Com restrições à Vale, minério de ferro atinge maior valor desde 2014

Nesta quinta, preços futuros do minério em Singapura chegaram a R$ 34 por tonelada

© REUTERS/Washington Alves

Economia MINERAÇÃO 08/02/19 POR Folhapress

As maiores restrições à operação de minas no Brasil após a tragédia da Vale em Brumadinho levaram o preço do minério de ferro aos maiores níveis desde 2014. Maior exportadora mundial, a Vale está com cerca de 18% de sua produção afetada e, segundo analistas, muitas incertezas pela frente. 

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Nesta quinta, (7), segundo a Bloomberg, os preços futuros do minério em Singapura chegaram a US$ 94 (R$ 349) por tonelada, alta de 5,8% em relação ao dia anterior e o maior desde agosto de 2014. Em duas semanas, a cotação teve alta de 24%.

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A alta reflete o temor sobre novas paralisações de operações no Brasil devido a um reforço na fiscalização após a tragédia que deixou, até o momento, 157 mortos e 182 desaparecidos. Nesta sexta, moradores de duas cidades em Minas tiveram que sair de suas casas devido a riscos em barragens próximas.

A ANM (Agência Nacional de Mineração) já anunciou que pretende exigir investimentos em todas as 88 barragens com alteamento a montante no país.

Analistas de mercado não descartam a possibilidade de novas paralisações e veem cenário de grande volatilidade para a Vale. "A visibilidade permanece baixa", escreveram Leonardo Correa e Gerard Roure, do banco BTG Pactual.

Na terça (5), a empresa teve que suspender por determinação judicial as operações na mina de Brucutu, com produção de 30 milhões de toneladas por ano. Na quinta, foi autuada em R$ 3,5 milhões e teve parte da área de seu porto em Vitória suspensa pela prefeitura da capital capixaba.

A companhia vem enfrentando dificuldades também na produção de níquel: nesta quarta (6), perdeu recurso para reabrir a mina de Onça Puma, no Pará, que é responsável por quase 10% do volume do mineral extraído pela empresa e está com atividades suspensas desde novembro de 2016.

A crise ocorre em um momento em que a mineradora vinha priorizando o retorno a seus acionistas, após um longo período de altos investimentos. Nos últimos três anos, a companhia distribuiu R$ 17,9 bilhões em dividendos e juros sobre o capital próprio.

Nesta quinta, as ações da empresa fecharam em queda de 2,05%, cotadas a R$ 41,59, 26% a menos do que na véspera do rompimento da barragem. Desde a tragédia de Brumadinho, o valor de mercado da empresa caiu R$ 75,1 bilhões, segundo contas da Economática. 

A Vale diz que pode compensar parte da perda de produção com o aumento das operações em outras minas, mas na terça (5), anunciou que declarou força maior em uma série de contratos, para evitar penalidades por eventuais falhas na entrega de minério a seus clientes.

"No fim do dia, o que está em jogo é: quanto tempo levará para o retorno da mina de Brucutu?", questionam os analistas do BTG. "No pior cenário, se as decisões [judiciais] não forem revertidas, a Vale pode ter que iniciar um novo processo de licenciamento do ativo, que pode levar vários meses", continuam.

A Vale alega que as barragens da mina de Brucutu são de tecnologia "convencional" e tenta reverter a medida. Além disso, diz, apenas uma das três estruturas continua recebendo rejeitos.

A decisão foi dada no mesmo dia em que a Vale anunciou a suspensão de duas outras operações em Minas, com capacidade para produzir 21 milhões de toneladas de minério, para retirar rejeitos de barragens desativadas, processo que deve afetar até 40 milhões de toneladas por ano.

Somando a capacidade de Brucutu, são 70 milhões de toneladas por ano, o equivalente a 18% da produção estimada pela companhia em 2018, de aproximadamente 390 milhões de toneladas -os números finais do ano ainda não foram divulgados.

O analista da Mirae, Pedro Galdi, acredita que a recomposição é possível e pondera que, mesmo que não seja, a companhia tende a se beneficiar da alta do preço do minério de ferro, que pode compensar parte da queda de vendas.

Mas alerta para os impactos no balanço de custos de remediação, indenizações e ações judiciais. "Vejo faturamento ainda forte, Ebitda (indicador que mede a geração de caixa) ainda forte, mas com surpresas por conta de provisões", avalia.

Por isso, o mercado não vê como provável o retorno dos dividendos ainda este ano, apesar de lucro recorrente (que desconta efeitos contábeis) de R$ 21,6 bilhões nos primeiros nove meses de 2018. Uma das primeiras medidas da direção da companhia após o rompimento da barragem foi anunciar a suspensão do pagamento aos acionistas e de bônus aos executivos em 2019. 

Sobre a mina de Onça Puma, a Vale informou que continua recorrendo da decisão de suspender as operações, com base em laudos elaborados por peritos judiciais que comprovariam que não há relação entre contaminação no rio Cateté e as atividades da mina. Com informações da Folhapress.

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