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Dois dias após o acidente com uma barragem da Vale em Brumadinho (MG), as condições de resgate pioraram, e nenhum sobrevivente foi encontrado. Segundo o comandante da operação do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Eduardo Angelo, a chance de se localizar pessoas com vida a partir de agora é "bem pequena".
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Neste domingo, as equipes de busca encontraram uma dificuldade adicional. A ameaça de ruptura de outra barragem, desta vez com água, suspendeu as operações de resgate por cerca de dez horas.
A informação sobre as chances de resgate foi dada pelo comandante da operação em uma reunião com moradores no centro comunitário do Córrego do Feijão, onde se concentra parte das vítimas.
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"Há possibilidade de se encontrar [pessoas] com vida sim. No entanto, a literatura que trata sobre esse assunto demonstra que a partir de 48 horas de empenho, a chance de encontrar vida é bem pequena. Existe [possibilidade]? Já aconteceu? Sim, já teve gente soterrada por mais de 30 dias, só que isso normalmente é um ponto fora da curva", disse o comandante.
Na sequência, ele procurou dar uma palavra de esperança aos moradores. "Mas existe essa possibilidade sim e a gente trabalha com a possibilidade de que nós vamos encontrar pessoas com vida." Angelo disse que os bombeiros não conseguiram chegar a vagões de trem que foram atingidos pela lama e que, segundo moradores, podem conter corpos ou sobreviventes.
"A gente não está conseguindo chegar. Porque à medida que nós vamos avançando na lama, a gente encontra corpos. A cada corpo encontrado, a gente faz o trabalho e retorna. Nós localizamos um ônibus ontem. Mas quando estávamos para chegar nele, encontramos corpo, corpo, corpo. Hoje nós chegamos ao ônibus. Temos que fazer um trabalho de escavação nele."
Outro ônibus havia sido encontrado no sábado (27), com dez corpos.
A partir desta semana, as condições de busca devem mudar. No sábado, com a lama úmida e chuvas, os bombeiros tinham mais dificuldade de locomoção no terreno, e a maior parte do trabalho era feita com a ajuda de helicópteros.
Desta segunda-feira (28) em diante, com a lama já mais sólida, serão usados cães farejadores.
Também poderão ser usados equipamentos de auxílio trazidos por uma missão de especialistas israelenses. Médicos cubanos que estão no Brasil, desmobilizados com o fim do programa Mais Médicos, também ofereceram ajuda, mas ninguém os contactou até o domingo (27).
Do Panamá, o papa Francisco manifestou solidariedade às vítimas. "Quero exprimir a minha dor pela tragédia que atingiu o Estado de Minas Gerais no Brasil", disse. "Recomendo à misericórdia de Deus todas as vítimas e ao mesmo tempo rezo pelos feridos e exprimo meu afeto e proximidade espiritual às suas famílias.
Para garantir o financiamento de ações emergenciais na área, a Justiça determinou o bloqueio de mais R$ 5 bilhões da Vale, proprietária da barragem. Somando-se as duas decisões judiciais anteriores, o total bloqueado chega a R$ 11 bilhões.
Neste domingo, os moradores de Brumadinho viveram quase dez horas de angústia após ouvirem, por volta das 5h30, o som da sirene de alerta.
O alarme tocou porque a barragem 6, próxima da que se rompeu na sexta (25), passou a apresentar risco iminente de rompimento. Trata-se de um repositório de água, com volume de 1 milhão de metros cúbicos, que poderia causar um alagamento que atingiria até 24 mil pessoas, segundo os bombeiros, considerando desabastecimento de água e energia.
De acordo com a Defesa Civil, a inundação seria ainda pior do que a de lama, porque a água desceria com mais velocidade e atingiria mais áreas. Com a avaliação de que a barragem está estável, as pessoas puderam retornar às suas casas por volta das 15h -até 3.000 seriam evacuadas em Brumadinho.
Na cidade, a circulação estava restrita, com a Polícia Militar controlando a passagem por regiões de risco. Os acessos à entrada do município também foram bloqueados, pois a avaliação das forças de segurança era de que a presença de mais pessoas traria mais tumulto. Todos os bloqueios foram retirados após a situação voltar ao normal
Enquanto a cidade estava fechada, grupos de dezenas de moradores subiram a pé a ponte principal sobre o Paraopeba para conferir a cor barrenta da água e ver os peixes mortos que desciam na corrente. "Tem curumba, mandi, dourado, surubim, piau, tudo descendo o rio, morto. Uma tristeza. Não é mais rio, olha só... isso é lama. Não tem como o peixe respirar", disse Mário Fernandes. Com informações da Folhapress.