© Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) pretende adotar a estratégia de isolar o ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, caso ele insista em permanecer no cargo em meio à crise das candidaturas laranjas do PSL reveladas pela Folha. Bebianno comandou o partido durante todo o período eleitoral de 2018.
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Aconselhado por aliados, Bolsonaro fez chegar a Bebianno seu desejo de que deixe o posto até segunda-feira (18), mas o ministro tem se articulado com advogados e integrantes do Legislativo e do Judiciário para conseguir uma sobrevida no governo federal.
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O ministro está sem agenda oficial desde terça-feira (12) e passou a manhã desta sexta-feira (15) no hotel onde mora em Brasília, em reunião com aliados.
Bolsonaro não gostaria de demiti-lo, mas forçá-lo a sair do cargo.
Bebianno, no entanto, resiste em tomar decisão enquanto não tiver um encontro pessoalmente com o presidente, o que não ocorreu desde que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, afirmou ser mentira declaração do ministro de que havia conversado com o presidente após revelação do esquema de candidaturas laranjas.
Caso o ministro mantenha a disposição de não pedir demissão, a estratégia de Bolsonaro, como definiu um assessor presidencial, é que ele seja mantido em uma espécie de "fritura em fogo baixo" até que se sinta desprestigiado o suficiente para deixar a função.
Diante do desgaste, o entorno do presidente, sobretudo o grupo ligado a seus filhos, defende que se inicie um processo de esvaziamento do ministro, excluindo-o de reuniões, agendas, viagens e eventos.
O ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), durante cerimônia de transmissão de cargo dos ministros do Palácio do Planalto Eduardo Anizelli - 2.jan.2019/Folhapress O ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), durante cerimônia de transmissão de cargo dos ministros do Palácio do Planalto Desde quarta-feira (13), quando recebeu alta médica e chegou à capital federal, Bolsonaro tem resistido a receber Bebianno no Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente.
Ele foi o único dos ministros da chamada cozinha do Palácio do Planalto, ou seja, mais próximos do presidente e que despacham na sede administrativa do Poder Executivo, que não entrou na agenda presidencial.
Nas palavras de um aliado de Bolsonaro, é uma forma de transformá-lo em uma espécie de "ministro de segunda classe", sem acesso direto ao presidente.
Em conversas com aliados, Bebianno já disse que só deixará o posto após uma conversa com Bolsonaro, mas, até o momento, não há perspectiva para que isso ocorra.
A avaliação no Palácio do Planalto é a de que o presidente se colocou em situação delicada ao endossar Carlos Bolsonaro e também desmentir publicamente seu ministro.
Sem o pedido de demissão, a única alternativa seria exonerá-lo, mas essa hipótese pode criar uma nova crise, desta vez com o Poder Legislativo.
A possibilidade de saída de Bebianno irritou parte da bancada federal do PSL, partido do presidente, e gerou insatisfação também junto a alguns líderes de siglas aliadas, que têm no ministro um interlocutor.
Segundo relatos, o presidente não esperava que, diante da crítica pública feita por seu filho, Bebianno fosse insistir tanto em seguir no posto.
Na manhã desta sexta-feira (15), o ministro se reuniu com assessores e aliados em um hotel próximo à residência oficial do presidente.
Caso Bebianno deixe a pasta, o governo avalia duas possibilidades: ou entregá-la a um parlamentar do PSL, tentando reduzir o dano com o episódio, ou extingui-la, passando as atribuições para a Casa Civil ou Secretaria de Governo.
Ata Segundo reportagem da Folha desta quinta-feira (14), ata de uma reunião da Executiva Nacional do PSL realizada em 11 de julho do ano passado mostra que o partido do presidente Jair Bolsonaro definiu Gustavo Bebianno, então presidente interino da sigla, como o responsável pela distribuição de verbas públicas a candidatos nos estados na eleição de 2018.
O encontro também decidiu os critérios eleitorais que deveriam balizar os repasses dos fundos de campanha.
Desde que a Folha revelou o esquema de candidaturas laranjas do PSL nos estados, Bebianno, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, tem dito que as decisões sobre chapas nos estados foram das direções regionais e que cuidou apenas da eleição presidencial.
"A responsabilidade cível e criminal é bem dividida. É dos diretórios regionais. A mim competiu trabalhar para eleição do presidente. Para eleição dos deputados estaduais, federais, senadores e governadores, cada diretório montou sua chapa e conduziu", disse à Folha na noite de terça-feira (12). Declaração similar foi dada a Globonews na noite de quarta-feira (13).
De acordo com a ata da reunião de julho, porém, houve uma votação e, por unanimidade, ficou decidido que caberia "ao presidente da Comissão Executiva Nacional do PSL decidir sobre a distribuição dos recursos."
Em seguida, o documento trata dos critérios que deveriam ser seguidos, "levando em consideração a prioridade de reeleição dos atuais mandatários, a probabilidade de êxito das candidaturas, bem como a estratégia político-eleitoral do partido em âmbito nacional, no tocante ao crescimento de suas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal".
A primeira reportagem da série sobre os laranjas do PSL mostrou que o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas que também receberam recursos volumosos do fundo eleitoral do PSL nacional e que não tiveram nem 2.000 votos, juntas.
Parte do gasto que elas declararam foi para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara dos Deputados.
Após essa revelação, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, afirmou que esse caso deveria ser investigado. A Procuradoria-Regional Eleitoral de Minas Gerais decidiu apurar o caso.
No último domingo (10), outra reportagem da Folha revelou que o grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O dinheiro foi liberado por Bebianno.
Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição. Na época, o hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência era presidente interino da legenda e coordenador da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), com foco em discurso de ética e combate à corrupção.
Apesar de ser uma das campeãs de verba pública do PSL, Lourdes teve uma votação que representa um indicativo de candidatura de fachada, em que há simulação de atos de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.
Essa candidatura laranja virou alvo da Procuradoria, da Polícia Civil e da Polícia Federal.
Na quarta (13), a Folha de S.Paulo revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada -sem maquinário para impressões em massa. O ministro nega qualquer irregularidade.
Já nesta quinta-feira (14), a Folha mostrou que uma gráfica de pequeno porte de um membro do diretório estadual do PSL foi a empresa que mais recebeu verba pública do partido em Pernambuco nas eleições.
Sete candidatos declararam ter gasto R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e partidário na gráfica Vidal, que nunca havia participado de uma eleição e funciona em uma pequena sala na cidade de Amaraji, interior de Pernambuco. Com informações da Folhapress.