Em dois meses, Moro coleciona recuos após ordens de Bolsonaro

As "tratoradas" de Bolsonaro não atingem apenas Moro, no entanto

© Reuters

Política ministro 01/03/19 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Dois meses após tomar posse com status de superministro, Sergio Moro já coleciona derrotas e recuos que foi obrigado a fazer publicamente após contraordens do presidente Jair Bolsonaro.

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Nesta quinta-feira (28), o ministro da Justiça teve de recuar, a contragosto, na nomeação da especialista em segurança pública Ilona Szabó, que ele havia indicado para ser membro suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.

Antes desse caso, ele já havia deparado com outros episódios de constrangimento, o que tem gerado desgaste e irritado o ministro. Moro, segundo assessores próximos, passou a quinta-feira de cara fechada.

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O ministro aceitou deixar a carreira de juiz federal para assumir o ministério sob o argumento de que estava "cansado de tomar bola nas costas". Mas em 60 dias de governo, tem enfrentado problemas parecidos.

Logo nos primeiros dias no cargo, Moro recebeu a missão de concretizar mudanças na legislação para dar aos cidadãos mais acesso à posse de armas, bandeira de Bolsonaro durante a campanha presidencial.

Desde o começo, o ministro tentara se desvincular da autoria da ideia, dizendo nos bastidores que apenas estava cumprindo ordens do presidente.

Na elaboração do decreto, que foi publicado em janeiro, algumas de suas sugestões foram ignoradas, como o número de armas que poderia ser registrado por pessoa –ele defendeu que tinham que ser apenas duas, e não quatro, como acabou estabelecido no decreto sobre o assunto.

Em outro caso, mais recente, o ministro viu o governo interferir naquilo que mais se dedicou desde a posse, seu pacote anticrime, que reúne projetos de leis apresentados ao Congresso em fevereiro.

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Entre as medidas, Moro incluiu a criminalização do caixa dois. Dias depois, no entanto, soube que, por decisão do Palácio do Planalto, o tema iria tramitar separadamente do restante das propostas, que incluem mudanças na legislação sobre crime organizado, corrupção e tráfico de drogas.

Mesmo quando não teve de recuar, o ministro deu sinais de fragilidade quando a palavra do presidente foi mais forte do que a dele, como no caso do escândalo de candidaturas-laranjas, revelado pela Folha de S.Paulo.

Enquanto Moro deu declarações evasivas, dizendo que a Polícia Federal iria investigar se "houvesse necessidade" e que não sabia se havia consistência nas denúncias, Bolsonaro determinou dias depois, de forma enfática, a abertura de investigações para apurar o esquema.

No episódio de Ilona Szabó, o ministro ainda teve de acompanhar declarações públicas que explicitaram sua derrota, como entrevistas da especialista e mensagens dos filhos do presidente.

"Meu ponto de vista é como essa Ilana Szabó aceita fazer parte do governo Bolsonaro. É muita cara de pau junto com uma vontade louca de sabotar, só pode", escreveu o senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), filho de Jair Bolsonaro, em uma rede social.

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O próprio ministério admitiu a derrota em nota: "Diante da repercussão negativa em alguns segmentos, optou-se por revogar a nomeação, o que foi previamente comunicado à nomeada e a quem o Ministério respeitosamente apresenta escusas."

Mesmo com o recuo, Moro defendeu o convite que havia feito dizendo na nota que foi motivado "pelos relevantes conhecimentos da nomeada na área de segurança pública e igualmente pela notoriedade e qualidade dos serviços prestados pelo Instituto Igarapé".

Ilona Szabó caiu porque é contrária ao afrouxamento das regras de acesso a armas, política do governo Bolsonaro. Também já criticou em artigo o pacote anticrime de Moro ao considerar preocupantes, entre outras coisas, as medidas que tendem a ampliar o direito à legítima defesa.

"O sentimento é de que quem ganha é a polarização, perde a pluralidade e o debate de ideias, tão fundamentais numa democracia", disse a especialista à Folha de S.Paulo.

As "tratoradas" de Bolsonaro não atingem apenas Moro, no entanto.

Vários ministros já foram derrotados e tiveram que anunciar recuos, como Gustavo Bebianno, que comandou a Secretaria-Geral da Presidência e foi demitido após o escândalo das candidaturas de laranjas.

Em áudios vazados publicados pela revista Veja, por exemplo, Bolsonaro manda uma mensagem a Bebianno simplesmente cancelando uma viagem dele e de outros ministros que já estava marcada para a Amazônia.

Paulo Guedes (Economia), que também entrou com status de superministro, é outro que já teve contratempos com o Planalto.

O principal deles envolve a reforma da Previdência. O presidente afirmou nesta quinta (28) que o governo pode alterar a proposta de idade mínima para mulheres de 62 anos para 60 anos.

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Os recuos do superministro

Moro topou largar a carreira de juiz federal, que lhe deu fama de herói pela condução da Lava Jato, para virar ministro da Justiça. Disse ter aceitado o convite de Bolsonaro, entre outras coisas, por estar "cansado de tomar bola nas costas". Tomou posse com o discurso de que teria total autonomia e com status de superministro

Decreto das armas

Seu primeiro revés foi ainda em janeiro. O ministro tentou se desvincular da autoria da ideia de flexibilizar a posse de armas, dizendo nos bastidores estar apenas cumprindo ordens do presidente. Teve sua sugestão ignorada de limitar o registro por pessoa a duas armas –o decreto fixou o número em quatro

Caixa dois

Por ordem do Palácio do Planalto, a proposta de criminalização do caixa dois, elaborada pelo ministro da Justiça, vai tramitar separadamente do restante do projeto anticrime

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Ilona Szabó

Moro teve de demitir a especialista em segurança pública por determinação do presidente, após repercussão negativa da nomeação. Ilona Szabó já se disse contrária ao afrouxamento das regras de acesso a armas e criticou a ideia de ampliação do direito à legítima defesa que está no projeto do ministro

Fracassos na Esplanada

Outros ministros também tiveram derrotas e tiveram que anunciar recuos publicamente. Gustavo Bebianno, ex-Secretaria-Geral da Presidência, e Paulo Guedes, da Economia

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