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PATRÍCIA CAMPOS MELLO - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apenas paramilitares e milícias estão agindo na repressão de civis na Venezuela, e isso indica que os militares venezuelanos não estão dispostos a apoiar a violência, afirmou o chanceler Ernesto Araújo em entrevista nesta segunda-feira (25), em Bogotá.
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O ministro acompanha o vice-presidente, Hamilton Mourão, em reunião do Grupo de Lima para discutir a crise venezuelana. O encontro tem a presença também do vice-presidente dos EUA, Mike Pence.
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"Toda a repressão mais brutal que está havendo perto das fronteiras com Colômbia e Brasil vem de grupos paramilitares, milícias, e não do Exército", disse Araújo a jornalistas. "Isso é um indicativo de que não há disposição das Forças Armadas da Venezuela de amparar essa repressão."
De acordo com o ministro, o processo de deserções de militares venezuelanos só está começando.
"Já há mais de 100 membros das forças venezuelanas que passaram para o lado de Guaidó, isso será um passo fundamental", disse, referindo-se ao autoproclamado presidente interino Juan Guaidó, reconhecido pelo Brasil e outros países.
"É um processo que está começando, e toda a pressão diplomática que estamos fazendo vai incentivar que cada vez mais membros das Forças Armadas passem para o lado do Guaido."
Os militares brasileiros consideram fundamental que haja uma massa crítica de oficiais desertando para desestabilizar o regime, mais isso ainda não está ocorrendo.
Embora Guaidó tenha feito um apelo para que o Brasil explore todas as opções para ajudar a derrubar o governo Maduro, Araújo voltou a afirmar que a opção militar está fora de cogitação.
"A força militar está totalmente descartada, confiamos na possibilidade de esforço diplomático do Brasil e outros países, a situação já é totalmente diferente, o povo venezuelano está se mobilizando, e a mobilização só tem a crescer, apoiada pela nossa pressão política."
Indagado se teria se mostrado disposto a abrigar militares americanos no Brasil para fazer a ajuda humanitária chegar a seu destino, Araújo negou.
"Não está absolutamente em cogitação e eu nunca falei isso; não tem a menor possibilidade."
Segundo o chanceler, a prioridade no momento é fazer chegar na Venezuela a ajuda que já está em Roraima, mas isso "depende da situação no terreno".
O ministro admitiu, no entanto, que o governo brasileiro não tem nenhum canal de comunicação com o governo Maduro.
"Não temos nenhum diálogo político ou diplomático com o governo Maduro, na questão da fronteira ou qualquer outra, não consideramos mais que o regime Maduro seja governo, todo contato é com Guaidó."