Trabalhamos como se vítimas fossem nossos pais, diz tenente

Para dar conta da demanda por informações, o porta-voz do Corpo de Bombeiros Pedro Aihara dorme de duas a três horas por noite

© Reuters / Adriano Machado

Brasil brumadinho 29/01/19 POR Folhapress

A tragédia do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), levou todos os brasileiros a conviverem diariamente com o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, tenente Pedro Aihara, 25. É dele que vêm as tão aguardadas notícias dos resgates de vítimas da lama.

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Para dar conta da demanda por informações, o tenente dorme de duas a três horas por noite. E não tem a expectativa de que a rotina extenuante termine logo. "Faço 26 anos agora no dia 16, mas provavelmente ainda vou estar aqui na operação", afirma à reportagem.

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Rosto conhecido na imprensa mineira, Aihara tem chamado atenção do restante do país pela juventude e pela clareza nos pronunciamentos, sempre transmitidos ao vivo na televisão. Desde sexta (25), quando o rompimento aconteceu, matando 65 pessoas e deixando 288 desaparecidos, o tenente ganhou milhares de seguidores nas redes sociais. 

Aos 25, ele exibe um currículo caprichado: é formado em ciências militares, com ênfase em gestão e prevenção de catástrofes, pelo Corpo de Bombeiros, em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, é especialista em gestão de projetos pela Universidade de São Paulo e em gestão e prevenção de desastre pela universidade Yamaguchi, no Japão.

Embora responda às perguntas da imprensa de maneira precisa, sempre atencioso, educado e eloquente, Aihara não fez media training. Está na função de porta-voz há cerca de dois anos e namora uma jornalista.

É a primeira vez que Aihara é o rosto dos bombeiros em uma tragédia dessa magnitude. No entanto, no incêndio em Janaúba (MG), quando o vigia de uma creche ateou fogo matando a si mesmo e outras 13 pessoas, sendo 10 crianças, o porta-voz já demonstrou sua aptidão para o cargo. 

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"A comunicação é uma maneira muito importante de salvar vidas. Trabalhar esse conhecimento de prevenção e mostrar o bom trabalho que está sendo feito pelos nossos militares é uma das nossas preocupações. Todo o mérito tem que ir para esses militares e nunca para mim", disse. 

Aihara ainda faz mestrado em direito, na área de direitos humanos e acesso à Justiça, na UFMG. Ele estudou no Colégio Militar em Belo Horizonte e, antes de entrar nos Bombeiros em 2012, foi da Força Aérea Brasileira. 

"Entrei para a área militar de 15 para 16 anos", conta. O que o atraiu para o Corpo de Bombeiros, diz, foi a vontade de ajudar. 

"A possibilidade de ajudar alguém, de diminuir o sofrimento de uma pessoa é um dos maiores privilégios que a gente pode ter na vida. Faço por amor, vou além do meu horário de trabalho e das minhas obrigações funcionais."

Na segunda (28), ele se emocionou ao falar com a imprensa sobre a busca de vítimas. "A maior dificuldade é ter de lidar com a angústia dos desaparecidos. Podem ter certeza que estamos trabalhando como se essas pessoas fossem nossas mães e nossos pais."

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Questionado sobre a possibilidade de resgatar pessoas com vida, Aihara não se furta à difícil tarefa de dizer que essa possibilidade cai a cada hora que passa. 

Assim como os demais funcionários públicos de Minas Gerais, estado que enfrenta grave crise fiscal, Aihara recebe seu salário de forma parcelada e até agora não recebeu o 13º salário referente ao ano passado. O governador Romeu Zema (Novo) anunciou nesta segunda que o pagamento será parcelado em 11 vezes. 

Aihara chegou a fazer piada da situação em seu Instagram: "Abrindo a porta de emergência para fugir dos boletos porque, sem décimo terceiro, o Natal vai ser só Itaipava latão, panetone da padaria e Chester da promoção do dia 26". 

O tenente também usou as redes sociais nesta terça-feira (29). "É impossível responder a todas as mensagens nesse momento tão triste e corrido. Só gostaria de agradecer, do fundo do meu coração, a cada manifestação de carinho e apoio que tenho recebido em nome da minha corporação", escreveu.

"Cada vida conta e conta muito. E dói. Tragédia não escolhe classe social, cor, preferência política. Hoje é a família de outra pessoa, mas poderia ter sido a minha. E é também tendo isso em mente que nós continuaremos incansavelmente, pois maior que qualquer tragédia será sempre a nossa esperança e a nossa fé. [...] Que vocês saibam que cada oração e gentileza recebidas tem sido combustível para que tente me fazer digno dessa missão", completou. 

Em entrevista à Folha, o tenente buscou sair dos holofotes proporcionados pela tragédia. "Quem é herói são essas pessoas que conseguem continuar com a vida delas mesmo sofrendo perdas tão abruptas. Essas pessoas que precisam de todo o nosso sentimento e solidariedade." Com informações da Folhapress. 

Leia também: Governo diz que nem todos os corpos serão resgatados em Brumadinho

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