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Estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nesta terça-feira (5) alerta para o risco de surtos de dengue, febre amarela, esquistossomose e leptospirose, além do agravamento de pacientes com doenças crônicas como hipertensão e diabetes, na região afetada pelo rompimento da barragem em Brumadinho (MG).
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O levantamento foi feito com base em informações locais, concedidas por secretarias de saúde da região, sistemas de dados públicos e estudos anteriores sobre outros desastres, como o rompimento da barragem em Mariana (MG) ou as enchentes em Santa Catarina, em 2008.
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"Temos observado que há um padrão, relativamente comum, nos problemas de saúde que se sucedem a desastres, mesmo em caso de eventos climáticos. Então nós coletamos informações de diferentes sistemas para tentar estimar o impacto na saúde", afirma um dos autores do estudo, Diego Ricardo Xavier, epidemiologista do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
O estudo destaca que a área de Brumadinho é endêmica para febre amarela e esquistossomose, transmitidos por mosquitos e caramujos, respectivamente. Segundo Xavier, o rompimento da barragem causa uma alteração brusca no ecossistema, que pode matar predadores naturais e criar condições favoráveis para esses vetores.
"Isso pode aumentar a população de mosquitos e caramujos, causando surtos", afirma ele. Ao mesmo tempo, os serviços de vigilância e de saúde da região são afetados, o que prejudica o controle das doenças.
"Nós apuramos que as unidades de saúde de Brumadinho, as estruturas físicas, não foram atingidas. Contudo, os recursos humanos estão limitados, porque agentes comunitários de saúde também perderam parentes e amigos. Então os atendimentos de rotina da saúde são afetados", diz o pesquisador.
Da mesma forma, serviços públicos como coleta de lixo, esgoto e abastecimento de água ficaram suspensos ou prejudicados, o que também traz consequências para a saúde. A falta de coleta de lixo aumenta a população de roedores e, com isso, cresce o risco de um surto de leptospirose, afirma Xavier. "Foi o que ocorreu após as chuvas de 2008, em Santa Catarina", diz o epidemiologista.
Com a contaminação dos rios, muitas pessoas passam a armazenar água em casa, de forma incorreta. "Isso aconteceu em Mariana e acabou tendo um surto de dengue. Nós já estamos no verão, uma época de maior risco. O rio Paraopeba, contaminado agora em Brumadinho, passa ainda por vários municípios", alerta Xavier.
Outro risco é o consumo de água e alimentos contaminados, que causam diarreia e gastroenterites. Mas a intoxicação pode ocorrer também por vias áreas. Quando a lama seca, os contaminantes podem ficar no ar até chegar ao sistema respiratório dos habitantes da região. "Já tivemos notícias de pessoas que tiveram contato com a lama em Brumadinho e apresentaram náuseas, vômitos e diarreia. Isso sugere, por eliminação de diagnóstico, que está relacionado a intoxicação".
A médio e longo prazo, pacientes com doenças crônicas, como diabetes, hipertensão ou problemas renais, que dependam de hemodiálise, podem apresentar piora, com o acesso limitado a serviços de saúde. Algumas comunidades em Brumadinho, segundo o estudo, estão potencialmente isoladas, com vias bloqueadas pela lama.
Em muitos casos, o paciente deixa de ser acompanhado ou fica sem o medicamento, seja porque não conseguiu renovar a receita ou porque teve a casa atingida. Se já há uma predisposição, o trauma também pode servir de gatilho para doenças. "Quem perde a casa ou familiares sofre uma alteração biológica, e o risco para a saúde aumenta. Tanto nas enchentes de Santa Catarina quanto no Japão, após o desastre nuclear de Fukushima, houve um aumento de AVCs", diz.
As vítimas também ficam mais sujeitas a desenvolver doenças mentais. Por isso, os pesquisadores defendem que é preciso monitorar essa população por anos. "Depois que a mobilização do resgate acaba, as pessoas vão apresentar problemas de alcoolismo, depressão, suicídio", afirma.
Xavier afirma que é preciso fazer um plano de ação e contenção de danos, em parceria com o setor privado, para lidar com os impactos na saúde. "Essa conta está chegando só para o setor público, o resgate, os bombeiros, o SUS, e vai se estender por muito tempo. A empresa precisa contribuir com esse custo", diz. Com informações da Folhapress.