Endividada, Taurus busca no exterior solução para crise

A empresa virou um fenômeno na Bolsa desde o ano passado, quando as ações da companhia dispararam conforme o cenário eleitoral foi se definindo

© Reuters

Economia Empresa 17/01/19 POR Estadao Conteudo

Na última Black Friday, a Taurus Armas organizou uma operação de guerra em sua filial nos Estados Unidos. Montou um estoque especial e colocou um de seus mais bem-sucedidos lançamentos do ano passado, a pistola 9mm Hammer, em promoção. Os americanos tinham simplesmente de comprar no site e receber, na maioria dos casos, a arma em casa no dia seguinte. Resultado: aumento de 25% das vendas, em relação ao ano anterior. Muito mais que uma jogada comercial, a iniciativa é uma amostra do que a empresa gaúcha, que detém o monopólio do setor no País, pretende fazer para contornar sua crise financeira e sua pesada dívida: reforçar a presença no mercado internacional.

PUB

Por mais que a flexibilização da posse de armas caminhe no sentido contrário ao Estatuto do Desarmamento, é difícil imaginar no Brasil a mesma liberdade vista nos EUA. Esse é um dos motivos pelos quais a Taurus se veja pouco como uma empresa "nacional". "O Brasil é um mercado pequeno e uma indústria de armamentos não se viabiliza apenas no País", diz o presidente executivo da Taurus Armas, Salesio Nuhs. "Temos de pensar numa Taurus globalizada."

Nova Boeing-Embraer deve empregar 9.000

Com 84% da produção brasileira exportada, a empresa não está desenhando nenhum plano para aproveitar um eventual crescimento de vendas no País, principalmente no interior, onde especialistas acreditam que há demanda reprimida. O movimento estratégico vai no sentido oposto: diversificar a presença internacional e depender menos dos EUA, onde a empresa está mudando sua fábrica da Flórida, aberta na década de 80, para a Geórgia. Em parceria com o governo local, está investindo US$ 42 milhões na unidade, que aumentará sua capacidade no país em 50%. "Os EUA importam US$ 1 bilhão em armas por ano", diz Nuhs, completando que a Taurus é a quarta marca mais vendida naquele país.

Bolsa. A empresa virou um fenômeno na Bolsa desde o ano passado, quando as ações da companhia dispararam conforme o cenário eleitoral foi se definindo. Com o discurso a favor da flexibilização do porte de armas do então candidato Jair Bolsonaro, o papel da empresa saiu de R$ 1,20, em agosto, atingindo a máxima de R$ 11,27, às vésperas das eleições presidenciais. Depois de muitas oscilações, acumulava alta de 90% neste ano até o dia 15, quando o presidente Bolsonaro anunciou o decreto que facilita a posse de armas.

O anúncio, no entanto, fez a ação preferencial da companhia, sem direito a voto, despencar mais de 20% no mesmo dia, em função de uma mistura de expectativas não atendidas, com realização de ganhos especulativos e um balanço que não sustenta a empresa no longo prazo, segundo analistas. Mas os próprios controladores da companhia, reunidos na Tauruspar Participações, ajudaram a puxar para baixo a cotação. Na data, venderam 1,2 milhão de ações na Bolsa "para obtenção de recursos financeiros", segundo comunicado enviado ao mercado (ler mais ao lado).

Ainda na terça, 15, Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos, disse, que, pelas condições financeiras da empresa, a queda das ações poderia ser ainda maior. Fato que se concretizou ontem, quando o papel fechou com mais um recuo de 21,24%, cotado a R$ 5,08.

Números frágeis. Com um endividamento de 6,5 vezes a geração de caixa e patrimônio líquido negativo (ou seja, ela não é capaz de acabar com suas dívidas nem se vendesse todos seus ativos), o estado financeiro é considerado crítico. "A empresa entregava em 2013 o mesmo faturamento de hoje e, apesar de a geração de caixa ter tido uma melhora pontual nos últimos trimestres, ela é insuficiente em relação ao tamanho de sua dívida", diz Legat.

Segundo Nuhs, a Taurus está consolidando os resultados de uma reestruturação comandada pela Galeazzi & Associados, que já melhorou processos produtivos, financeiros e comerciais. E, diz ele, a oscilação dos papéis faz parte dos movimentos naturais do mercado.

Adquirida pela Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), em 2015, a Taurus era uma monopolista em grave crise financeira e de imagem. Após a compra, foi dado início a uma reestruturação, em que a empresa fechou duas das três fábricas, concentrando a produção em São Leopoldo (RS) e implantou um sistema de manufatura focado na redução de desperdícios. Além disso, cortou despesas administrativas e remodelou o departamento comercial.

A empresa colocou à venda ativos - como um terreno em Porto Alegre e sua produção de capacetes - pelos quais espera conseguir R$ 150 milhões. E acredita que reduzirá o endividamento à metade já neste ano. Para Felipe Tadewald, especialista em renda variável da casa de análise financeira Suno Research, porém, os números dos negócios estão superestimados.

A empresa, que fabrica 4 mil armas por dia, registrou prejuízo de R$ 44,6 milhões nos primeiros nove meses de 2018, ante R$ 50,4 milhões no mesmo período de 2017. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

brasil Rio Grande do Sul Há 13 Horas

Avião cai em Gramado; governador diz que não há sobreviventes

mundo EUA Há 17 Horas

Professora que engravidou de aluno de 12 anos é condenada

fama GUSTTAVO-LIMA Há 19 Horas

Gusttavo Lima é hospitalizado, cancela show no festival Villa Mix e fãs se revoltam

fama WILLIAM-BONNER Há 16 Horas

William Bonner quebra o braço e fica de fora do Jornal Nacional no fim do ano

brasil BR-116 Há 18 Horas

Acidente com ônibus, carreta e carro deixa 38 mortos em Minas Gerais

fama Pedro Leonardo Há 18 Horas

Por onde anda Pedro, filho do cantor Leonardo

lifestyle Smartphone Há 17 Horas

Problemas de saúde que estão sendo causados pelo uso do celular

esporte FUTEBOL-RIVER PLATE Há 17 Horas

Quatro jogadoras do River Plate são presas em flagrante por racismo

fama Vanessa Carvalho Há 17 Horas

Influenciadora se pronuncia após ser acusada de trair marido tetraplégico

mundo Síria Há 19 Horas

'Villa' luxuosa escondia fábrica da 'cocaína dos pobres' ligada a Assad