01/19 POR Folhapress com BRUNO BOGHOSSIAN

"Já tentaram me matar muitas vezes, mas eu não sou morredor", costuma dizer Renan Calheiros (MDB-AL). A eleição de Jair Bolsonaro e a onda de rejeição à velha política colocam o senador alagoano em seu mais difícil teste de sobrevivência em décadas.

PUB

Em campanha para presidir o Senado pela quinta vez, Renan tenta se realinhar ao novo eixo de poder e faz um esforço para se aproximar da agenda do presidente.

"O sentimento do MDB é de ajudar o governo e fazer as mudanças de que o país precisa. Eu só posso ser produto da indicação da minha bancada se concordar com isso", disse o político alagoano à reportagem.

Crítico mordaz das reformas econômicas do governo Michel Temer, Renan tenta amenizar suas críticas à pauta liberal para se alinhar ao ministro da Economia, Paulo Guedes.

Também passou a usar as redes sociais para se adaptar aos novos tempos, fez ataques a indicações políticas para cargos públicos e até flexibilizou sua visão sobre pautas sociais.

"Quando a sociedade muda os costumes, o Parlamento tem que atualizar as leis. Muitos itens da pauta de costumes do Bolsonaro eu vou ajudar", afirmou. Em 2005, o senador liderou a frente parlamentar que defendeu o estatuto do desarmamento.

+ Toffoli mantém voto secreto em eleição para a presidência da Câmara

+ Palocci fecha primeiro acordo de delação premiada com o MPF

Enquanto Rodrigo Maia (DEM-RJ) costura a adesão do partido de Bolsonaro à sua candidatura na Câmara, Renan ainda conta com a antipatia de integrantes do governo.

O senador alagoano quer derrubar essas resistências e, principalmente, convencer seus pares de que não será um elemento de conflito com o Planalto caso se eleja para comandar a Casa.

Renan se aproximou de Guedes no fim de novembro. Seu objetivo era derrubar um possível veto da equipe econômica a seu nome.

"Como eu, muitos senadores não são tão liberais. Mas nós achamos que a economia vive um estágio que precisa de mudanças", explicou.

Então líder do MDB, o senador trabalhou em 2017 contra a aprovação da reforma trabalhista de Temer e disse que sua proposta de mudança na Previdência era "exagerada". Agora, diz que fazia críticas "específicas".

O alagoano apresenta como exemplos seus pacotes de corte de gastos em seu segundo ciclo na presidência do Senado, de 2013 a 2016. "Nossa convergência é a faca", afirmou.

Renan enfrenta um desafio incomum para preservar seu poder. Enfrenta hostilidade aberta do grupo de Bolsonaro e simboliza a política tradicional rejeitada na eleição.

O alagoano já foi alvo de 18 inquéritos no Supremo Tribunal Federal e é um personagem recorrente em delações premiadas da Lava Jato. Nove casos foram arquivados. Nas últimas décadas, protagonizou crises políticas e foi alvo de protestos públicos que pediam "fora, Renan".

"As pessoas só lembram que eu sou velho. Pelo menos deixem eu fazer uma transição entre o velho e o novo. Vou me esforçar para cumprir esse papel", declarou.

Para aliados, Renan só conseguirá conquistar votos para se eleger se mostrar que não será fonte de conflitos com o governo. É a explicação para seu comportamento diante de senadores que não estão dispostos a enfrentar Bolsonaro.

Em conversas internas, o alagoano promete aos colegas que, se eleito, trabalhará pela independência do Congresso em relação ao Planalto. Esse ponto é considerado um aceno à oposição, que teme medidas do novo governo.

"Eu sou um batedor de continência. Eu só não bato continência quando estou na presidência do Senado. Ali, você tem que defender o seu território institucional", disse.

+ Após erros e recuos, aliados querem que Bolsonaro ‘arrume a casa’

+ Vídeo mostra homem em mercado cobrando Moro sobre caso Queiroz

Considerado um articulador habilidoso, não admite publicamente sua candidatura. Em 18 de dezembro, véspera do recesso parlamentar, entrou sorridente no plenário e apertou a mão dos colegas, um a um -até de senadores em fim de mandato, que não votarão em 1º de fevereiro.

Aliados projetam um placar de 52 votos caso a eleição seja secreta. Uma liminar do ministro Marco Aurélio, porém, determinou que a votação seja aberta -o que afastaria parlamentares que não querem enfrentar o desgaste de votar no alagoano. O presidente do STF, Dias Toffoli, deve analisar o caso esta semana.

Renan tem vasta experiência em metamorfoses políticas. Em 1989, articulou a eleição de Fernando Collor a presidente. No ano seguinte, rompeu com o governo e chegou a depor contra o presidente na CPI que investigou o esquema PC Farias.

Em 2002, apostou em José Serra (PSDB) contra Luiz Inácio Lula da Silva. Depois, apoiou a adesão do então PMDB ao governo petista e acumulou poder para se eleger presidente do Senado em 2005.

O senador alagoano também rompeu com o governo Temer em 2017. Aliou-se ao PT para se reeleger num Nordeste afinado com o lulismo. Passada a campanha, reatou com o presidente. "Não imaginava que pisaria de novo nesse palácio com você no poder", disse, segundo um auxiliar.

Renan também se notabiliza por ser ácido com adversários. A rivalidade com Tasso Jereissati (PSDB-CE), potencial candidato ao comando do Senado, beira o que aliados chamam de "falta de civilidade".

No fim do ano passado, Renan foi procurado por José Serra (PSDB-SP) para tentar um armistício. "Diga ao Tasso que não é civilizado ele dizer que é sério e eu sou ladrão. Se for para um debate no plenário para mostrar quem é honesto, ele não tem nem saúde para isso", rebateu o alagoano.

Outro alvo é Lasier Martins (PSD-RS), autor do pedido para que a votação seja aberta. Nas redes sociais, Renan costuma grafar o nome do senador gaúcho com letra minúscula. "O meu iPhone tem lá uma tecla enganchada, e toda vez que vai botar o nome do Lasier, sai letra minúscula", afirma.

Embora muitos senadores acreditem que o vento sopra contra, Renan espera atravessar a tempestade. "O meu couro já ficou grosso", disse.

Em 2007, o alagoano teve que deixar a presidência do Senado depois de ser acusado de receber ajuda financeira de lobistas, inclusive para bancar a pensão de Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Ele foi absolvido em uma ação cível sobre o caso.

Seis anos depois, recuperou poder e voltou a se eleger para o comando da Casa, mas enfrentou protestos públicos que pediam sua renúncia.

O avanço da Lava Jato e de outros processos também minou sua força. Em 2016, Marco Aurélio mandou afastar Renan da presidência do Senado. Ele se recusou a receber o oficial de Justiça que entregaria a ordem e ignorou a decisão. Depois, o plenário do STF reverteu a medida.

As muitas vidas de Renan Calheiros

Carreira política do senador alagoano tem 30 anos de altos e baixos

1989

Articula a candidatura vitoriosa de Collor ao Planalto

1990-1992

Rompe com Collor e depõe contra o presidente em CPI

1995

Eleito senador pela primeira vez

1998

Nomeado ministro da Justiça de FHC

2002

Apoia Serra na eleição presidencial, mas Lula é eleito

2003

Decide apoiar o governo Lula

2005

Eleito presidente do Senado por dois biênios consecutivos

2007

Acusado de receber ajuda financeira de lobistas, escapa de cassação, mas renuncia à presidência do Senado

2013

Volta a se eleger para o comando do Senado e vira alvo de protestos 'Fora, Renan'

2015

É eleito para mais um mandato na presidência do Senado; citado na Lava Jato, aparece na 'lista do Janot'

2016

Marco Aurélio, do STF, manda afastá-lo da presidência do Senado, mas tribunal reverte decisão

2017

Rompe com o presidente Michel Temer

2018

Apoia o PT em Alagoas e é reeleito senador mais uma vez

Com informações da Folhapress.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

economia Dinheiro Há 7 Horas

Entenda o que muda no salário mínimo, no abono do PIS e no BPC

mundo Estados Unidos Há 7 Horas

Momento em que menino de 8 anos salva colega que engasgava viraliza

fama Patrick Swayze Há 21 Horas

Atriz relembra cena de sexo com Patrick Swayze: "Ele estava bêbado"

brasil Tragédia Há 7 Horas

Vereador gravou vídeo na ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira pouco antes de desabamento

fama Mal de parkinson Há 22 Horas

Famosos que sofrem da doença de Parkinson

fama Emergência Médica Há 8 Horas

Gusttavo Lima permanece internado e sem previsão de alta, diz assessoria

brasil Tragédia Há 7 Horas

Mãe de dono da aeronave que caiu em Gramado morreu em acidente com avião da família há 14 anos

tech Aplicativo Há 7 Horas

WhatsApp abandona celulares Android antigos no dia 1 de janeiro

fama Condenados Há 15 Horas

Famosos que estão na prisão (alguns em prisão perpétua)

justica Minas Gerais Há 6 Horas

Motociclista tenta fugir de blitz e leva paulada de policiais; vídeo