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LUCAS NEVES - PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - O líder da oposição no Parlamento britânico, Jeremy Corbyn, anunciou nesta segunda-feira (25) que seu partido, o Trabalhista, irá apoiar a realização de uma nova consulta popular sobre o brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
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O endosso a um novo plebiscito vinha sendo cobrado por algumas alas da legenda há meses -outras, incluindo a de Corbyn, opunham-se à sinalização por temerem que ela fosse interpretada como uma "virada de mesa" com o intuito de anular a vitória do "leave" (sair) na votação de junho de 2016.
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Por isso, o líder oposicionista vinha tentando emplacar uma espécie de versão trabalhista do brexit em vez de buscar congelar ou reverter a despedida britânica da UE.
Em janeiro deste ano, assim que o "acordo de divórcio" foi submetido ao Legislativo pela primeira-ministra, Theresa May, e foi rejeitado, Corbyn apresentou uma moção de desconfiança.
Se esta tivesse obtido maioria no plenário, o que não aconteceu, teria sido aberto o caminho para eleições antecipadas, as quais poderiam levar os trabalhistas de volta à chefia de governo, depois de quase nove anos.
Como o plano de enfrentamento não prosperou, Corbyn optou pelo diálogo. Apresentou o roteiro trabalhista para um "brexit leve", com tópicos que incluíam a manutenção do Reino Unido na união aduaneira do bloco europeu, uma relação próxima com o mercado comum e mais alguns alinhamentos legais e normativos com a UE.
Era tudo o que May não queria ouvir. Permanecer na união aduaneira significaria que Londres não poderia desenvolver uma política comercial independente, ou seja, fechar acordos com quem bem entendesse -justamente uma das "linhas vermelhas", um dos pontos inegociáveis da visão que a conservadora tem do brexit.
Mesmo uma união aduaneira temporária com o consórcio europeu já causa arrepios na ala mais radical do partido governista, pois é entendida como uma "armadilha" da UE para manter o Reino Unido sob sua aba por tempo indeterminado.
É justamente esse ponto que vem travando a aprovação do acordo no Parlamento britânico, já que o pacto prevê a instauração de uma zona tarifária comum, em 2021, para evitar controles rigorosos de mercadorias na fronteira entre as Irlandas, antiga região conflagrada -mas isso só se até lá os dois lados não tiverem encontrado uma forma de realizar transações comerciais preservando a "divisa invisível".
Corbyn pretende insistir na tática do "brexit suave" antes de jogar o peso do Partido Trabalhista na campanha por uma nova consulta popular.
Na próxima quarta-feira (27), quando os parlamentares poderão apresentar emendas ao "script" de próximos passos do brexit que May terá defendido na véspera, ele venderá aos colegas a sua versão do pacto de saída.
Corbyn também disse que seu partido irá apoiar a mais falada das emendas, que deve ir a voto na quarta. É aquela que propõe que o governo (que controla a pauta do Legislativo) dê aos parlamentares tempo para aprovar uma lei que forçaria o Executivo a adiar o brexit (programado para 29 de março) caso não haja acordo aprovado até essa data-limite.
"Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar o 'no deal' [saída sem acordo] e nos opormos a um brexit deletério do Partido Conservador, baseado em um acordo amplamente rejeitado", afirmou Corbyn.
Na prática, o partido oposicionista só deve mesmo entrar de cabeça na campanha por um novo plebiscito na próxima vez em que o governo abrir seu roteiro brexitiano a emendas do Parlamento, provavelmente em meados de março.
Ainda há dúvidas se os trabalhistas advogariam por uma consulta em cima do acordo de May ou por uma votação entre as versões trabalhista e conservadora do pacto.
Se o governo atravessa uma fase turbulenta diante das dificuldades em aprovar o divórcio europeu, a situação de Corbyn não está muito mais confortável. Na semana passada, nove parlamentares deixaram o Partido Trabalhista por, entre outras coisas, discordarem da maneira como o líder formatou o discurso da legenda em relação ao brexit.