Gabinete 24 'some' dos corredores do Senado

Plaquinha de número 24 desapareceu entre o final de 2014 e o início de 2015

© Marcos Oliveira/Agência Senado

Política homofobia 19/01/19 POR Notícias Ao Minuto

Há quatro anos o Senado abriga uma manifestação implícita de preconceito contra homossexuais que pode ser checada por qualquer pessoa que percorra o principal corredor de gabinetes dos parlamentares. A numeração exposta nas portas começa no 1 e segue a sequência numérica lógica até chegar ao 23, quando, sem qualquer explicação, pula para o 25.

PUB

Em algum momento entre o final de 2014 e o início de 2015 a plaquinha de número 24 desapareceu sem (quase) deixar vestígios.

O Senado diz não ter nenhum registro oficial do sumiço. Parlamentares igualmente afirmam desconhecer o que aconteceu com o 24 - que por ser o número associado ao veado no jogo do bicho é usado há décadas como muleta para manifestações discriminatórias contra homossexuais.

O fato é que desde essa época o até então existente gabinete de número 24 passou a se chamar gabinete 26 - ele fica no lado do corredor de numeração par.

A reportagem visitou gabinetes, buscou documentos e entrevistou parlamentares e funcionários nos últimos dias para resolver o mistério e descobrir por que o Senado abriga de forma institucional, há quatro anos, a manifestação simbólica de discriminação.

O gabinete de número 24 foi usado até 2014 pelo senador Eduardo Amorim (PSDB-SE). Ele trocou para outro, naquele ano, e diz não ter ideia do que aconteceu dali em diante.

"O meu gabinete foi entregue. Eu troquei por causa da distância. Eu saí de lá e era 24. Eu não sei quem entrou depois", disse.

O novo inquilino foi Dário Berger (MDB-SC), 62, de cujo gabinete partiu o pedido de mudança da numeração, do 24 para o 26.

A reportagem ligou 28 vezes nestas quarta (16), quinta (17) e sexta-feira (19) para o telefone celular de Berger e deixou recados também com sua assessoria. Não houve resposta.

A reportagem também enviou à assessoria de imprensa do Senado perguntas sobre quem pediu e quem mandou trocar a numeração, qual a justificativa usada e se a Casa considera adequado esse tipo de medida. Também não houve manifestação.

+ Senadores gastaram R$ 21 milhões da Cota Parlamentar em 2018

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que assumiu o comando da Casa dois anos depois do sumiço do gabinete 24, se disse surpreso.

"Fui surpreendido, estou tomando conhecimento no dia de hoje. Eu, sinceramente, não encontro justificativa para que a numeração não seja seguida. Isso não aconteceu na minha gestão. Se tivesse tomado conhecimento antes teria dito à diretoria para voltar ao número anterior", afirmou Eunício, cujo mandato termina no próximo dia 31.

"Nem o Senado nem ninguém pode dar guarida a qualquer tipo de discriminação, contra quem quer que seja", acrescentou o senador.

Presidente da Casa à época, Renan Calheiros (MDB-AL) também diz que "nunca" soube da troca, afirmando que esse tipo de coisa não é assunto que chegue à cúpula da Casa. Renan, que é candidato a presidir o Senado novamente, disse ainda que não é preconceituoso e que não se "prestaria" a isso.

"Pelo amor de Deus, jamais essa discussão chegou no Senado. Eu não sou preconceituoso, não."

O diretor-geral do Senado à época da mudança era Luiz Fernando Bandeira de Melo, hoje secretário-geral da Mesa. Ele confirmou ter havido um pedido para a mudança do número 24 para o 26, mas disse não se lembrar de quem partiu.

"O Senado busca atender às demandas que surgem dos parlamentares. Isso é tratado com absoluta simplicidade", afirmou Bandeira, que disse não ter recebido justificativa da solicitação de mudança.

Perguntado sobre a falta de transparência no caso, respondeu: "Está plantado [o número] na porta, como não há transparência?".

A reportagem esteve no corredor de gabinetes dos senadores na última quarta-feira (16), período de recesso dos parlamentares.

Pessoas que estavam nas proximidades também disseram não saber o que havia ocorrido.

Seguranças que trabalham no local há mais de cinco anos afirmaram não poder comentar o assunto.

Ainda é possível ver na placa geral de identificação dos gabinetes vestígios do número 24 por trás do atual 26.

Em fim de mandato, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) era um dos poucos que estavam no local nesta quarta de recesso. Também se disse surpreendido com a história.

"Meu Deus. O jogo do bicho é ilegal. Então, o Senado se baseou em algo ilegal para manifestar preconceito contra os gays? É um absurdo", exclamou.

Último ocupante do gabinete 24, o senador Eduardo Amorim hoje está no número 1.

Ele disse nunca ter ouvido manifestações preconceituosas em forma de piada durante o tempo que ficou no escritório anterior. Com informações da Folhapress.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

politica Polícia Federal Há 10 Horas

Bolsonaro pode ser preso por plano de golpe? Entenda

esporte Indefinição Há 10 Horas

Qual será o próximo destino de Neymar?

fama MAIDÊ-MAHL Há 11 Horas

Polícia encerra inquérito sobre Maidê Mahl; atriz continua internada

brasil Brasil Há 6 Horas

Jovens fogem após sofrerem grave acidente de carro; vídeo

justica Itaúna Há 10 Horas

Homem branco oferece R$ 10 para agredir homem negro com cintadas em MG

economia Carrefour Há 8 Horas

Se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros, diz Fávaro, sobre decisão do Carrefour

fama Segunda chance Há 23 Horas

Famosos que sobreviveram a experiências de quase morte

brasil São Paulo Há 10 Horas

Menina de 6 anos é atropelada e arrastada por carro em SP; condutor fugiu

fama Documentário Há 2 Horas

Diagnosticado com demência, filme conta a história Maurício Kubrusly

fama Autobiografias Há 5 Horas

Celebridades que publicaram autobiografias reveladoras