© Nguyen Huy Kham
FLAVIA LIMA - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A prioridade do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é reorganizar seu braço de participações em empresas, vendendo principalmente ações da Petrobras e usando os recursos para investir em infraestrutura, disse nesta terça-feira (26) Joaquim Levy, o presidente do banco.
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Segundo Levy, atualmente o capital do banco está aplicado em algo que não tem razão de continuar. "O banco não precisa carregar R$ 40 bilhões de Petrobras", disse.
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"Hoje estou usando o capital do banco para sustentar a Petrobras e isso acabou. A Petrobras não precisa da gente e o mercado está ansioso para comprar Petrobras. Então, porque vou segurar o papel da Petrobras quando tem outras coisas que quero aplicar?", questionou.
A carteira de investimentos da BNDESPar totaliza hoje, segundo Levy, R$ 117 bilhões reais.
A prioridade do BNDES será facilitar o investimento em infraestrutura feito por investidores locais e estrangeiros, que, segundo ele, substituirá as exportações à China como alavanca para o crescimento econômico.
Levy disse ainda que a exposição do banco ao crédito dado às grandes empresas está naturalmente desaparecendo, também porque as vantagens de taxas abaixo do mercado diminuíram.
"Não temos mais subsídios e Bonnie and Clyde não vêm nos visitar", disse em referência ao famoso casal de criminosos americanos do início do século 20. Segundo ele, o crédito subsidiado às grandes empresas é uma página virada com a criação da taxa de longo prazo, que acompanha o custo de captação do governo.
O financiamento dessas grandes indústrias, afirmou, deverá ser feito por debêntures de até 15 anos, enquanto o banco deve focar em pequenas e médias empresas.
Ele citou como bons exemplos os setores de energia eólica no Rio Grande do Norte, acesso à internet no sertão nordestino, investimentos em gás e álcool no setor de mobilidade e saneamento.
VENEZUELA
Levy disse ainda que tem expectativa de que parte dos recursos emprestados para países da América Latina deve ser recuperada, já que alguns empréstimos vêm sendo pagos.
No caso da Venezuela, disse ele, essa devolução vai envolver negociação internacional e algumas coisas devem acabar no âmbito do Clube de Paris - clube de países focados em ajuda a países em dificuldades financeiras.
Com relação ao setor agrícola, Levy disse que o BNDES é o parceiro número um da produtividade da agricultura, mas que participa do financiamento à compra de equipamento e não do custeio -sugerindo que alguns produtores acabam direcionando empréstimos obtidos a taxas mais baixas para investimentos em private bank.
Ele afirmou que o "desmame" do setor agrícola em relação a subsídios tem que acontecer, fazendo referência à fala da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, segundo a qual o "desmame" de subsídios não pode ser radical.
Com relação à "caixa preta" do BNDES, Levy disse o banco tem revelado alguns elementos que levaram a "acidentes". "Está tudo no site", disse.
Para Levy, a reforma da Previdência é fundamental porque dá estabilidade e previsibilidade à economia, o que permite que investidores olhem para papeis mais longos.