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Mesmo após ter sua demissão anunciada pelo chanceler Ernesto Araújo, Alecxandro Carreiro manteve um dia de despachos como presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil) nesta quinta-feira (10).
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De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, Carreiro "cumpriu expediente normal na agência nesta quinta-feira (10/01), tendo efetuado despachos internos e recebido para audiências autoridades de Estado".
Em um episódio que gerou mal-estar entre o Palácio do Planalto e o Itamaraty, Carreiro teve sua demissão divulgada pelo ministro de Relações Exteriores em uma postagem nas redes sociais na noite de quarta-feira (9).
O anúncio da saída dele ocorreu sete dias após sua indicação para presidir a agência, representando a primeira baixa do governo Jair Bolsonaro.
De acordo com relatos feitos à reportagem por pessoas próximas ao assunto, Araújo anunciou a demissão publicamente antes de ter consultado o presidente Jair Bolsonaro sobre o tema, que é quem tem o poder de nomear ou exonerar as indicações para o comando da Apex.
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A saída de Alex, como Carreiro é conhecido, foi anunciada pelo Twitter de Araújo às 20h40 da noite de quarta-feira (9): "O Sr. Alex Carreiro pediu-me o encerramento de suas funções como Presidente da Apex.
Agradeço sua importante contribuição na transição e no início do governo. Levei ao PR Bolsonaro o nome do embaixador Mario Vilalva, com ampla experiência em promoção de exportações, para Pres. da Apex", escreveu o chanceler.
Segundo pessoas próximas, minutos antes, Araújo havia enviado uma mensagem para o dirigente da agência, comunicando que divulgaria sua saída, e que adotaria uma versão pública que se tratava de uma demissão a pedido. Ele ouviu como resposta uma negativa do indicado, que reiterou que não concordava e não havia solicitado sua saída.
O episódio irritou aliados de Bolsonaro, que viram no gesto de Araújo uma sobreposição à vontade do próprio presidente. O nome de Alex foi levado ao presidente como uma indicação conjunta, feita por deputados do PSL e endossada por um de seus filhos, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Um desentendimento entre o escolhido para comandar a Apex e a empresária Letícia Catelani é apontado como o estopim para o anúncio da demissão. Catelani, que ocupou a secretaria-geral do PSL, foi indicada por Araújo para uma diretoria da agência.
De acordo com relatos ouvidos pela reportagem, ela e Alex se desentenderam em público.
Internamente, circulou também a versão de que a demissão de Carreiro se deu após Araújo ter se irritado com o fato de ele ter feito demissões de antigos funcionários para nomear aliados, sem fazer qualquer transição. Além disso, teria pesado o fato de ele não ser fluente em inglês, requisito da função previsto no estatuto da agência.
Depois de ter sida expulsa do PSL em setembro do ano passado, Catelani se reaproximou do governo ao tornar-se uma espécie de braço direito de Araújo.
Ainda durante a transição, ela passou a andar com o chanceler e trabalhar como assessora. Pessoas próximas ao ministro reclamaram que ela começou a blindá-lo, controlando todo o acesso a ele.
Internamente, Carreiro reclamou da postura de Araújo, que indicou para as duas diretorias da agência pessoas de sua confiança, Catelani e Marcio Coimbra, sem consultá-lo antes.
Catelani, particularmente, causou desconforto, tendo tido desentendimentos com Carreiro e outros funcionários, inclusive com a esposa do chefe de gabinete de Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil.
Carreiro foi ao Planalto na manhã desta quinta-feira (10), mas não foi recebido por Bolsonaro. Segundo pessoas próximas, ele deve fazer ainda nesta quinta nova tentativa de conversa.
Bolsonaro ainda não se manifestou sobre o assunto, e o silêncio do presidente amplia o sentimento de incerteza sobre o comando de Alex.
Apesar de Carreiro ter dado expediente normalmente como presidente da agência, mesmo seus aliados consideram sua permanência inviável, ainda que argumentem que não compete ao chanceler e sim ao presidente da República sua exoneração.
Aliados do até agora presidente da Apex afirmam que sua indicação para o cargo partiu do próprio Bolsonaro. Carreiro foi presidente do Patriotas no Distrito Federal, partido que primeiro ofereceu legenda a Bolsonaro para disputar a presidência. Com informações da Folhapress.