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Se a quantidade de polêmicas servir de termômetro para o Oscar, "Green Book: O Guia", que estreia no Brasil nesta quinta (24), acelera na corrida pela estatueta.
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O longa de Peter Farrelly, mais conhecido pelas comédias debochadas "Debi & Lóide" (1994) e "Quem Vai Ficar com Mary?" (1998), não somente recebeu cinco indicações ao prêmio, incluindo melhor filme, mas coleciona controvérsia atrás de controvérsia.
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A primeira surgiu entre a família de Don Shirley, pianista negro falecido em 2013, interpretado por Mahershala Ali ("Moonlight"). Os parentes alegam que a história da viagem de Shirley ao sul dos Estados Unidos com o motorista branco Tony Lip (Viggo Mortensen), em 1962, é "uma sinfonia de mentiras".
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Na jornada, em uma região racista amparada por leis de segregação, a dupla debate os próprios preconceitos usando o "livro verde" - guia criado em 1936 para ajudar viajantes negros a saber onde comer, dormir ou abastecer o carro.
"Guardei essa história por 25 anos, desde que comecei a ouvir a versão do meu pai", conta o roteirista Nick Vallelonga, filho de Tony, que retrata um pianista escondendo sua homossexualidade proibida. "Shirley me confirmou tudo, mas me pediu para não escrever antes da sua morte. Era um homem muito reservado."
Como o filme estacionou em uma bilheteria modesta, em torno dos US$ 40 milhões (cerca de RS 150 milhões), o caso não foi levado adiante.
Em seguida, o ator Viggo Mortensen proferiu o termo "nigger" em um debate, considerado ofensivo à comunidade afro. A intenção era explicar como a palavra não é mais aceita hoje, mas incomodou.
"Embora minha intenção tenha sido falar de maneira forte contra o racismo, não tenho o direito de sequer imaginar a dor que a palavra causa", desculpou-se Mortensen, ironicamente um dos atores mais conscientes de Hollywood.
O próprio Viggo relutou em viver o papel de um ítalo-americano por não "querer desrespeitar a comunidade com estereótipos" - segundo Vallelonga, o ator James Gandolfini ("Sopranos") estava ligado ao papel até a morte, em 2013.
Já Mahershala Ali não conhecia Don Shirley e precisou ver documentários para capturar seus modos elegantes e maneira de tocar. "Tenho um físico diferente e um tom mais baixo de voz, mas procurei incorporar seus gestos", afirma.
A química entre a dupla é visível e superou até mesmo outra revelação: o diretor, Peter Farrelly, costumava exibir sua genitália como forma de "brincadeira" nos sets das suas comédias anteriores. "Eu era um idiota", resumiu o cineasta, que muitos não levam a sério.
"Se 'Green Book' tivesse Woody Allen ou Steven Spielberg no pôster, todos estariam falando que é uma obra-prima", questiona Mortensen sobre esse "Conduzindo Miss Daisy" (1989) às avessas.
O roteirista Nick Villalonga também não ajudou quando um tuíte seu de 2015 ressurgiu, concordando com a afirmação falsa de Donald Trump sobre ter visto muçulmanos em Nova Jersey comemorando a queda das Torres Gêmeas, após o ataque de 2011.
Villalonga apagou a conta e pediu desculpas, possivelmente direcionando-se a Mahershala Ali, que é mulçumano.
Mesmo assim, "Green Book" está desviando dos críticos e levou o prêmio do Sindicato dos Produtores, um dos maiores termômetros do Oscar. Mas detratores seguem dizendo que o assunto não deveria fazer parte de uma comédia.
"Comediantes como Chris Rock e Dave Chappelle não falam sobre assuntos fáceis", rebate Ali. "O racismo foi tratado de várias maneiras no cinema. Temos Barry Jenkins, que rasga a alma, e Spike Lee, com um equilíbrio entre drama e comédia. Peter não é negro, mas a história tem uma forte presença negra. Se pessoas vão ao cinema para rir, talvez saiam com algo para pensar." Com informações da Folhapress.