© Ricardo Moraes/Reuters
Uma menina de 11 anos foi morta e outros dois homens foram baleados por volta do meio-dia desta quinta (14) em uma favela no bairro Triagem, na zona norte do Rio de Janeiro.
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Segundo moradores, policiais militares fardados e à paisana chegaram na rua atirando a esmo. Jenyfer Cileni, 11, estava cortando legumes na porta de casa para ajudar a mãe, Katia, que tem um bar na comunidade.
Ela foi acertada no peito, e a bala saiu pelas costas, segundo a irmã Estefany Gomes, 23. Chegou a ser levada ao hospital Salgado Filho, também na zona norte, mas já estava morta quando deu entrada, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.
Um menino de cinco anos que estava perto de Jenyfer naquele momento descreveu a mesma cena à reportagem.
Segundo o relato dos moradores da favela Vila Nova Jerusalém, que foi ocupada há cerca de um ano por 315 barracos de madeira e fica embaixo de uma linha de metrô, os agentes entraram pela rua e pela linha do trem e começaram a atirar. O número de policiais não é consenso, mas varia entre 5 e 15.
Um homem que também estava em frente à própria casa foi baleado na perna, contam a esposa e o cunhado que não quiseram se identificar. Ele entrou no barraco assim que foi atingido, e um policial teria entrado junto com ele para atirar mais uma vez, mas se afastou quando moradores começaram a gritar.
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O homem é vendedor ambulante de água e refrigerante e cumpre pena usando uma tornozeleira eletrônica. Sua esposa, que havia acabado de voltar do hospital, disse que ele não corre risco de morte. "Mas está com um buraco enorme na perna, embaixo do joelho", afirmou.
A poucos metros dali um segundo homem que seria motoboy e estaria de passagem n comunidade também foi atingido duas vezes. Segundo um morador que também não quis se identificar, ele chegou a colocar as mãos para cima, mas foi baleado na perna e depois "à queima roupa" na barriga por um policial. O agente parou quando esse morador gritou "vai matar morador", diz ele.
Algumas horas depois, ainda era possível ver as marcas de sangue nos três locais onde houve vítimas. Havia furos em uma porta de madeira e em um cano que leva água às casas, que de acordo com os vizinhos não estavam ali antes.
Eles dizem que os policiais recolheram as cápsulas de bala. Um homem, porém, trouxe à reportagem duas delas que crianças acharam no chão da rua.
As três vítimas foram socorridas pelos próprios moradores - o segundo homem baleado, em um colchão. Eles contam ter expulsado os PMs e gritado ao longo de uma rua principal até que eles recuassem. Eles acusam os policiais de terem usado balas de borracha e spray de pimenta para conter a manifestação.
O grupo trazia um pano branco com os dizeres "paz, luto, justiça, Jenyfer". Dois ônibus chegaram a ser queimados. O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 14h30 e conteve o fogo.
Quando a reportagem chegou, por volta das 15h, algumas viaturas da PM estavam em uma rua que dá acesso à favela, incluindo um blindado, e um grupo de moradores se organizava para protestar novamente.
A Polícia Militar negou a versão dos moradores. Em nota, afirmou que equipes foram acionadas para checar um roubo de carga no condomínio Morar Carioca, em Triagem, no início da tarde, e já acharam a menina baleada quando chegaram. De acordo com a PM, não havia operação no local e nenhum policial efetuou disparos.
A corporação disse que, além de Jenyfer, os agentes encontraram na região um homem baleado carregando uma mochila com entorpecentes e uma pistola, além de outro que também havia sido atingido e foi socorrido pelos moradores.
A menina de 11 anos estudava na Escola Municipal Pareto, a um quilômetro dali. Sua mãe e uma de suas irmãs (eram cerca de dez filhos no total) passaram mal depois que ela morreu e tiveram que ser socorridas no hospital. "Chega a doer o coração. Ela era uma menina que não dava trabalho", disse um homem que a conhecia. Com informações da Folhapress.