© Bruno Domingos/Reuters
Uma mistura de ceticismo com a capacidade do governo Jair Bolsonaro (PSL) de implementar suas políticas e a esperança de que, se isso ocorrer, a situação fiscal do país vai melhorar consideravelmente resumem a avaliação da agência de risco S&P Global Ratings sobre o Brasil neste momento.
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Em conferência pela internet nesta terça-feira (5) sobre perspectivas para notas de crédito globais, a agência advertiu para o atual cenário no Brasil, que mescla oportunidades com a inclinação mais pró-mercado do governo, mas desafios antigos, como a necessidade de conciliação com o Congresso para aprovar as pautas da equipe econômica, como a reforma da Previdência.
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Na avaliação de Joydeep Mukherji, diretor responsável pelos ratings de América Latina, a habilidade de negociação do governo e a adoção de medidas que tenham impacto no médio prazo - em três a cinco anos - são praticamente pré-condições para um aumento da nota de crédito do país.
Na S&P, o Brasil atualmente tem nota BB-, o que o coloca no grupo de países considerados especulativos, ou seja, com dificuldade de pagar sua dívida.
"Temos alta esperança e ceticismo", resumiu. Na avaliação dele, a sinalização do governo e da equipe econômica é boa, na direção de medidas que aumentariam o papel do setor privado e diminuiriam o do estado, como privatização de ativos. "Basicamente impulsionariam a taxa de crescimento do país. Isso levanta muita esperança. Mas é difícil de fazer, embora talvez seja mais fácil de fazer do que outros desafios, que têm a ver com finanças públicas", reconheceu.
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Para uma mudança de rating, afirmou, a agência olha para as duas questões, a perspectiva de crescimento para o país e o perfil da dívida. "É aí que o ceticismo entra, porque não é fácil fazer uma reforma da Previdência em nenhum lugar do mundo. Pode ser fácil fazer uma reforma, mas essa reforma vai ser substancial o suficiente que vai dar não só benefícios no longo prazo, mas no médio prazo, nos próximos três a cinco anos?"
Ele lembrou o teto que limita os gastos do país, e afirmou que será difícil manter os gastos dentro desses limites a menos que o governo enfrente o crescimento dos gastos, que é o sistema de Previdência.
Por causa dessa incerteza, a S&P prefere adotar uma postura mais cautelosa. "Vamos ver quando a reforma passa, porque vem sendo discutida há muito tempo, e quão profunda vai ser, porque você está mexendo na poupança de aposentadoria de muitos grupos diferentes que têm muita capacidade de resistir", ressaltou.
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Mukherji disse que, por isso, a capacidade de articulação do governo será fundamental. "São assuntos difíceis de resolver, não são ideológicos, em que se você tiver uma mudança de orientação do presidente, eles vão ser resolvidos. Não, tem que ser negociados e implementados", afirmou.
"O Congresso brasileiro tem muitos partidos, nenhum deles próximo de ter maioria. Independentemente da ideologia do presidente, requer muito trabalho para construir coalizão. É o que estamos olhando."
O que importa para a agência, resumiu, é quão bem o governo vai conseguir executar as medidas, quanto tempo vai demorar para elas serem implementadas e quando elas vão começar a se refletir nos números que a S&P olha, como uma proporção estável da dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e uma taxa de crescimento estável para recuperar o desempenho ruim no passado. "Ceticismo e esperança são palavras certas aplicadas ao Brasil agora."
A agência projeta um crescimento de 2,4% do PIB brasileiro neste ano, um ponto percentual acima da expansão de 2018. Com informações da Folhapress.