© REUTERS / Clodagh Kilcoyne (Foto de arquivo) 
A saída prevista do Reino Unido da União Europeia ('Brexit') está levando a um "declínio palpável" da influência britânica na ONU, segundo diplomatas e outros representantes ouvidos no âmbito de um relatório acadêmico publicado nesta terça-feira (19) pela imprensa britânica.
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O relatório, desenvolvido por acadêmicos a pedido da organização Associação ONU-Reino Unido (UNA-UK, na sigla em inglês) e publicado hoje pelo jornal The Guardian, sugere que o Reino Unido (um dos cinco Estados-membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU) irá perder capital político neste órgão, que é composto por um total de 15 membros, e na Assembleia-geral das Nações Unidas, porque as suas ações e campanhas deixarão de estar automaticamente alinhadas com as da União Europeia (UE).
Sobre o caso concreto do Conselho de Segurança, o documento destaca que este aspecto "é particularmente importante" quando potências emergentes com recursos e importantes atores europeus, como é o caso da Alemanha, são eleitos (membros não-permanentes) para este órgão máximo das Nações Unidas (por ter a capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo).
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A Alemanha estará no biênio 2019-2020 no Conselho de Segurança da ONU.
De acordo com os intervenientes, a influência do Reino Unido no cenário mundial, e neste caso na organização com sede em Nova York, será mais fraca após a saída do bloco comunitário (anunciada para 29 de março) e só não será uma perda mais profunda por causa do compromisso de Londres de canalizar 0,7% do rendimento nacional bruto para a ajuda externa.
Aliás, os diplomatas e representantes ouvidos neste relatório recomendam, entre outros aspectos, que o Reino Unido mantenha de forma categórica o compromisso com a ajuda externa, "uma importante fonte de poder de persuasão e de influência".
O relatório publicado hoje foi desenvolvido por três acadêmicos de três universidades britânicas (Universidade de Manchester, Universidade de Southampton e Universidade de Leeds) em nome da UNA-UK e com o apoio da Academia Britânica.
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Durante um ano, estes acadêmicos entrevistaram 29 personalidades (diplomatas destacados ou que já estiveram destacados junto da ONU, representantes oficiais britânicos e elementos de organizações não-governamentais) e traçaram uma análise sobre as percepções e a reputação do Reino Unido dentro do sistema das Nações Unidas.
"A investigação apoia uma contestação de longa data da UNA-UK que o Reino Unido precisa de demonstrar o seu valor acrescentado no sistema das Nações Unidas e adotar uma política externa estabelecida em princípios e valores, se quiser manter os seus níveis atuais de eficácia e de impacto nas Nações Unidas", refere o documento.
O relatório indica que o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Jeremy Hunt, precisará de trabalhar ainda mais para destacar uma diplomacia fundamentada em valores e um compromisso com o multilateralismo, de forma a manter a força de influência do Reino Unido.
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A saída do Reino Unido da UE está marcada para 29 de março, fim do prazo de dois anos previsto no artigo 50.º do tratado europeu para o processo de negociações.
O processo de saída está, no entanto, num impasse, depois de o Acordo de Saída negociado por Londres com Bruxelas ter sido rejeitado no parlamento por uma margem de 230 votos. Com informações da Lusa.