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RAPHAEL HERNANDES (FOLHAPRESS) - Dentro de um cubo de isolamento acústico, raios de luz são disparados à queima-roupa contra uma esponja do tamanho da unha de um dedo mínimo. Um microfone voltado à ação está ligado a duas caixas de som do lado de fora, de onde se toca um barulho distorcido: "Come on baby light my fire", ouve-se. É a banda The Doors. A música está sendo transformada em luz, que é absorvida e convertida em som por uma esponja de grafeno.
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O grafeno é o composto mais fino e mais forte conhecido pela humanidade, trata-se de cristais feitos de carbono, como o diamante e o grafite, e tem a espessura de um átomo. Além de tudo, ele é bastante flexível. Com isso, tem potencial para uma ampla gama de aplicações.
Esse é um dos protótipos com o nanocomposto exibidos pela Graphene Flagship, aliança da União Europeia para estimular pesquisa com grafeno no continente e levá-lo ao mercado até 2023. A mostra aconteceu no Mobile World Congress, evento de tecnologia móvel que terminou na última quinta-feira (28), em Barcelona.
A ideia é que essas esponjas musicais cubram paredes inteiras de casas e as transformem em caixas de som. A conversão de música para luz é feita por um programa de computador. Francesco de Nicola, pesquisador do Instituto Italiano de Tecnologia e responsável pela façanha, diz que a luz usada não precisa ser visível aos olhos humanos -ou seja, não precisa transformar a sala de casa numa balada se não quiser. E, sobre a qualidade do som, justifica dizendo que levou uma quantidade muito pequena para a demonstração. O problema não existiria em escala maior, afirma.
O protótipo já está pronto para a produção em massa, diz. Agora, só falta conseguir um investidor. Para isso, estão criando uma startup. Também da área do som vem o único produto baseado em grafeno que já é comercializado. Os fones de ouvido MediaDevil Artisanphonics CB-01 Nanene usam a substância no seu interior. São mais leves que o convencional e o fabricante garante maior qualidade de som. Custam 50 euros (R$ 214).
Outros protótipos, em diferentes estágios de desenvolvimento, incluem tinta e concreto condutores de eletricidade, baterias flexíveis, detector de variação de pressão ultrassensível, tintas sensíveis ao toque (tanto para paredes quanto para tecidos) e supercapacitores (equipamento capaz de armazenar grandes quantidades de energia e liberá-la rapidamente).
No passado, um dos impeditivos para uma adoção mais ampla do grafeno era não conseguir produzir o nanocomposto em massa. Segundo Andrea Ferrari, diretor do centro sobre grafeno da Universidade de Cambridge, já isso é possível. "A questão agora é se é possível produzir grafeno com propriedades específicas para produtos específicos", afirma.
A descoberta de método de extração de grafeno, em 2004, envolvia o uso de fita adesiva sendo colocada repetidamente contra um pedaço de grafite e rendeu prêmio Nobel para Andre Geim e Sir Konstantin Novoselov, em 2010. O segundo estava presente no estande durante a visita da reportagem, na terça-feira (26). Produzia uma instalação de arte usando o composto.