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Novak Djokovic, 31 anos, cogitou se aposentar no começo de 2018. Meses depois, levantava o troféu de Wimbledon e retornou à liderança do ranking.
Roger Federer, 37, teve lesões nas costas e no joelho após os 30 anos. Com sua idade, muitos desacreditavam que ele pudesse ganhar Slams novamente. Foi bicampeão do Australian Open nos últimos dois anos.
É mais fácil mencionar os locais do corpo de Rafael Nadal, 32, que não sofreram contusões. O espanhol é o número 2 do mundo e ainda reina no saibro.
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Por todos esses exemplos de superação, o mundo do tênis esperava que Andy Murray, 31, pudesse ser mais uma prova de que o chamado "Big 4" era indestrutível. Mas como a carreira e a vida do britânico sempre demonstraram, não seria tão simples para ele.
Murray perdeu a batalha de dois anos com seu quadril direito e tentará se aposentar em Wimbledon, em julho, se suportar as dores até lá. No entanto, esse revés definitivo não deveria ser uma mostra do quanto Murray está distante de seus colegas lendários, mas sim do quanto ele lutou para ser parte do mesmo time.
"Eu ainda consigo jogar em um certo nível, mas não em um nível que me deixe satisfeito. E não é só isso. A dor realmente é demais. Não quero continuar jogando dessa maneira", afirmou nesta quinta (10).
Com três dos maiores da história no auge, o britânico alcançou oito finals de Grand Slam (com três títulos), foi campeão de 45 torneios, incluindo 14 Masters 1000 e um ATP Finals, além do inédito bicampeonato olímpico em simples (Londres-2012 e Rio-2016).
Ao contrário de Djokovic, Federer e Nadal, Murray carregou desde a infância o fardo das expectativas da nação mais apaixonada por tênis do mundo, que não tinha um campeão de Slam desde 1936 (Fred Perry).
Aos 8 anos de idade, sobreviveu a um dos piores assassinatos em massa da história da Grã-Bretanha, na escola escocesa de Dunblane, que vitimou 17 crianças. Sua personalidade tímida, sarcástica e muitas vezes explosiva em quadra era rejeitada por boa parte da imprensa e do público. A rivalidade entre ingleses e escoceses florescia nesses momentos.
Em julho de 2012, ele perdeu sua quarta final consecutiva de Slam e chegou a duvidar se um dia conseguiria quebrar o domínio do trio acima dele. A história mudou quando ele derrotou Federer na final olímpica de Londres-2012 e enfim triunfou no US Open do mesmo ano. Ao definir seu sentimento após a vitória, ele disse "alívio".
Mas era preciso ganhar Wimbledon. Ele o fez em 2013 e 2016. A Copa Davis também, que a Grã-Bretanha não vencia desde 1936. Levou a equipe ao troféu em 2015. Número 1? Atingido no final de 2016, após uma sequência desgastante de torneios que muito provavelmente causou sua lesão no quadril.
Para cumprir todas as "missões" impostas a ele, Murray levou seu corpo ao limite e agora paga o preço. Para os brasileiros, é impossível não se recordar de Gustavo Kuerten, outro ex-número 1 do mundo e campeão de três Slams, que não conseguiu superar as dores no quadril direito. Embora as lesões não sejam exatamente iguais pelas informações divulgadas (a de Guga estava mais ligada ao labrum e a de Murray à própria cartilagem articular), ambos anunciaram suas aposentadorias aos 31 anos (o britânico terá 32 em Wimbledon).
Ao longo dos últimos anos, Murray se tornou um ícone feminista, mas sem reivindicar o posto. Ele simplesmente comentava jogos femininos em suas redes sociais, elogiava jogadoras jovens e contratou uma treinadora, Amelie Mauresmo. Provavelmente por influência de sua mãe, a ex-tenista Judy, que sempre foi sua mentora.
No Rio-2016, quando um repórter disse que ele era o único tenista a ter vencido dois ouros, Murray o corrigiu, lembrando que Serena e Venus Williams também tinham as medalhas (contando simples e duplas).
Raras no mundo esportivo, essas demonstrações de respeito com atletas mulheres ganharam manchetes e aumentaram consideravelmente a popularidade de Murray, que já era alta entre os profissionais do tênis.
Por isso, a aposentadoria de Murray é sentida por todos que gostam e se envolveram com o tênis. Ele pode não entrar na conversa do melhor da história como seus contemporâneos, mas mostrou a disposição e a luta necessárias para ser mencionado ao lado deles como um igual. Com informações da Folhapress.