Cabral diz que poder é vício e cita caixa 2 a Paes

Cabral afirmou que o ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB), preso desde novembro, também recebia propina

© Getty Images / Ian Walton

Política Depoimento 26/02/19 POR Folhapress

 

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) afirmou em depoimento nesta terça-feira (26) que pediu propina por apego a poder e dinheiro, o que para ele se tornou um vício.

O emedebista disse que decidiu confessar a cobrança de propina em respeito à sua família e pelo sentido histórico dos processos a que responde. "Em nome da minha mulher, da minha família e da história, decidi falar a verdade. Hoje sou um homem muito mais aliviado", disse ele ao juiz Marcelo Bretas.

Cabral afirmou que o ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB), preso desde novembro, também recebia propina. Envolveu ainda outros ex-secretários que já foram alvos de investigações, como Régis Fichtner (Casa Civil).

 

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Ele afirmou que o ex-prefeito Eduardo Paes, que foi seu secretário de Esportes, não recebeu suborno. Disse, porém, que ajudou a arrecadar pelo menos R$ 4 milhões para o caixa dois de sua campanha eleitoral em 2008, quando disputou a Prefeitura do Rio.

Cabral também negou que sua mulher, Adriana Ancelmo, fizesse parte da organização criminosa descrita pela Procuradoria. "Prejudiquei muito minha mulher, inclusive por não ter tido a sensatez de ouvir o senhor na primeira audiência, quando o senhor disse para mim: 'É a sua oportunidade de falar'. Eu contaminei esse escritório [de Adriana] quando pedi repasse de caixa dois que ela não sabia", disse.

O ex-governador também afirmou que Xuxa e João Roberto Marinho foram clientes de sua mulher e podem testemunhar sobre sua eficiência.

Cabral foi interrogado, a pedido de sua defesa, na ação penal da Operação Fatura Exposta, que investiga propina no setor de saúde. Neste caso, ele foi denunciado sob acusação de ter recebido R$ 16 milhões.

 

 

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O emedebista decidiu confessar ter cometido crimes após passar mais de dois anos negando. Antes, a tese da defesa era de que ele usara em benefício próprio sobras de caixa dois de campanha.

Questionado por Bretas sobre os motivos para não ter assumido o recebimento de propina anteriormente, Cabral respondeu que "dói muito" admitir corrupção.

Cabral disse a Bretas que acertou uma cobrança de 5% de propina sobre contratos na Secretaria de Saúde junto com o ex-secretário Sérgio Côrtes, dos quais 3% ficaria com ele e 2% com seu subordinado.

"Ao anunciá-lo [como secretário], eu cometi a primeira ação grave e totalmente descabida para um chefe de estado. Eu o apresentei a um empresário, que era o Arthur Soares, que na ocasião já liderava a gestão de serviços. Fiz questão de dizer 3% para mim e 2% para você em relação aos serviços da área de saúde. Esse meu erro de postura, de apego a poder, dinheiro, a tudo isso... É um vício", disse ele.

O emedebista confirmou ainda ser dono dos cerca de R$ 300 milhões entregues pelos doleiros Renato e Marcelo Chebar. Negou, porém, ter arrecadado R$ 16 milhões como acusado neste caso pelo MPF.

Cabral disse acreditar, ainda, que houve esquema de corrupção em OSS (Organizações Sociais de Saúde) envolvendo figuras religiosas como o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal dom Orani Tempesta.

"Não tenho dúvida que deve ter havido esquema de propina com a OS da Igreja Católica, da Pró-Saúde. O dom Orani devia ter interesse nisso, com todo respeito ao dom Orani, mas ele tinha interesse nisso (...) Essa Pró-Saúde com certeza tinha esquema de recursos que envolvia, inclusive, religiosos", afirmou.

 

 

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Ao longo de 14 depoimentos, Cabral já havia classificado acusação do Ministério Público de "maluquice".

O ex-governador decidiu mudar a estratégia em dezembro ao entregar seu caso ao advogado Márcio Delambert, o quinto a assumir sua defesa desde a prisão, em 2016.

Por meio de nota, Paes afirmou que "todos os valores recebidos durante a campanha de 2008 foram devidamente declarados na Justiça Eleitoral, sendo todos aprovados."

"Como afirmou em seu depoimento o próprio Sérgio Cabral, aliás como já vários delatores o fizeram anteriormente, Eduardo Paes jamais pediu qualquer tipo de propina", disse.

A Pró-Saúde disse, em nota, que "tem colaborado com as investigações e, em virtude do sigilo do processo, não se manifestará sobre os fatos".

Cabral já foi condenado em nove processos com penas somadas de 198,5 anos.

 

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