Para governo Bolsonaro, Ford deve ação social a SP por subsídio

Por ter se beneficiado de recursos públicos, governo federal entende que a empresa deve assumir a responsabilidade no impacto socioeconômico da decisão de fechar a fábrica

© Paulo Whitaker/Reuters

Economia debate 09/03/19 POR MARIANA CARNEIRO

 

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O governo quer que a Ford arque com os efeitos negativos provocados pelo fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), anunciado para o fim do ano.

Em uma reunião entre representantes da empresa, do governo federal, do Estado e da prefeitura, na última quinta (7), a Ford foi cobrada por ter se beneficiado de subsídios que, só na esfera da União, somaram R$ 7,5 bilhões nos últimos cinco anos.

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Por ter se beneficiado de recursos públicos, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) entende que a empresa deve assumir a responsabilidade no impacto socioeconômico da decisão de fechar a fábrica, que pode desempregar 2,8 mil funcionários diretos e 22 mil indiretos, segundo o sindicato local.

À reportagem, nesta sexta (8), o secretário de Produtividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, afirmou que empresas beneficiadas por incentivos têm que ter uma avaliação mais rigorosa do impacto social de suas ações.

"É uma situação diferente quando uma empresa recebeu um subsídio e quando uma empresa não recebeu um subsídio", afirmou. "A Ford recebeu bilhões em subsídios para que fossem criados estes empregos. Logo, seria importante que qualquer decisão no sentido contrário ao objetivo dos subsídios concedidos que a empresa também considerasse o seu impacto."

O secretário reafirmou que o governo não pretende interferir na decisão da empresa de fechar, vender ou mesmo de reduzir a operação em São Bernardo. Mas espera que seja traçado um plano de mitigação do impacto social para cada um destes cenários.

"Quando uma empresa pede um subsídio, ela conversa com o governo, trabalha junto, então qualquer decisão posterior que envolva uma reversão desse investimento, que gere impactos contrários aos dos subsídios, tem que conversar", disse. "Isso não é privilégio nosso. Quando a Ford fechou fábricas em Detroit [EUA], houve muita conversa sobre como minimizar o impacto no entorno."

Pessoas presentes à reunião narram que o clima foi tenso, pois a Ford defendeu que sua responsabilidade recairia apenas sobre funcionários, no que foi contrariada por representantes do setor público.

A Prefeitura de São Bernardo, por exemplo, está preocupada com os efeitos financeiros que já estão sendo provocados pelo fechamento, como o atraso de um empréstimo que seria usado em serviços públicos na cidade.

Segundo um dos presentes à reunião, Costa sublinhou que a unidade da Ford em Camaçari (BA) continua recebendo benefícios federais, por meio de incentivos tributários e pela recente prorrogação do regime especial automotivo do Nordeste até 2025.

A declaração foi interpretada como uma ameaça velada de retirada de incentivos. Conforme um dos presentes, os executivos da Ford disseram ao secretário que, se essa fosse a decisão do governo, seria necessário fazer contas para verificar a viabilidade da operação em Camaçari.

À reportagem Costa negou qualquer ameaça. Segundo ele, o governo deixou claro que espera uma "uma atitude social e eticamente responsável".

"Não tem nada a ver uma coisa com a outra [São Bernardo e Camaçari]. Não vinculei [as duas unidades] e tenho certeza de que esta não foi a mensagem percebida pela Ford", disse. "Agora, estamos deixando claro que gostaríamos de receber da Ford o plano de mitigação do impacto social". Procurada, a Ford não quis comentar. Com informações da Folhapress.

 

 

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