© Andres Martinez Casares / Reuters
A ajuda humanitária internacional junto à fronteira com a Venezuela está se tornando uma arma numa disputa política cujo final é ainda uma incógnita.
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O presidente eleito Nicolás Maduro e o autoproclamado Presidente Juan Guaidó são as figuras desta disputa, que nas últimas horas conheceu desenvolvimentos dramáticos e que incluem o encerramento de postos fronteiriços e a concentração de efetivos militares ao longo da linha divisória comum, numa tensão crescente.
Juan Guaidó, que partiu na quarta-feira (20) para a fronteira com a Colômbia, a fim de tentar desbloquear a entrada de ajuda humanitária por parte dos militares de Maduro, já está em Ureña, que fica a pouco mais de sete quilômetros do centro da cidade colombiana de Cúcuta.
Trata-se de uma zona em que as divergências são substanciais e vão além da hora em que os relógios marcam, já que a diferença no fuso horário entre ambas é de uma hora.
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Estas duas cidades são por estes dias o cenário da disputa política desencadeada em janeiro, quando Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional, se autoproclamou presidente interino, num ato público em que afirmou não reconhecer legitimidade ao presidente eleito, Nicolás Maduro.
A 10 de janeiro, Maduro foi empossado à revelia do que está previsto na Constituição do país, na sequência de um processo eleitoral não reconhecido como livre e transparente.
Guaidó garante que no sábado conseguirá abrir um corredor para a entrada de alimentos e medicamentos oriundos dos EUA, "por ar, por mar e por terra".
A resposta do governo de Nicolas Maduro não se fez esperar, através do ministro da Informação, Jorge Rodriguez, que anunciou para sábado e domingo um megashow musical, na fronteira com a Colômbia, para angariar ajuda para a população necessitada.
Também no sábado, mas do lado colombiano da fronteira da ponte de San Martin, o bilionário Richard Branson vai organizar um evento, com um programa recheado de estrelas mundiais da música, que espera reunir 300 mil pessoas e conseguir 100 milhões de dólares para prestar ajuda aos venezuelanos.
Mas se a ajuda humanitária parece garantida, a incógnita é saber como fazê-la entrar na Venezuela, depois de o governo de Nicolás Maduro ter fechado as fronteiras à entrada de medicamentos e alimentos oriundos dos EUA.
"Não vou permitir o espetáculo da ajuda humanitária. Não precisamos de esmolas", afirmou esta semana o presidente eleito, explicando por que colocou obstáculos nas fronteiras para impedir a chegada de caminhões com as doações para a população.
Maduro afirmou mesmo que a ajuda oriunda dos EUA eram um engodo para abrir caminho a uma intervenção militar norte-americana, numa leitura política que teve a concordância diplomática do governo russo.
Na quarta-feira, as autoridades russas confirmaram o envio de um carregamento de medicamentos e de equipamento médico. Segundo Maduro, estes materiais destinam-se a três hospitais em Caracas e no Estado de Bolívar.
Maduro confirmou essa ajuda russa, de cerca de 272 toneladas de bens, reiterando que manterá o bloqueio à ajuda norte-americana.
Diante desse bloqueio, o autoproclamado presidente interino garantiu que encontraria forma de contornar a situação e prometeu estar amanhã (23), "na rua", a coordenar o corredor para a ajuda humanitária.
Na quarta-feira (20), Guaidó deu indicações às Forças Armadas para no sábado deixar entrar as doações internacionais, dizendo que tinham três dias para "seguir as ordens do presidente encarregado da República".
Guaidó afirmou que a ajuda entrará "por ar, por mar e por terra", sem especificar os pontos exatos da entrada dos alimentos e medicamentos.
Também ontem (21), Maduro fechou a fronteira do país com o Brasil. Ele vê a oferta dessa ajuda como uma interferência externa na política da Venezuela.