© REUTERS / Paulo Whitaker (Foto de arquivo) 
A menos de um mês para a largada do pré-Carnaval em São Paulo, organizadores de blocos ainda estão em busca de patrocínio para colocar a festa na rua.
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As dificuldades para captar recursos, mais acirradas neste ano diante do número recorde de blocos na cidade, têm chegado ao ponto de comprometer a programação. Alguns organizadores têm cancelado atrações diante da falta de recursos às vésperas da folia, que começa oficialmente em 22 de fevereiro e se estende aos finais de semana até 10 de março.
O próprio crescimento do Carnaval de rua na cidade tem representado uma espécie de efeito colateral financeiro para os blocos. É o maior evento da cidade e só perde em público para a Parada Gay, que reuniu 3 milhões de pessoas no ano passado. Neste ano, a Prefeitura de São Paulo estimou em 5 milhões o público esperado em três semanas de festas. Cerca de 600 blocos foram cadastrados. No ano passado, foram 433.
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Apesar dos números inéditos, a captação de recursos não tem acompanhado o ritmo de crescimento do Carnaval paulistano, que depende quase exclusivamente de verbas de patrocinadores de um nicho muito específico, as marcas de cerveja.
Com uma estrutura cada vez maior e mais cara para acomodar os blocos, a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) definiu o lance mínimo de R$ 19,5 milhões para as empresas interessadas em participar da licitação para captar e gerir o patrocínio do Carnaval de rua. No ano passado, o patrocínio foi de R$ 15 milhões.
Nenhuma empresa apareceu para participar da licitação durante a abertura dos envelopes nesta terça-feira (22). A gestão Covas afirmou em nota que o Carnaval de rua "não corre risco" e que os próximos passos para a captação de recursos serão definidos conforma a legislação. A gestão, porém, não informou se irá abaixar o valor do lance mínimo ou recorrer a recursos da própria administração.
A licitação foi anunciada em outubro do ano passado e aberta somente no fim do ano passado, quando a maioria das empresas já tinha fechado o orçamento de patrocínio. A demora nessa definição é apontada como mais um entrave para a liberação de verba pelas empresas.
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No ano passado, a primeira licitação do Carnaval de rua de São Paulo também não teve interessados. Na ocasião, a prefeitura definiu o lance mínimo em R$ 20 milhões. A proposta de patrocínio só apareceu quando o valor baixou para R$ 15 milhões.
O contrato foi assinado pela empresa Dream Factory, que enfrentou questionamentos do TCM (Tribunal de Contas do Município). O prefeito Bruno Covas (PSDB), na época vice-prefeito de São Paulo, e secretários municipais respondem a processo por improbidade administrativa por acusação de direcionamento da licitação da festa de rua de 2018.
Diante do orçamento maior exigido pela prefeitura para colocar os blocos na rua, sobram fatias menores do bolo publicitário para serem distribuídas aos blocos de forma individual.
O produtor Estevão Romane, 31, conta que desistiu de trazer o cantor Sidney Magal para o Carnaval paulistano porque não conseguiu patrocínio suficiente. "Digo isso com dor no coração. A cidade não soube criar condições de negócios para os blocos", diz Estevão, que vai colocar outros três blocos na rua neste ano, mas conta que já chegou a conseguir patrocínio para 15 em anos anteriores.
No ano passado, Magal atraiu uma multidão de foliões na praça da República, após dois anos de participações especiais em outros blocos paulistanos.
Em meio à crise carnavalesca, porém, há casos de blocos que dispõem de contratos de patrocínio a longo prazo assinados em anos anteriores.
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Graças a um desses acordos, o produtor Roberto Bovino conseguiu trazer pela primeira vez o sertanejo Michel Teló para o Carnaval de rua paulistano. O bloco Bem Sertanejo vai sair no domingo de Carnaval em frente ao parque Ibirapuera. "A missão dos blocos é não depender só de uma marca e de um segmento de patrocínio, que é a cervejaria", diz Roberto.
Organizadores calculam em até R$ 400 mil o total de custos para um desfile de bloco de Carnaval. Entre os maiores gastos, está a contratação de seguranças e dos cordeiros, que seguram a multidão com cordas para não proteger a área dos músicos. O aluguel de equipamentos de som e do trio elétrico também pesa no orçamento e chega a custar R$ 30 mil.
A prefeitura anunciou a iniciativa de incluir no orçamento do Carnaval repasses aos blocos comunitários para incentivar a festa em bairros da periferia, mas a forma como a ideia será colocada em prática ainda não foi definida.
Mudanças recentes na organização do Carnaval de rua têm sido alvo de reclamações dos organizadores de blocos e são apontadas como mais um obstáculo ao acesso aos repasses de patrocínio.
Para pulverizar o Carnaval pela cidade e evitar aglomerações em pontos saturados de foliões, como a região da avenida Faria Lima, a prefeitura criou novos circuitos e interferiu na decisão de blocos que se cadastraram para desfilar nessas avenidas mais procuradas.
Neste ano, as novidades vão ser a passagem de blocos pelas avenidas Tiradentes, na região central, Marquês de São Vicente, na zona oeste, e Roque Petroni Júnior, na zona sul. A Paulista chegou a ser cogitada em reuniões, mas a associação de moradores vetou qualquer bloco na via com base em um acordo com o Ministério Público que restringe o uso da avenida a apenas três eventos: a corrida de São Silvestre, o Réveillon e a Parada Gay.
As vias foram elencadas para substituir a concentração de blocos na avenida 23 de Maio, apresentada no ano passado pela gestão do ex-prefeito João Doria (PSDB) como a versão paulistana do circuito de Carnaval de Salvador, na Bahia.
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A 23 de Maio foi vetada pelo Ministério Público e pela polícia como rota de blocos por não possuir vias de acesso suficiente para escoar a multidão, o que representou um sério risco aos foliões no ano passado.
O problema dos novos trajetos, segundo o organizador Estevão, tem sido a demora da administração em definir o trajeto nesses novos circuitos. "Patrocinadores dependem dessa informação para liberar a verba", diz. Com informações da Folhapress.